Pular para o conteúdo principal

Mozart in the Jungle: o renascimento da música erudita

Mozart in the Jungle, que estreou em 2014 pelo serviço streaming da Amazon, foi inspirada na obra literária “Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music” da oboísta norte-americana Blair Tindell. A vencedora do Globo de Ouro em 2016, como melhor série de comédia e melhor ator para Gael García Bernal chegou com o intuito claro de mostrar o que está além das aparências. As grandes orquestras sinfônicas representam a sofisticação e perfeição da criação musical, algo que cria uma imagem imponente e respeitosa, logo que é aí que Mozart in the Jungle vem para desconstruir essa imagem.

A série parte justamente do ponto da tagline “sexo, drogas e música clássica”, mostrando a sujeira por trás da arte, aparentemente tão limpa e respeitosa. E através de seus excêntricos integrantes da fictícia orquestra sinfônica novaiorquina, podemos conhecer e desvendar, por assim dizer, aquilo que os olhos dos expectadores não conseguem enxergar assistindo a um concerto. 

Sob a alcunha de Alex Timbers, Roman Coppola, Jason Schwarztman e Paul Weitz servindo como roteiristas e diretores para diversos episódios, podemos conhecer o veterano maestro Thomas Pembridge (Malcom McDowell) que anuncia sua aposentadoria após um longo período na regência e que é substituído pelo maestro mexicano Rodrigo De Souza (Gael García Bernal), que é a nova aposta para diversificação no estilo, cujas práticas imediatamente entram em conflito com as normas mais “conservadoras” da Orquestra. 

Em paralelo, o programa retrata as dificuldades da oboísta Hailey Rutlege (Lola Kirke), que tenta ascender profissionalmente junto à Orquestra. A série mostra os dramas e desafios enfrentados cotidianamente pelos musicistas, bem como as adequações feitas no próprio estilo de se fazer música clássica para renovação, contemporização e para atrair um público novo e jovem, que consideram a música erudita algo ultrapassado. 

Mozart in the Jungle é mais do que uma tentativa de nos aproximar da música clássica, ela visa mostrar o quão dura e árdua é a jornada daqueles que respiram a música, sendo algo muito além do que um simples trabalho. Com 25 minutos aproximadamente de cada episódio, a série traz uma experiência rápida e divertida, apesar de retratar temas pesados e conflituosos, envolvendo o espectador instantaneamente em seu universo. 

Por trás dos palcos, acompanhamos personagens traficando e usando drogas ilícitas, músicos tendo casos com praticamente todo mundo, e muitas outras situações que rodeiam esses personagens. Mas nunca deixando de lado a música e o senso de humor discreto. Traz diversos momentos de puro encantamento e beleza, seja na filmagem, na narrativa, nas atuações ou em pequenos momentos inesperados, com uma estética elegante e que preenche a tela com seus tons de cores quentes e barrocos.

Em uma série onde a personagem principal é a Orquestra, não basta apenas usar os personagens coadjuvantes como coro, mas é válido reservar um tempo para cada um deles e mostrar porque dão vida a esse ser tão irradiante. O humor da série possui boas doses de nonsense com a virtude de jamais cair na caricatura. As falas e situações flertam com o exagero e o absurdo, mas sem permitir que os personagens percam a humanidade.

É impossível assistir Mozart In The Jungle e não se sentir minimamente inspirado pela dedicação e idealismo pelos quais os personagens têm pela música clássica. Sendo assim, nada mais justo, que a série tenha sido renovada para sua 4º temporada que também terá 10 episódios, como suas antecessoras.


Mozart in the Jungle: o renascimento da música erudita


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017): com divina retribuição, Ele virá para salvá-los

Com uma atmosfera que remete a Iluminado , com seus travelings com O Único Plano de Fuga de Stanley Kubrick , planos captados com uma lente que lembra uma visão extracorpórea da rotina do bem-sucedido cardiologista Steve ( Colin Farrel ), O Sacrifício do Cervo Sagrado tenta atrair sua atenção neste mês de fevereiro.  O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)  Com divina retribuição, Ele virá para salvá-los A história acompanha o personagem de Farrel, que mantêm contato frequente com Martin ( Barry Keoghan ), que perdeu o pai na mesa de operação na qual Steve trabalhava. Quando Martin começa a não obter a atenção desejada pelo cirurgião, coisas estranhas começam a acontecer a seus filhos. Ao acompanhar a família do médico e suas relações intrínsecas, sentimos que cada plano carrega uma estranheza suspensa e crescente pelo uso do zoom; ele te intima a mergulhar em cada diálogo na mesa de jantar, em cada andança sem pretensões pela ala de um hospital ansiando por achar o erro na imag

Homem de Ferro (2008) | O grande primeiro passo da Marvel Studios

Robert Downey Jr. sempre foi um ator talentoso, diferentemente do que muitos apontam. Apesar de seus encontros com a polícia em função das drogas, o astro sobreviveu a um intenso mergulho na dependência química e conseguiu dar a volta por cima naquele que, o próprio diretor Jon Favreau julga como um filme independente do gênero de super-herói. Sem contar com o modelo físico e com o caráter que o justificaria ao posto de protagonista, Tony Stark foi um acerto nos cinemas tão corajoso e sagaz quanto os quadrinhos do herói, criados lá em 1963 por Jack Kirby e Stan Lee . Na trama, o diretor Favreau narra o surgimento do universo Marvel a partir de um violento incidente na vida do bilionário Tony Stark, que, durante uma viagem ao Afeganistão (substituindo o Vietnã dos quadrinhos) para apresentar um novo armamento aos militares, é sequestrado por terroristas locais. Forçado a construir sua nova invenção sob pena de ser morto, Stark cria uma poderosa armadura para se libertar da cav

Paratodos (2016) | documentário necessário e inspirador

Paratodos (Brasil) À primeira vista, o documentário "Paratodos" (2016), dirigido por Marcelo Mesquita , pode parecer um daqueles especiais televisivos onde indivíduos com deficiências físicas contam suas histórias de superação. No entanto, ainda em seus primeiros minutos, percebemos a grande ambição do filme que, dividido em atos, um para cada modalidade esportiva, apresenta bem mais do que atletas paralímpicos vencendo dificuldades.  Rodado desde 2013, o documentário que, além do Brasil, traz cenas gravadas em outros países, esforça-se para sair do comum e apresenta seus personagens de forma a valorizar não só suas conquistas, mas revelar os estressantes bastidores de treinos e a rotina dos competidores paralímpicos, que muitas vezes é ainda mais complicada do que a de atletas regulares. A proposta é bastante importante para elevar a visibilidade destes atletas em nosso País, principalmente às vésperas de Olimpíadas, visto que seus feitos costumam ser bastante