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O Predador (2018) | Shane Black desenvolve a série com o apoio de suas assinaturas grotescas

O Predador, dirigido por Shane Black, é extremamente divertido, brutal, gore e uma obra que entende os seus personagens, universo e humor. É como se o diretor usasse os anos 1980 como parodia nesse novo capítulo da franquia que evolui toda obra original, lançada em 1987. Black, diretor odiado por muitos e amado por outros, retorna depois de Dois Caras Legais para o humor mais escrachado e violência escapista. É o que ele sabe fazer de melhor.

O diretor, que atuava no primeiro filme e escreveu os roteiros dos dois primeiros Máquina Mortífera, entende o que o monstro significa para a cultura pop. Para incrementar, ele garante ao filme a sua assinatura que traz os seus principais elementos de filmes de ação oitentista. Retorna a camaradagem entre os heróis, cenas de ação frenéticas e um humor sujo que tira sarro de tudo. Existem personagens, por exemplo, que criam o desgosto quase que de imediato. Mas todos são divertidos e engraçados. É só entrar na piada. Ou assistir o original que, apesar de bem humorado, se concentrava somente na violência gratuita.

Sabe quando você não se choca com cabeças sendo decapitadas, mas fica ofendido com uma piada? Pois é. Black entende que os anos 80 se criou a partir disso e usa a seu favor para chocar e assustar com a violência, ainda que se divirta dela também, algo que dá mais camada para o filme funcionar.

Esse caráter também se deve ao elenco escolhido. Boyd Holbrook se assume definitivamente como um herói de ação e se distancia daqueles vilões criados em Logan e em Narcos. Além dele também há Keegan-Michael Key e Thomas Jane, que são, de longe, os mais engraçados do longa. As características dos dois são ofensivas e bastante contundentes com o universo criado pelo diretor. Como complemento do time ainda temos Augusto Aguilera, Alfie Allen e Olivia Munn à vontade com os seus personagens. Munn, por sinal, se distancia dos clichês das mulheres em obras de ação e, mesmo não sendo a Charlize Theron em Mad Max: Estrada da Fúria, garante força o suficiente para não ficar para trás do grupo.

+ Logan (2017) | Os Brutos também amam

+ Mad Max: Estrada da Fúria (2015) | O testemunho da morte do mundo

Os de destaque, no entanto, são aqueles já conhecidos pelo público. Jacob Tremblay dá vida a uma criança geek que deixaria vários astros mirins dos filmes do Steven Spielberg com inveja. Do mesmo modo que Sterling K. Bronw, que, mesmo aceitando obras mais “populares”, nunca parece cansar de se divertir. E por último, ainda há Trevante Rhodes, astro de Moonlight, que se mostra cada vez mais competente como ator de inúmeras camadas. Inclusive, torci para que o protagonismo da obra fosse seu, já que ele interpreta um personagem incrível.

Com esse elenco e roteiro que olha para o passado e o atualiza como uma obra do futuro, Black garante aos mais puristas um gore cheio de estilo que deixa o espectador tenso por seus personagens. O Predador não teme se arriscar. É um filme que gosta de rir das suas sequências grotescas e absurdas, mas que nunca deixa de ser visto como puro entretenimento. E contrapondo o que foi dito por Taika Waititi recentemente: Sim, Hollywood está ficando sem ideias. Mas me importa muito mais um filme de autor do que uma obra vendida de estúdio, o que não é o caso deste novo Predador.

Crítica: O Predador (2018)

Shane Black desenvolve a série com o apoio de suas assinaturas grotescas

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