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Carol (2015) | Romance polêmico e bem executado

Carol (2015)
Premiado na edição 2015 do festival de Cannes, "Carol" (2015) é um romance do diretor Todd Haynes (de "Velvet Goldmine" [1998] e "Não Estou Lá" [2007]) que demonstra ousadia ao abordar a relação amorosa entre duas mulheres na década 1950, temática que ganha relevância nos dias atuais em que, apesar da conquista de direitos LGBT em alguns países, o preconceito permanece. Visualmente belo e bem executado, o filme ostenta como nomeado nas principais premiações de cinema do início de 2016, incluindo 6 indicações ao Oscar, onde infelizmente (e talvez injustamente) não figura na categoria de "Melhor Filme", mas tem o brilhante desempenho das protagonistas Cate Blanchett ("Blue Jasmine", 2013) e Rooney Mara ("Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres", 2001) reconhecido. 

A trama alcança desenvolvimento quando Therese Belivet (Mara), uma jovem vendedora de loja de departamentos na Nova York de 1952, atende a charmosa Carol Aird (Blanchett), uma mulher rica que procura um presente de Natal para a sua filha. Sedutora, Aird esquece suas luvas no balcão do estabelecimento, e após Belivet devolvê-las, as duas passam a marcar encontros com frequência. É também a partir desses fatos que somos introduzidos à realidade da dupla, cujas complicações pessoais podem atrapalhar o desenvolvimento de um romance. 

Rooney interpreta Therese com uma doçura e ingenuidade que lembra Audrey Hepburn, uma atriz ícone do período histórico. Sua performance como uma personagem que está se autodescobrindo e permanece bastante confusa por boa parte das cenas consegue ser intensa, real e atrativa. Já Cate, com sua Carol poderosa e segura de si, consegue desconstruir a presença forte dos minutos iniciais à medida que os acontecimentos revelam a vulnerabilidade da personagem-título. Os atores secundários do longa-metragem também realizam desempenho positivo, especialmente Sarah Paulson, Kyle Chandler e Jake Lacy.

Os quesitos técnicos tornam o filme bastante charmoso. A fotografia de Edward Lachman alia-se de forma interessante à narrativa, utilizando planos fechados e desfoque para evocar sensações e ébrio. Já o figurino de Sandy Powell (também destaque em 2015 por "Cinderela") consegue adequar a beleza dos anos 50 à personalidade dos personagens. A trilha de Carter Burwell, por sua vez, soa um pouco obscura e intrigante.

O enredo de Carol é baseado no livro "O Preço do Sal", de Patricia Highsmith (escritora de "O Talentoso Ripley", e adaptado para o cinema de forma eficaz pela roteirista Phillys Nagy. O resultado é uma narrativa bem contada e explorada, de forma que torna-se perceptível a presença do livro nas telas. Uma história que retrata de forma interessante as complicações de ser homossexual com toda a "moralidade" do século passado, dirigida competentemente por Todd Haynes e em uma produção que alcança êxito.

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