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Wolf Hall (minissérie) | A efêmera ascendência de um homem


Baseado nos dois primeiros romances de Hilary Mantel, a BBC produziu está magnânima minissérie de seis episódios, ambientada a Inglaterra em 1529, sob o reinado de Rei Henry XIII. Apesar do legado de Henry e as consequências de suas tentativas em gerar um filho, a história é contada por outro ponto de vista, o de Thomas Cromwell, que torna a história especialmente fascinante.

Filho de um ferreiro abusivo, Thomas teve uma educação tardia, mas por fim tornou-se um advogado. Sua primeira aparição na série ocorre ao lado de Cardial Wolsey, conselheiro real.  Henry é casado com a espanhola Caterina de Aragão, por ser um rei, é claro que deseja estabelecer a estabilidade do seu trono tendo um filho como herdeiro, porém o fruto do casamento foi uma menina, Mary Tudor. Por esta razão Cardial Wolsey é ordenado que conseguisse o consentimento do Papa em anular o casamento de Henry com Katherine, para que o rei pudesse se casar com Anna Bolena. Entretanto Wolsey falha e não consegue cumprir a tarefa, resultando em sua fuga forçada.

Henry continua a exasperar, além de almejar uma saída que ponha fim na sua relação com Catarina, Anna Bolena, o pressiona com impaciência por seu fracasso em conseguir o consentimento do Papa. Por ser o advogado de Wolsey, Thomas calculosamente se aproxima do rei, com o objetivo de conseguir amenizar a punição do Cardeal, entretanto seu papel passa a ser maior do que um advogado, quando Henry o escolhe para ser seu novo conselheiro.

A princípio, Thomas, interpretado magistralmente por Mark Rylance, entrega de forma clara em seu semblante, marcas de cautela e sabedoria, presente em tantas outras faces de homens que ocuparam altos cargos em cortes europeias. Os quesitos inquietantes em relação a este personagem é posição dominante, sempre permanente, mesmo estando ao lado de uma figura como o rei, é inevitável assistir tais cenas e não ver uma clara distinção da figura deste homem para com os outros personagens. O quesito anterior é intensificado, quando Thomas se depara com o obstáculo principal e as séries de dilemas que vem com ele, o personagem transparece uma calma em todos os momentos que chega até ser algo difícil de acreditar, vez ou outra há um brilho de preocupação em seus olhos. Thomas certamente não é  indivíduo como Maquiavel, mas certamente possui uma história envolvente deveria ser mais trabalhada caso a duração da minissérie permitisse.

A utilidade da trilha sonora em conteúdos audiovisuais, além de exercer uma função dramática na história, também é utilizada para a suavização da percepção de cortes e transições de cenas. Em Wolf Hall, a presença da trilha sonora é breve, se mostrando apenas em picos de glória, tensão e desastres, mas com arranjos simples, utilizando 3 ou 4 instrumentos no máximo. Por esta razão, a clara intenção da produção estética em criar um realismo, pode causar um desconforto, com os cortes bruscos e rápida transição entre cenas noturnas e diurnas, por conta do uso de velas, archotes e a do luar como fonte de luz.

Um aspecto corriqueiro produzido pela BBC, Wolf Hall impressiona pelas locações, figurinos e fotografia. Os castelos e casebres escolhidos receberam uma ótima cenografia, condizente a posição hierárquica de cada personagem. A fotografia é um dos maiores atributos da série, é frequente uma brincadeira com a diversidade de cores na composição de cada cena, deixando a experiência de assistir Wolf Hall mais prazerosa e rica.

Nesta minissérie, infelizmente há um intervalo de tempo histórico muito breve, mostrando a ascensão de Thomas Cromwell e a segunda de muitas esposas de Henry XIII. Por volta de 50 minutos por episódio, Wolf Hall possui uma narrativa rápida, com diálogos enxutos que são enunciados por excelentes atores. Ao término da minissérie há um desapontamento pelo desfecho de uma ótima história que poderia ter continuação. Inúmeros canais já produziram dramas históricos memoráveis e Wolf Hall certamente é um deles.


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