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A Múmia (2017) | O mal começo do "Universo Sombrio"

The Mummy (EUA)
O universo egípcio está longe de ser saturado. Seus deuses, sua localização exótica e sua influência na história antiga são fatores que fazem desse contexto um dos mais ricos a serem trabalhados. Por ser um sistema completo, foi uma escolha arriscada — apesar de interessante — que o primeiro filme que dê início a tão aguardada saga do Dark Universe contemple um dos monstros mais isolados do terror. Por ser pioneiro e a peça fundamental para o começo de um novo universo, seguindo o já conhecido sistema de diversos filmes interligados por personagens e enredos, era de se esperar que "A Múmia" (2017) fosse a entrada triunfal da Universal na nova tendência de Hollywood, já explorada por seus companheiros (e não necessariamente concorrentes) Marvel e DC Comics.  

A audácia da Universal Studios e do diretor Alex Kurtzman, conhecido principalmente por seu trabalho como roteirista do novo "Star Trek" (2016) e de "O Espetacular Homem-Aranha 2" (2014), infelizmente, não faz jus ao nome de tantos monstros que estão na fila de espera para serem os próximos na checklist do Universo. 

Trazendo um remake do clássico "A Múmia" (1999), somos apresentados ao anti-herói Nick Mortom, interpretado por Tom Cruise, que acidentemente  desperta Ahmanet (Sofia Boutella), antiga herdeira do Egito que, por desejo de vingança, uniu suas forças com o deus da Morte, Set, e foi mumificada viva por seu próprio povo há milhares de anos. A presença de Cruise e sua herança de "Missão Impossível" (filme também roteirizado pelo próprio Kurtzman), sem falar das cenas de ação em excesso, faz com que o filme fuja do universo fantástico e interligado que está em andamento — o que seria seu grande ponto forte como estreia —  para prender-se ao gênero ação.

Além disso, a clara interpretação de "donzela em perigo" da doutora Jenny (Annabelle Wallace), que não possui um vocabulário além da palavra "Nick", traz um modelo saturado, principalmente com o lançamento de heroínas femininas como protagonistas, como Mulher-Maravilha. Já o alívio cômico, interpretado por Jake Johnson, é tão dispensável quanto. 


Entretanto, as referências dos possíveis filmes sucessores - como a súbita presença de Dr. Jekyll (Russell Crowe), ilustríssimo personagem do clássico "O Médico e o Monstro" - animam e trazem a possibilidade de um "recomeço", interligando, mesmo que de forma fraca e forçada, o longa com outros clássicos que esperam ansiosamente para serem explorados, como Frankenstein e o senhor dos monstros, Conde Drácula. 

Não posso dizer que "A Múmia" tinha tudo para dar certo como um bom começo. O roteiro deixa a desejar, a atuação é razoável, o desenvolvimento dos personagens é quase inexistente e a introdução forçada ao "Universo Sombrio" enfraquecem o longa como saga. Entretanto, como filme isolado, é possível encontrar entretenimento e até alguns pontos a serem melhor explorados nos clássicos que estão por vir (claramente introduzidos no começo do segundo ato e ao final da produção). Por essa razão, não condeno — pelo menos, não ainda — o Dark Universe que está por vir. Mas espero, no mínimo, que a saga aprenda com as suas (muitas) falhas e traga filmes dignos de seus personagens. Além disso, algo me diz que se eles cometerem o mesmo erro com grandes personalidades, como o Vampiro mais famoso da terra, não haverá como continuar.




Crítica: A Múmia (2017)  

O mal começo do "Universo Sombrio"

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