Pular para o conteúdo principal

Jonas e o Circo sem Lona (2017) | Sonho que se sonha só

Resultado de imagem para Jonas e o circo sem lona
Resultado de imagem para Jonas e o circo sem lona
Jonas e o Circo Sem Lona (Brasil)
Um dos meus projetos pessoais guardados na gaveta é um curta-documentário sobre meu avô paterno. Isso porque, apesar de ser uma pessoa “desconhecida”, sempre vi nele e em suas histórias um potencial dramático impressionante. A ideia partia dessa vontade de olhar para pessoas da vida real e compreender suas conquistas, crises e desafios. O longa-metragem ‘Jonas e o Circo Sem Lona’ nasce exatamente disso. A realidade simplista começa apresentando um grupo de amigos carismático para com a câmera que o registra; esse prólogo prontamente lúcido gera uma proximidade impulsiva.

Jonas Laborda é um garoto “comum” de um bairro periférico da Bahia que divide diversão e estudos com a angústia de sempre. Sua diversão, porém, é sonhar com a vida de circo. Com a ajuda da avó – e apoio da mãe -, constrói o próprio circo com os amigos, elaborando e dirigindo os números do espetáculo. Tudo autossuficiente e com uma garra que gera uma relação muito rápida com quem o assiste. É uma história sobre um grande sonho que precisa ser realizado; registrar isso com os sentimentos da “infância”, como a breve inocência e inventividade vívida é o que há de mais tocante.

Aos poucos, o longa se torna um pensamento sobre o caminho entre a infância e o amadurecimento. Usar o exemplo de Jonas para atentar aos sonhos, idealizações, frustrações e conflitos é brilhante. Primeiro porque carrega um caráter muito real e imersivo: seu sonho e sua determinação não são comuns a garotos de mesma idade. Viver entre a imaginação e a realidade é um conflito que se projeta no constante pedido da mãe para que o filho priorize o estudo. Essa situação surge lentamente e ganha uma abordagem de cunho social tão intimista que sua fixação é mais que somente funcional. Diante esse retalho atípico, o filme faz pensar por nos deixar questioná-lo muito cedo.

Aproximando-se de seus personagens, a câmera consegue invadir situações pessoais com uma neutralidade convincente. Cenas como a em que a mãe acorda o filho, a que Jonas convoca dois de seus amigos a voltarem ao ensaio ou a que Jonas namora no escuro do quintal de casa, são pequenos exemplos do quanto o processo de “cobertura” conseguiu ir tão longe sem um caráter oportunista. 

É lógico imaginar que a história em questão tem um ponto de desenvoltura esperada: a ascensão de um circo caseiro totalmente produzido por "crianças" e pré-adolescentes. No entanto, o destino que parecia preparar algo mais complexo, entorna o fato como uma situação responsável. Crises como a de Jonas podem ser vistas como quaisquer sonhos relativizados com o tempo. A diretora Paula Gomes, porém, não tem esse interesse de antagonizar o processo, olhando para ambos os lados com uma defesa instigante. A vida de Jonas é como a de milhares outros sonhadores.

Recortado no momento exato, ‘Jonas e o Circo Sem Lona’ é um dos melhores documentários espontâneos dos últimos anos. Consegue encontrar em um cenário não-corriqueiro uma história que fala principalmente de coragem – o amor pelo sonho acima de tudo. É realmente uma pena que seja tão curto, mas esse parece ser um sentimento irracional pelo apego imediato à história e seus personagens. Seu desfecho não poderia ser mais aspirante e, diante controvérsias propositais, encorajador. Uma visão que enxerga a esperança, afinal, os sonhos podem ser seguidos a qualquer custo do destino.




Crítica: Jonas e o Circo sem Lona (2017)

Sonho que se sonha só

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017): com divina retribuição, Ele virá para salvá-los

Com uma atmosfera que remete a Iluminado , com seus travelings com O Único Plano de Fuga de Stanley Kubrick , planos captados com uma lente que lembra uma visão extracorpórea da rotina do bem-sucedido cardiologista Steve ( Colin Farrel ), O Sacrifício do Cervo Sagrado tenta atrair sua atenção neste mês de fevereiro.  O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)  Com divina retribuição, Ele virá para salvá-los A história acompanha o personagem de Farrel, que mantêm contato frequente com Martin ( Barry Keoghan ), que perdeu o pai na mesa de operação na qual Steve trabalhava. Quando Martin começa a não obter a atenção desejada pelo cirurgião, coisas estranhas começam a acontecer a seus filhos. Ao acompanhar a família do médico e suas relações intrínsecas, sentimos que cada plano carrega uma estranheza suspensa e crescente pelo uso do zoom; ele te intima a mergulhar em cada diálogo na mesa de jantar, em cada andança sem pretensões pela ala de um hospital ansiando por achar o erro na imag

Homem de Ferro (2008) | O grande primeiro passo da Marvel Studios

Robert Downey Jr. sempre foi um ator talentoso, diferentemente do que muitos apontam. Apesar de seus encontros com a polícia em função das drogas, o astro sobreviveu a um intenso mergulho na dependência química e conseguiu dar a volta por cima naquele que, o próprio diretor Jon Favreau julga como um filme independente do gênero de super-herói. Sem contar com o modelo físico e com o caráter que o justificaria ao posto de protagonista, Tony Stark foi um acerto nos cinemas tão corajoso e sagaz quanto os quadrinhos do herói, criados lá em 1963 por Jack Kirby e Stan Lee . Na trama, o diretor Favreau narra o surgimento do universo Marvel a partir de um violento incidente na vida do bilionário Tony Stark, que, durante uma viagem ao Afeganistão (substituindo o Vietnã dos quadrinhos) para apresentar um novo armamento aos militares, é sequestrado por terroristas locais. Forçado a construir sua nova invenção sob pena de ser morto, Stark cria uma poderosa armadura para se libertar da cav

Paratodos (2016) | documentário necessário e inspirador

Paratodos (Brasil) À primeira vista, o documentário "Paratodos" (2016), dirigido por Marcelo Mesquita , pode parecer um daqueles especiais televisivos onde indivíduos com deficiências físicas contam suas histórias de superação. No entanto, ainda em seus primeiros minutos, percebemos a grande ambição do filme que, dividido em atos, um para cada modalidade esportiva, apresenta bem mais do que atletas paralímpicos vencendo dificuldades.  Rodado desde 2013, o documentário que, além do Brasil, traz cenas gravadas em outros países, esforça-se para sair do comum e apresenta seus personagens de forma a valorizar não só suas conquistas, mas revelar os estressantes bastidores de treinos e a rotina dos competidores paralímpicos, que muitas vezes é ainda mais complicada do que a de atletas regulares. A proposta é bastante importante para elevar a visibilidade destes atletas em nosso País, principalmente às vésperas de Olimpíadas, visto que seus feitos costumam ser bastante