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Em Ritmo de Fuga (2017) | Um serviço ao cinema moderno

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Baby Driver (EUA)
Edgar Wright, diretor conhecido pela icônica Trilogia Corneto e Scott Pilgrim Contra o Mundo, retornou. Depois de sua demissão inexplicável na Marvel e de quatro anos sem lançar nenhuma obra, o diretor nos presenteia Baby Driver, que, além de um longa-metragem brilhante, é uma homenagem aos clássicos filmes de perseguição de carro e aos cinéfilos contemporâneos que, com obras como estas, aprendem muito sobre cinema.

Baby, vivido por Ansel Elgort, é um jovem motorista talentoso que trabalha para uma organização de ladrões de bancos encabeçada por Doc, interpretado por Kevin Spacey. Durante as reuniões do grupo, uma tensão se estabiliza entre o protagonista e os bandidos, uma vez que Baby possui a responsabilidade de conduzir o carro após os assaltos. Jamie Foxx, deste modo, interpreta Bats, o sociopata do grupo que, durante os atos do filme, ajuda na criação de expectativa e na transformação da obra, dado que vira algo mais elegante que os vários clichês ditos nessa breve sinopse. 

O primeiro ato, para a surpresa do público, é quase um musical. Em dez minutos de projeção, o filme caminha para a sua terceira música com uma naturalidade eficaz e com contexto dentro da trama, diferentemente de Esquadrão Suicida que, ao tentar copiar Guardiões da Galáxia, deixou a música sem conectividade com o roteiro. Baby Driver se assume, sem vergonha alguma, como um musical com carros e com liberdade para danças em planos sequências, como aquele da calçada que lembra muito o recente La La Land.




Em seguida, as cenas de perseguição surgem com uma inspiração invejosa. Desde À Prova de Morte as sequências de carro não empolgavam tanto, já que ambos trazem uma música pop e planos abertos dos carros se batendo, ao contrário de Mad Max: Estrada da Fúria, outro homenageado em certo momento, que tem uma carga épica de filme de guerra, o que o faz com total eficiência e maestria. Já Baby Driver, no entanto, se concentra na perseguição limpa, sem destruições ou explosões.


O segundo ato, deste modo, se torna um Pulp Fiction moderno, graças à direção de atores que compreende a psicopatia de cada personagem e as consequências de seus atos. Os vilões, construídos na base da paciência, tornam o filme surpreendentemente tenso e assustador, como na sequência da lanchonete que rivaliza com o final icônico do filme lançado por Quentin Tarantino em 1994.

Com isto, a cinematografia exposta por Wright é um deleite sem fim. As cenas de perseguição, que no começo são belas, se tornam sujas com o passar dos atos, o que inclui tiroteio, muito sangue e uma música para cada momento. Para isto, o diretor e seus montadores Paul Machliss e Jonathan Amos executam um trabalho de gênio. A escolha de cenas, junto com a fotografia e mise en scène, fazem total sentido, mesmo quando tudo está caótico.

Já a edição de som exibe o primoroso papel de casar a música com os movimentos dos carros e tiros de forma eficaz, uma vez que o som oferece sustos intensos. Já a mixagem de som brinca com as caixas do cinema, enquanto que um som fica mais alto ou abafado que o outro. Por último, a direção de arte estilo noir oferece um desenvolvimento a mais no roteiro que, desde o segundo ato, nos surpreende sem ser óbvio.

Wright, por conseguinte, entrega uma viagem que cumpre o papel de ser cinema de qualidade. Depois de tantas refilmagens, reboots e continuações, Baby Driver é um respiro para quem admira a sétima arte atualmente. O filme merece, além de ser visto por todos, uma indicação para quem se desinteressou pela técnica, dado que muitos apontam ter virado produto comercial para Hollywood. 

Crítica: Em Ritmo de Fuga (2017)

Um serviço ao cinema moderno 

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