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Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorancia) #2 (2014) | O Filme Onírico do Ano


    A lista de indicados ao melhor filme do ano - Oscar 2015, possui diversos filmes com estilo. Enquanto um foi filmado durante 12 anos e outro que conta uma estória dentro de outra estória, Birdman, claramente se releva como o mais requintado de todos. Talvez por conta da montagem “inovadora” ou por causa da trama não definida claramente. Independente da razão, espanta tanto alvoroço e elogios que usam o termo "revolucionário" ou "estupendo" para filmes que são apenas bons.
    Michael Keaton interpreta um ator que ficou conhecido mundialmente por representar um personagem de quadrinhos na década de 90. Em seguida, sua carreira foi de mal a pior, justamente por um problema claro em Hollywood atualmente, e isto é: o fim e a tendência ao fracasso constante na carreira após ter interpretado apenas um personagem. Desta forma, o ator procura a todo custo ressurgir das cinzas (fênix é um pássaro) e se firmar como um artista de respeito e para isto, ele atua, roteiriza e dirige uma peça, na Broadway.
    Observando de maneira realística, eu contei a história do ator logo após os filmes do Batman. O que se adiciona dentro da trama são os bastidores. Cito como exemplo, o que acontece nos corredores de uma produção, as intrigas, os romances, as críticas e tudo isto com uma pitada de fantasia carnavalesca e com uma montagem que, de fato, é muito bem feita. Tornando o filme em uma bela homenagem a tudo relacionado à arte. De preferência: aos atores.  
    A grande estrela do filme é o diretor que possui alguns dos maiores superestimados filmes mexicanos. O diretor usa neste, como novidade em sua filmografia, um pseudo único take o filme inteiro. O filme é todo rodado e editado para parecer uma cena só, garantindo até mesmo mudanças de climas e cenários de forma extremamente imaginativa. Contudo, o efeito que, apesar de funcionar e ser incrível, possui lá suas formas claras de encontrar os cortes. Não que isso seja o problema, mas o que difere esse dos demais do Oscar é esta longa tomada. Imagine um filme comum e com cortes tradicionais... Será que sem isto, Birdman seria o mesmo? Festim Diabólico de Hitchcock e Arca Russa de Aleksandr Sokurov ganharam bem menos por isto. E todos usaram esta técnica. 
    Retornando aos elogios; Para o filme parecer apenas uma única longa cena, os atores precisam se esforçar. E o elenco é incrível. Michael Keaton merece receber sim, um Oscar de melhor ator pelo seu esforço de mudança de voz, psicológica e pelo humor de interpretar ele mesmo. E isso não se afasta dos demais. Edward Norton interpreta um ator que possui talento invejável, mas que se declara como deveras complicado de se trabalhar. Ora, ele mesmo. E o elenco de apoio é todo excelente. Com atores de comédia fazendo drama e os de drama nos fazendo rir. Mérito que o American Hustle do ano passado não conseguiu. Por fim, neste êxito, posso afirmar que o elenco do filme é sensacional.
    E partindo, finalmente, apenas para a parte técnica, o filme merece, de fato, uma atenção maior. O diretor consegue varias proezas ao realizar a obra. Cada detalhe de uma voz, de um figurino e de outro elemento, como a trilha sonora de percussão que é cansativa, mas super criativa, ou a fotografia do inolvidável Emmanuel Lubzki. E assim, o diretor cresce em sua filmografia, com apoio de tudo, e do seu brilhantismo de final ambíguo. Desta forma, o filme se revela como o mais estiloso do Oscar, do ano e da carreira do diretor.
    Contudo, ainda falta, infelizmente, uma noção melhor de como trabalhar com temas importantíssimos e atuais. Acompanhe o raciocínio, no próximo paragrafo, se viu o longa-metragem. 
    Apesar de toda homenagem aos atores e da carta de declaração ao cinema, teatro e a arte como um todo, faltou-lhe criatividade para tratar de assuntos que o diretor considera reprovável. Como exemplo, discutir sobre atores pops que desempenham alguns personagens de heróis e que possuem um reconhecimento absurdo dos admiradores da arte, e outros que para alguns, nada acrescentam para o cinema, ou então o modo de como o atual se destaca na vida das pessoas mais velhas (analise o texto da não tão desenvolvida personagem de Emma Stone sobre o seu pai não existir por não possuir um Facebook e perceba como ele é afetado), ou o olhar do velho sobre o novo em relação ao Twitter e Youtube, que de repente, tornam alguém esquecível em uma pessoa conhecida novamente, e por fim o olhar maçante que o cineasta tem pelos críticos (Ratatouille, um abraço). Todas situações são bem atuadas e possuem diálogos engraçados e discursivos, mas acabam se tornando repetitivos. E se já não bastasse um roteiro que em vez de expor bastidores, releva um ensaio de uma única cena em um teatro. São temas interessantíssimos, de fato, e ficam melhores ao entender as circunstancias de porque deles existirem, mas infelizmente, acabam se tornando recorrentes e pessimistas.

    Por fim, é um filme provocante, deveras ávido, cheio de estrelas que vão dos atores até a brilhante parte técnica e com um roteiro cheio de curiosidades e críticas sobre a arte. E apesar de toda entrega e do amor transpostos pela tela, o filme se torna repetitivo até demais ao querer mostrar uma curiosa, mas cansativa visão de mundo. 

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