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Ave, César (2016) | Grandes referências em baixa expectativa

Hail, Caesar! (EUA/UK)
Ambientado na década de 50, quando a indústria do cinema alimentava sonhos, "Ave, César!" traz como protagonista Eddie Mannix (Josh Brolin), uma daquelas figuras que encontramos facilmente até hoje na indústria, mas que nas décadas passadas se faziam mais presentes. Mannix é daqueles homens que trabalhavam resolvendo problemas, desde pequenos detalhes na composição de um cenário até a vigília sobre a vida dos astros mais rebeldes. E, em mais um dia de seu trabalho, ele se depara com o sequestro do grande astro Baird Whitlock (George Clooney), que em meio às filmagens do épico "Ave, César!" é sequestrado por um grupo de comunistas. Enquanto resolve a questão do resgate, Mannix também tem que lidar com as dificuldades em encontrar uma saída para a gravidez da estrela DeeAnna Moran (Scarlett Johansson). 

Apesar dos Coen terem afirmado em diversas ocasiões que não se basearam em fatos reais, é impossível não identificar traços de personalidades bem conhecidas do cinema, algumas bem claras como DeeAnna Moran, esvoaçante como uma bailarina do mar, uma referência à lendária Esther Williams, que recebeu a alcunha de "A sereia da MGM". As coreografias realizadas por DeeAnna, por sua vez, são inspiradas nas criações de Busby Berkeley, que, ainda nos anos 30, criou o estilo em que as bailarinas formavam formas caleidoscópicas, criando um efeito hipnótico em seus musicais. 

O sapateado de Burt Gurney (Channing Tatum) nos lembra outro grande dançarino, Gene Kelly. O número de dança interpretado por Burt é uma ligação direta com um dos maiores sucessos de Kelly, On the Town, que fala sobre três jovens marinheiros que passam um dia em terra e em busca de mulheres. Channing surpreende por sua versatilidade como dançarino, trazendo, por incrível que possa parecer,  uma das mais marcantes presenças. Olhar Laurence Laurentz (Ralph Fiennes) e sua afetação nos lembra o lendário Vincente Minnelli, famoso tanto por seus musicais quanto pelo seu cavalheirismo no tratamento de sua equipe. 

Não foram esquecidas pequenas anedotas ou fofocas de bastidores, como aquela em que Loretta Young chegou a adotar sua própria filha, fruto de um relacionamento extra conjugal com Clark Gable. A maior de todas as fofoqueiras de Hollywood também marca presença com uma quase disfarçada Tilda Swinton a interpretar duas irmãs jornalistas. E, ora vejam, até nossa Carmen Miranda é lembrada com a simpática personagem Carlotta Valdez (Veronica Osorio). Vale salientar que Carlotta também é o nome de uma enigmática personagem de Um Corpo Que Cai (1958). Poderíamos passar um bom tempo do nosso texto identificando diversas figuras, ou conjunto delas dentro das piadinhas de Ave, César!, mas acreditamos que tiraríamos um pouco da magia que resta ao filme.

Trazer tantos nomes conhecidos, alguns dos quais vencedores do Oscar, só piora a sensação de mal aproveitamento de seus ídolos. O elenco estelar traz nomes como Scarlett Johansson, Ralph Fiennes, George Clooney, Josh Brolin, Tilda Swinton e Channing Tatum, dentre outros. Alden Ehrenreich, embora pouco conhecido do grande público, talvez seja o que mais se destaque no papel do ator de westerns que não consegue emplacar quando precisa decorar suas falas em papéis mais sérios. 

A comédia é cheia de sátiras ao velho mundo do cinema, tão cheio de jovens que se deslumbram com o sucesso e jornalistas que caçam notícias em busca de furos, mesmo que isso custe a liberdade de outros. E o fato de todos os personagens parecerem bem patéticos só reforça o caráter anárquico do roteiro que se fixa basicamente em pequenas referências e esquece-se de amarrar todo o resto que parece não engrenar.

Os lançamentos dos Irmãos Coen são sempre aguardados pela crítica e público, que não esperam nada menos do que bons filmes, afinal são deles obras como “O Grande Lebowski”, “Queime Depois de Ler” e “Onde Os Fracos Não Têm Vez”. E um dos traços fundamentais de sua obra é a paixão que transpassam pelo cinema como um todo. Neste, a dupla reitera sua paixão pelo espetáculo, trazendo uma sarcástica colcha de retalhos sobre pequenos acontecimentos que povoaram a história de Hollywood. Porém, se sobram referências, fica latente que a magia do cinema retratado ficou há muito para trás. 

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