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Trolls (2016) | Animação é colorida, musical e inteligente


Trolls (EUA)
À primeira vista, a animação "Trolls", produzida pela DreamWorks Animation Studios e dirigida pela dupla Mike Mitchell ("Bob Esponja: Um Herói Fora D'Água", 2015) e Walt Dohrn, parece bastante familiar. Seu material promocional, dotado de uma explosão de cores, talvez torne difícil aos espectadores mais velhos uma associação imediata à linha de brinquedos homônima, que fez bastante sucesso entre os anos 60 e 00. Talvez isso também se dê em razão do redesign das criaturas, que tornaram-se mais amigáveis, no intuito de favorecer o apelo ao público infantil. O que previamente vemos é algo próximo das criaturas cantantes de "Os Smurfs" (2011), em um versão meio disco-psicodélica, que faz alusão à desenhos atuais de grande sucesso. E é quando "Trolls" basicamente assume essas referências que o longa-metragem acerta em cheio. 

De premissa simples, a animação inicia-se de forma bastante tradicional e didática, explicando o conflito principal da trama: alegres e coloridos, os Trolls são o principal desejo dos cinzentos Bergens, monstros que alimentam-se das criaturinhas na esperança de absorver sua "felicidade". Refugiados em uma vila na floresta por muitos anos, a espécie que dá título ao filme mantêm-se feliz, até serem encontrados por uma amargurada Bergen, que rapta alguns de seus membros em busca de vigança. A partir disso, a entusiasmada Poppy (voz original de Anna Kendrick), princesa dos Trolls, sai em uma jornada para resgatar seus amigos, sendo aparada por Tronco (voz original de Justin Timberlake), um Troll neurótico e ranzinza que teme o ataque dos Bergens.

As clássicas personalidades opostas de Poppy e Tronco são os principais pontos de humor e entretenimento, construindo um carisma típico e que mantém o público interessado até o final. O roteiro, escrito por Jonathan Aibel e Glenn Berger (dos filmes "Kung Fu Panda" [2008-2016] e "Bob Esponja: Um Herói Fora D'Água" [2015]), busca focar justamente na relação entre esses dois personagens, pouco explorando os diversos outros coadjuvantes, de forma que mal conseguimos aprender todos os seus nomes. Esses, inclusive, parecem participar da trama apenas para aumentar o número de celebridades no elenco de dublagem, embora mal possuam falas relevantes. 

O que realmente conquista em "Trolls" é seu teor assumidamente pop, seja nas piadas ou em sua musicalidade. Esta característica há muito não era explorada pelo estúdio, embora esteja presente em seus clássicos "Shrek" (2001) e "Madagascar" (2005). É muito interessante como há música na essência deste longa-metragem, e mais interessante ainda como a maioria delas, selecionadas a cargo de Justin Timberlake, são clássicos advindos das décadas entre 60-00, período em que a maior parte do público ainda nem era nascido. Esta escolha é capaz de provocar um sentimento contagiante que, também por meio da nostalgia (dos mais velhos), revela-se como o grande responsável pela conexão que é construída; como em todo musical, as músicas são importantes para traduzir a trama, e neste caso elas não só fazem isso, como criam momentos-chave de clímax emocional. A cena de "True Colors", canção conhecida na voz de Cindy Lauper, é a representação perfeita disto.

O humor do filme também baseia-se bastante nas sacadas musicais (destaco a sequência de "The Sound of Silence", que é muito inteligente) e nas referências diversas (inclusive aos bonequinhos que inspiraram o longa). Tudo é bastante exagerado e explícito, para que logo percebamos o intuito de paródia à vários elementos que o público já conhece (desde a abertura de um livro na primeira cena até um subplot completamente baseado em "Cinderella" - e que quase classifica o filme como uma adaptação do estúdio para este conto de fadas, figurando entre incansáveis outras). Muito aqui vem de "Shrek", mas em vez do conteúdo marcado pelo duplo sentido, há uma aposta maior em piadas ingênuas e situações caricatas.

O visual do filme é completamente extravagante. Desafiando o comodismo monocromático do cenário smurf, a paleta de cores é variada e bem viva (exceto na desinteressante cidade dos Bergens), transmitindo um exagerado sentimento de energia e vivacidade que, somado ao glitter, constrói um forte tom alegre, psicodélico e setentista. Muitas criaturas são desenhadas em aspecto nonsense, o que muito lembra a esfera criativa de desenhos bem-sucedidos da televisão, como "Hora de Aventura" e "Bob Esponja". É um universo louco, que parece tão bizarro quanto alegre.

Apesar de alguns defeitos, como entregar resoluções rápidas e um desfecho genérico, "Trolls" mostra-se como uma animação divertida e de muito potencial - criativo, visual e rentável. Suas mensagens são majoritariamente modernas, e abraçam a diversidade com seus diferentes personagens. Há um otimismo necessário às novas gerações, e um agradável e eficiente apelo musical que fará muitas crianças o re-assistirem diversas vezes após lançamento home video, enquanto seus pais provavelmente cantarolam as famosas melodias no cômodo ao lado.

Nota: a versão dublada é muito bem realizada e pensada, traduzindo e adaptando apenas algumas músicas, o que em muito mantém a essência do conteúdo original.

Avaliação

Comentários

  1. É um dos melhores do gênero. Os filmes infantis sempre serão para todos, por que em cada um nos vemos uma mensagem muito importante que às vezes esquecemos pela rotina. A dublagem é excelente! James Corden fez um maravilhoso trabalho no filme. Novamente ele mostrou seu talento em Emoji o filme, é um filme encantador desde o inicio, a historia e sobre todos os personagens são adoráveis. É um dos melhores filmes para crianças é uma opção para ver com toda a família. Gostei muito como se desenvolve a história, o roteiro é muito divertido para pequenos e grandes, em todo momento nos fazem rir, não duvidei desde que vi o trailer em que seria um excelente filme.

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