Pular para o conteúdo principal

Glee | Um marco que chega ao fim



Em 2009, quando eu tinha cerca de 14 anos, li nos jornais a respeito de uma série musical sobre jovens que encontravam dificuldades no colégio. Interessado pelo tema, não demorei a descobrir "Glee", seriado criado por Ryan Murphy ("Nip/Tuck", "American Horror Story") que chegou ao seu final na última sexta-feira (20), em episódio duplo.

Quando comecei a assistir, encontrei comoção imediata. A personagem de Lea Michele, Rachel Berry, era uma garota dramática que, apesar de sofrer bullying e ser taxada de irritante pelos colegas de escola, mantinha vivo seu sonho de estrelato, não deixando ninguém se meter em suas ambições. A paixão e identificação com a personagem foi instantânea.

Entretanto, Rachel não era a única estrela de "Glee": Iniciamos a peimeira temporada com o personagem Kurt Hummel (Chris Colfer), que enfrentava dificuldades em assumir sua sexualidade; Mercedes Jones (Amber Riley), uma garota afro-descendente e acima do peso que sonhava em ser uma diva R&B; Tina Cohen-Chang (Jenna Ushkowitz), uma asiática que fingia gagueira para não comunicar-se e Artie Abrams (Kevin McHale), um garoto que perdeu a capacidade de andar após um acidente. Um verdadeiro time de underdogs que, juntos a Finn Hudson (Cory Monteith, falecido em 2013), quarterback do time de futebol americano, reavivaram o clube do coral da escola, liderados pelo então professor de espanhol Will Schuester (Matthew Morrison).

Como um garoto que sofria bullying desde os primeiros anos do fundamental, por na época ser acima do peso e constantemente questionado por minha sexualidade, fui um dos diversos jovens a encontrar em "Glee" uma fonte de esperança. O seriado, ao longo dos últimos seis anos, me ajudou a abraçar aquilo que me torna diferente, assim como respeitar os diversos tipos de pessoas e NUNCA desistir daquilo que sonho, não importam os comentários ruins ou as dificuldades que encontrarei na vida. Não é exagero comentar a importância do seriado para a auto-aceitação de diversos indivíduos, assim como na redução de suicídios por jovens.

       
"Nunca pare de acreditar"

"Glee" foi um tremendo sucesso. 121 episódios, 746 performances, 71 prêmios, duas turnês esgotadas, um reality show de duas temporadas e um filme em 3D com cenas e bastidores dos shows. Já alcançou mais de 200 hits no ranking Hot100 da Billboard, batendo o recorde dos Beatles, Michael Jackson e Elvis Presley (inclusive com episódios dedicados ao dois primeiros). A série foi responsável por introduzir vários artistas da música ao reconhecimento, assim como shows da Broadway. Entre as participações especiais, a lista é grande: Gwyneth Paltrow, Neil Patrick Harris, Sarah Jessica Parker, Kate Hudson, Whoopi Goldberg, Demi Lovato, Ricky Martin, Adam Lambert, Matt Boomer, Kristin Chenoweth, Idina Menzel, Jonathan Groff, Britney Spears, Lindsay Lohan, Olivia Newton-John, John Stamos e outras (sim, tem mais!).

Último solo de Lea Michele, a canção "This Time" foi composta por Darren Criss, que interpreta Blaine na série

Apesar de uma recaída após a terceira temporada, o retorno do seriado para a sexta foi digno: os últimos 13 episódios encontraram um encaminhamento digno ao plot, sendo o penúltimo uma "visita" ao episódio piloto (com as mesmas características e caracterizações da primeira temporada) e o último um avanço para o futuro dos amados personagens, com um salto em cinco anos no tempo. Não faltaram homenagens a Monteith, falecido protagonista.


Cena final, performance de "I Lived" com todo o elenco

"Glee" encerrou-se com glória (e lágrimas) ao resgatar a ideia principal do programa, que é encontrar a alegria em si e abrir-se para ela. "Veja o mundo não como é, e sim como deveria ser" foi a frase que encerrou a trajetória do seriado.

"Ser parte de algo especial nos torna especiais, certo?" - Rachel Berry (Episódio piloto)

"Ser parte de algo especial não o torna especial. Algo é especial porque você é parte dele" - Rachel Berry ("Dreams Come True" - episódio final da série).

   


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017): com divina retribuição, Ele virá para salvá-los

Com uma atmosfera que remete a Iluminado , com seus travelings com O Único Plano de Fuga de Stanley Kubrick , planos captados com uma lente que lembra uma visão extracorpórea da rotina do bem-sucedido cardiologista Steve ( Colin Farrel ), O Sacrifício do Cervo Sagrado tenta atrair sua atenção neste mês de fevereiro.  O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)  Com divina retribuição, Ele virá para salvá-los A história acompanha o personagem de Farrel, que mantêm contato frequente com Martin ( Barry Keoghan ), que perdeu o pai na mesa de operação na qual Steve trabalhava. Quando Martin começa a não obter a atenção desejada pelo cirurgião, coisas estranhas começam a acontecer a seus filhos. Ao acompanhar a família do médico e suas relações intrínsecas, sentimos que cada plano carrega uma estranheza suspensa e crescente pelo uso do zoom; ele te intima a mergulhar em cada diálogo na mesa de jantar, em cada andança sem pretensões pela ala de um hospital ansiando por achar o erro na imag

Homem de Ferro (2008) | O grande primeiro passo da Marvel Studios

Robert Downey Jr. sempre foi um ator talentoso, diferentemente do que muitos apontam. Apesar de seus encontros com a polícia em função das drogas, o astro sobreviveu a um intenso mergulho na dependência química e conseguiu dar a volta por cima naquele que, o próprio diretor Jon Favreau julga como um filme independente do gênero de super-herói. Sem contar com o modelo físico e com o caráter que o justificaria ao posto de protagonista, Tony Stark foi um acerto nos cinemas tão corajoso e sagaz quanto os quadrinhos do herói, criados lá em 1963 por Jack Kirby e Stan Lee . Na trama, o diretor Favreau narra o surgimento do universo Marvel a partir de um violento incidente na vida do bilionário Tony Stark, que, durante uma viagem ao Afeganistão (substituindo o Vietnã dos quadrinhos) para apresentar um novo armamento aos militares, é sequestrado por terroristas locais. Forçado a construir sua nova invenção sob pena de ser morto, Stark cria uma poderosa armadura para se libertar da cav

Paratodos (2016) | documentário necessário e inspirador

Paratodos (Brasil) À primeira vista, o documentário "Paratodos" (2016), dirigido por Marcelo Mesquita , pode parecer um daqueles especiais televisivos onde indivíduos com deficiências físicas contam suas histórias de superação. No entanto, ainda em seus primeiros minutos, percebemos a grande ambição do filme que, dividido em atos, um para cada modalidade esportiva, apresenta bem mais do que atletas paralímpicos vencendo dificuldades.  Rodado desde 2013, o documentário que, além do Brasil, traz cenas gravadas em outros países, esforça-se para sair do comum e apresenta seus personagens de forma a valorizar não só suas conquistas, mas revelar os estressantes bastidores de treinos e a rotina dos competidores paralímpicos, que muitas vezes é ainda mais complicada do que a de atletas regulares. A proposta é bastante importante para elevar a visibilidade destes atletas em nosso País, principalmente às vésperas de Olimpíadas, visto que seus feitos costumam ser bastante