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Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) | Retorno digno

Fantastic Beasts and
Where to Find Them (EUA)
O mundo de Harry Potter cresceu e se tornou adulto. A franquia assinada por J. K. Rowling mostra-se como o maior fenômeno editorial até o presente momento e para manter a máquina funcionando era preciso alimentar o público ávido e emotivamente ligado às suas histórias. Aquelas crianças que se entusiasmaram com as histórias de magia cresceram e aguardavam com desejo a possibilidade de absorver até a última gota de suas infâncias. Para esse público posso dizer com convicção que 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' não decepciona.

Rowling sempre foi uma garota esperta, e toma a frente desta nova saga que traz sua assinatura. A ausência de um livro impede de maneira hipotética crítica com relação a adaptações, tão presentes nos seus trabalhos anteriores. Acontece que boa parte de seu público não consegue entender que uma adaptação cinematográfica não tem por obrigação destacar todos os pontos do livro do qual foi adaptado. O fato é que você pode muito bem assistir a este filme sem ter conhecimento prévio dos anteriores, já que ele retrata uma história paralela, mas a experiência se torna mais rica com uma leitura ou revisão do universo potteriano, afinal, termos e referências são utilizados todo o tempo.

Um ponto alto é a escolha do elenco já consagrado. Eddie Redmayne, apesar de seus excessivos maneirismos, consegue se sobressair, sobretudo em cenas em que são exigidos trabalhos mais corporais. Ele já tinha provado em filmes anteriores, principalmente em 'A Teoria de Tudo', que este é seu lado mais forte (vide a cena em que ele demonstra a fragilidade de sua doença em um jogo de golfe). Confesso que era uma das pessoas temerosas que o excêntrico Newt Scamander se tornasse extremamente caricato, mas o ator mantém um padrão de esforço em suas interpretações, e isso é maravilhoso. Ezra Miller vem mostrando bons resultados em telas e chama a atenção desde seu complexo Kevin (Precisamos Falar sobre o Kevin). Aqui ele demonstra que continuará um bom tempo como um nome forte da nova geração, incorporando um personagem contido e de personalidade fascinante. E se a força de Redmayne está ligada sobretudo à questão física, Miller consegue transmitir toda a complexidade de Credence através da expressão facial. Não muito bem recebido pelos fãs da saga, a presença de Johnny Depp, mesmo que em alguns poucos minutos, demonstra que teremos daqui para a frente mais um desenrolar de uma persona esvoaçante e com a interpretação um tom acima do desejável. 

Dificilmente alguém poderá discordar sobre o trabalho da equipe técnica. Os efeitos sonoros e especiais e a fotografia demarcadamente sombria e sépia merecem menção honrosa, além da trilha sonora assinada por James Newton Howard. Contudo, mais uma vez, o uso do 3D torna-se totalmente dispensável (a não ser para causar pequenos sustos na platéia) e aparentemente tem como único efeito o encarecimento dos ingressos. 

A única ressalva que posso fazer é com relação aos pequenos furos na história, sobretudo no que tange à amizade entre o quarteto principal, formado por um trouxa e três bruxos. Vale salientar que apesar da premissa de ser um filme totalmente novo, facilitará o entendimento uma leitura prévia dos livros ou uma pequena maratona Potteriana para aprender os termos. O fato é que algumas cenas excluídas da montagem final possam explicar as ausências. A pergunta que fica é: culpa do roteiro ou da montagem? Mas a sensação é momentânea e não atrapalha o conjunto deste que promete ter a maior arrecadação do ano. O roteiro que desperta o tempo todo a afetividade, retornando a conceitos explorados nos outros filmes na apresentação de novos personagens não deixa nada a dever à saga anterior.



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