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Girlboss (1° Temporada, 2017) | Do lixo ao luxo

A nova série fashionista de comédia da Netflix, “Girlboss” estreou no serviço de streaming no final de abril. O seriado conta com 13 episódios de aproximadamente 20 minutos e é uma adaptação das experiências de vida de Sophia Amoruso, fundadora da loja virtual Nasty Gal, relatadas em seu livro.

Logo de cara no início dos episódios uma mensagem aparece "A seguir, uma releitura livre de eventos verdadeiros. Muito livre". Então já é deixado no ar que a adaptação vai ser uma versão diferente, exagerada talvez e com acréscimo de coisas que realmente não aconteceram. Pra quem não sabe do que se trata Girlboss, conta a história de Sophia Amoruso, criadora da Nasty Gal, comércio de roupas inicialmente vintage que surgiu como um cadastro no e-Bay, que virou uma loja online e chegou a ter dois espaços físicos em Los Angeles. E tudo isso em apenas sete anos.

Britt Robertson vive Sophia Marlowe, uma jovem com um pouco mais de 20 anos. A série faz uma crítica disfarçada ao millennials, que seriam aquelas pessoas egocêntricas, egoístas, impulsivas, teimosas e preguiçosas, e sem dúvida Sophia tem quase todas essas características.  A personagem sofre aquela pressão pela sociedade e por seu pai de ter que construir uma carreira, fazer uma faculdade e criar responsabilidades, em outras palavras crescer.  


Sophia inúmeras vezes diz que a vida adulta é onde os sonhos morrem, que a sociedade quer colocar todos numa caixa e que ela gostaria de arranjar um jeito de crescer sem se tornar uma adulta chata. Com dificuldade de se adaptar ao ritmo da vida adulta, prefere se escapar em empregos ocasionais, roubando, devendo e se divertindo. Até que percebe que pode escapar de uma rotina entediante ganhando dinheiro fazendo algo com o qual sente prazer, entrando no mundo utópicos das startups.

Girlboss tenta apresentar Sophia como uma anti-heroína legal, divertida e meio louca, e em algumas momentos o telespectador fica interessado em descobrir mais sobre ela, mas basicamente é difícil torcer pela personagem. A jovem quase sempre tenta passar por cima de todos a qualquer custo para conseguir atingir seus objetivos e ser bem sucedida, mostrando poucos momentos de vulnerabilidade. Os únicos momentos que você consegue se sensibilizar realmente com a personagem é nos episódios focado na mãe, na amizade com Annie e do namorado. Mas no geral você fica se perguntando, "porque Sophia?" "porque?". 

Mas por outro lado, chega um momento da série que vemos uma luz no fim do túnel referente a personagem, ela começa a perceber que não basta ser assim para conseguir o que quer. Em várias situações Sophia foi obrigada a colocar a mão na cabeça e repensar suas atitudes, que ela precisava de ajuda, não poderia fazer tudo o que sonhava e almejava sozinha, teve que dar o braço a torcer, relutantemente, mas finalmente caiu a ficha, que ela precisava se responsabilizar por seus atos, que inevitavelmente teria que crescer. 


A Sophia que conhecemos no primeiro episódio é totalmente diferente daquela que nos despedimos no último. E isso que nos da aquela esperança que a personagem pode ser muito mais interessante numa segunda temporada, caso seja renovada a série.

Um dos principais méritos da série são sem dúvida os coadjuvantes e como todos se relacionam. Ellie Reed vive Annie, a melhor amiga de Sophia e Johnny Simmons interpreta Shane, interesse romântico da protagonista. Também temos RuPaul Charles (Lionel, o vizinho de Sophia), que se ninguém tivesse me dito que era a RuPaul nunca iria saber, Jim Rash (Mobias), e a dupla formada por Cole Escola e Nicole Sullivan (respectivamente Nathan e sua mãe Teresa) são pontos altos de Girlboss

O elenco está bem entrosado, mas em muitos episódios sentimos aquela forçação de barra, algo propositalmente caricaturais, fora do limite do bom senso, Sophia não escapa dessa não, em muitos momentos esperamos algo mais natural nas atuações, mas Girlboss abusou dos esteriótipos. 


Mas a série é engraçada em grande parte da temporada, o momento mais cômico fica por conta do episódio 4, que faz uma brincadeira com a série "The OC", uma cena muito específica do final da terceira temporada, que revoltou bastante o público na época. Pra quem é fã de "The OC" que está no catálogo da Netflix, vai rir bastante nessa cena e voltar várias vezes pra rir de novo. 

Girlboss mostra além dessa várias referencias a cultura pop dos anos 2000, como menções aos surtos mentais de Britney Spears da época e ao término da cantora com Justin Timberlake. A febre do MySpace foi retratada na temporada como também as discussões nos fóruns de internet, e a maneira que a série debateu o assunto foi colocando todos os usuários "frente à frente", mostrando como a internet aproxima as pessoas.

Além disso, Girlboss introduz bordões como "Eu te amo, caso eu morra", que é inserido e bem trabalhado de uma forma que fixa na mente do público, podendo se tornar um simbolo da série. O casaco vintage original dos anos 70 é o símbolo que desencadeia toda a trama, sendo algo relevante e marcante na temporada, podendo se tornar o novo "guarda-chuva amarelo"? Talvez! O figurino e a trilha sonora da série é algo para elogiar, sendo um dos pontos altos, dando a atmosfera do programa. 


Muita coisa negativa tem se falado desde a estreia de Girlboss, mas talvez isso se veem da grande expectativa que o público gerou pelos teaser e trailers. Desde que soube da série imaginava que ela seria mais uma comédia, uma boa, mas nada além disso e por está baixa expectativa que gerei, Girlboss foi uma grata surpresa. Tem muitos pontos a serem melhorados, furos no roteiro, personagens que poderiam ter sido explorados melhor, como o pai de Sophia interpretado por Dean Norris, ou até mesmo dar destaque maior para alguns deles. Assim, tirando o foco um pouco sufocante da protagonista que tenta carregar a série, se tornando algo em muitos momentos cansativo. 

Por mais que a personagem consiga ser insuportável em vários momentos, é impossível não torcer para que as coisas deem certo para ela. Esse é o lance de Girlboss, que é necessário trabalhar a autocrítica para conseguir rir de si mesmo. Apesar das falhas, a Netflix acerta novamente em compor mais uma série em seu catálogo que foge dos padrões, assim como Sophia foge daquilo que a sociedade dita para os jovens de sua idade não só naquela época.


Crítica: Girlboss (1° Temporada, 2017)

Do lixo ao luxo

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