Pular para o conteúdo principal

Buscando... (2018) | Suspense eficaz mostra como ainda é possível criar tensão através da simplicidade

Buscando... não é um filme para todo mundo. É uma obra difícil de digerir, de aceitar e seguir rumo. Isso se deve a sua temática que conta a história através da tela de um computador, recurso conhecido como “screenlife”, que conta com imagens de webcam, redes sociais, programas de trocas de mensagens, telejornais etc. É uma técnica mais interessante que o “found footage” e mais energética, ainda que difícil de entrar na viagem durante o primeiro ato. Com esse recurso, o filme explora um pai desesperadamente preocupado e em busca por sua filha de 15 anos que sumiu misteriosamente.

O seu tema e modelo de narrativa, oferecido sabiamente pelo diretor Aneesh Chaganty, que tem apenas 27 anos, representa uma união que permite que o espectador fique tenso a cada sequência da obra. É um trabalho primoroso de montagem, que flui como se fosse um clipe, sendo muito mais econômico e menos didático que o "found footage", encontrada em filmes como Atividade Paranormal, REC e A Visita. O diretor e o seu roteiro compreendem o universo que têm em mãos, já que estamos falando da tela de um computador, e exibe vários cenários plausíveis e que ajudam na construção da narrativa.

O começo do filme, por exemplo, que se passa inteiramente em uma tela de Windows XP, é absolutamente espetacular e engajante. Rivalizando com a intensidade emocional do início de UP – Altas Aventuras, a introdução apresenta um poder de síntese do roteiro que desenvolve o universo, os personagens e os conflitos a seguir. Mais que isso, a sequência de imagens cria empatia por eles. E é disso que precisamos para continuar a jornada.

Da mesma forma que a introdução traz conforto logo de imediato, todos os atos passam uma sensação de inquietação, como se algo muito ruim fosse acontecer a qualquer momento. Nesse sentido, a música entra em sintonia com a montagem e torna tudo mais caótico do que já é, visto que o personagem possui inúmeras telas abertas no seu computador, tornando, assim, uma bagunça visual e sonora que incomoda os desavisados e preocupados com cenas de extrema tensão.

Obviamente isso se deve, além de todos artifícios técnicos da direção, ao elenco. John Cho, por exemplo, que já havia mostrado em Star Trek e Columbus ser dono de um método excelente de atuação, constrói aqui um pai desesperado. Suas emoções não são ditas, são claramente mostradas por seu olhar, por sua voz gaguejante e modo raivoso de agir. É um trabalho primoroso e que personifica a angústia de um homem que muito tem a perder. Se ele sente dor, nós também sentimos.

Muito mais que um simples suspense, Buscando... ainda encontra espaço para discutir paixões platônicas, Fake News, fóruns online e o que fazemos na internet. Mais forte que isso, o filme sente empatia por nós, usuários viciados. Ele mostra que, sim, nós sabemos o que fazemos diante da tela de um computador. 

Crítica: Buscando... (2018)

Suspense eficaz mostra como ainda é possível criar tensão através da simplicidade

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017): com divina retribuição, Ele virá para salvá-los

Com uma atmosfera que remete a Iluminado , com seus travelings com O Único Plano de Fuga de Stanley Kubrick , planos captados com uma lente que lembra uma visão extracorpórea da rotina do bem-sucedido cardiologista Steve ( Colin Farrel ), O Sacrifício do Cervo Sagrado tenta atrair sua atenção neste mês de fevereiro.  O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)  Com divina retribuição, Ele virá para salvá-los A história acompanha o personagem de Farrel, que mantêm contato frequente com Martin ( Barry Keoghan ), que perdeu o pai na mesa de operação na qual Steve trabalhava. Quando Martin começa a não obter a atenção desejada pelo cirurgião, coisas estranhas começam a acontecer a seus filhos. Ao acompanhar a família do médico e suas relações intrínsecas, sentimos que cada plano carrega uma estranheza suspensa e crescente pelo uso do zoom; ele te intima a mergulhar em cada diálogo na mesa de jantar, em cada andança sem pretensões pela ala de um hospital ansiando por achar o erro na imag

Homem de Ferro (2008) | O grande primeiro passo da Marvel Studios

Robert Downey Jr. sempre foi um ator talentoso, diferentemente do que muitos apontam. Apesar de seus encontros com a polícia em função das drogas, o astro sobreviveu a um intenso mergulho na dependência química e conseguiu dar a volta por cima naquele que, o próprio diretor Jon Favreau julga como um filme independente do gênero de super-herói. Sem contar com o modelo físico e com o caráter que o justificaria ao posto de protagonista, Tony Stark foi um acerto nos cinemas tão corajoso e sagaz quanto os quadrinhos do herói, criados lá em 1963 por Jack Kirby e Stan Lee . Na trama, o diretor Favreau narra o surgimento do universo Marvel a partir de um violento incidente na vida do bilionário Tony Stark, que, durante uma viagem ao Afeganistão (substituindo o Vietnã dos quadrinhos) para apresentar um novo armamento aos militares, é sequestrado por terroristas locais. Forçado a construir sua nova invenção sob pena de ser morto, Stark cria uma poderosa armadura para se libertar da cav

Paratodos (2016) | documentário necessário e inspirador

Paratodos (Brasil) À primeira vista, o documentário "Paratodos" (2016), dirigido por Marcelo Mesquita , pode parecer um daqueles especiais televisivos onde indivíduos com deficiências físicas contam suas histórias de superação. No entanto, ainda em seus primeiros minutos, percebemos a grande ambição do filme que, dividido em atos, um para cada modalidade esportiva, apresenta bem mais do que atletas paralímpicos vencendo dificuldades.  Rodado desde 2013, o documentário que, além do Brasil, traz cenas gravadas em outros países, esforça-se para sair do comum e apresenta seus personagens de forma a valorizar não só suas conquistas, mas revelar os estressantes bastidores de treinos e a rotina dos competidores paralímpicos, que muitas vezes é ainda mais complicada do que a de atletas regulares. A proposta é bastante importante para elevar a visibilidade destes atletas em nosso País, principalmente às vésperas de Olimpíadas, visto que seus feitos costumam ser bastante