Pular para o conteúdo principal

A Tristeza de Caetano

“Estou triste, tão triste, estou muito triste” um verso que só parece simples demais para a boca de Caetano. Há uma tristeza comum ao seu olhar que se escondeu durante o amadurecimento rebelde. A anarquia, o grito contra a ditadura, a Tropicália, ele esteve a frente de muito, até agressivo, debochado, afrontoso, mas sempre triste. Basta olhar, e sentir. Caetano feliz ainda é triste, talvez seja o estado favorito de toda poesia.

A Tristeza de Caetano

O olhar que ainda é feliz


Isso não significa que se apresente sem emoção, carisma, sem sensação. Caetano canta com a alma, é o alguém que canta de tão longe, longe porque é de dentro. “ A voz de alguém nessa imensidão, que canta como que pra ninguém”. Parece que ninguém vê o olhar triste que tanto contrasta com o sorriso alegre que doou a Bethânia.

Demorei pra sentir que “Estou Triste” é uma canção prazerosa. A gente sabe que a tristeza é um sentimento lindo, é como ser feliz pra dentro. Só tem você lá dentro e isso pode parecer triste. É linda a tristeza, ainda mais ao existir coisa tão pior. A angustia, por exemplo, não tem volta. Parece ser o fim, um ataque de pânico. Fudeu. Ninguém pode ajudar, a solidão rasga. Não há conforto que amacie depressa.

“Dançar contigo me dá Caetano
Amanhã cedo a gente pode esquecer”
Caetano Veloso (Breno Lima / João Eduardo Tatit)

A tristeza pode ser abraçada. Me sinto só ao ouvir Estou Triste, porque sou eu que canto, não Caetano. Caetano vira o sentimento que me resta sentir. Entendo quando Johnny Hooker o transforma em um estado de espírito, ao cantar “Dançar contigo me dá Caetano”. Aí é alegria, o contrário completo do que acredito ser Caetano. É porque a tristeza que vejo nele não é como nos filmes ou nos livros, é um sentimento de incompatibilidade. Ninguém é como Caetano, e ele parece cantar de um limbo que juramos ter decifrado. Gil também é isso, mas ele resolveu se entregar à paz. A Caetano, restou toda a dor de um mundo louco.

“O lugar mais frio do Rio é o meu quarto”
Caetano Veloso (Estou Triste)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017): com divina retribuição, Ele virá para salvá-los

Com uma atmosfera que remete a Iluminado , com seus travelings com O Único Plano de Fuga de Stanley Kubrick , planos captados com uma lente que lembra uma visão extracorpórea da rotina do bem-sucedido cardiologista Steve ( Colin Farrel ), O Sacrifício do Cervo Sagrado tenta atrair sua atenção neste mês de fevereiro.  O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017)  Com divina retribuição, Ele virá para salvá-los A história acompanha o personagem de Farrel, que mantêm contato frequente com Martin ( Barry Keoghan ), que perdeu o pai na mesa de operação na qual Steve trabalhava. Quando Martin começa a não obter a atenção desejada pelo cirurgião, coisas estranhas começam a acontecer a seus filhos. Ao acompanhar a família do médico e suas relações intrínsecas, sentimos que cada plano carrega uma estranheza suspensa e crescente pelo uso do zoom; ele te intima a mergulhar em cada diálogo na mesa de jantar, em cada andança sem pretensões pela ala de um hospital ansiando por achar o erro na imag

Homem de Ferro (2008) | O grande primeiro passo da Marvel Studios

Robert Downey Jr. sempre foi um ator talentoso, diferentemente do que muitos apontam. Apesar de seus encontros com a polícia em função das drogas, o astro sobreviveu a um intenso mergulho na dependência química e conseguiu dar a volta por cima naquele que, o próprio diretor Jon Favreau julga como um filme independente do gênero de super-herói. Sem contar com o modelo físico e com o caráter que o justificaria ao posto de protagonista, Tony Stark foi um acerto nos cinemas tão corajoso e sagaz quanto os quadrinhos do herói, criados lá em 1963 por Jack Kirby e Stan Lee . Na trama, o diretor Favreau narra o surgimento do universo Marvel a partir de um violento incidente na vida do bilionário Tony Stark, que, durante uma viagem ao Afeganistão (substituindo o Vietnã dos quadrinhos) para apresentar um novo armamento aos militares, é sequestrado por terroristas locais. Forçado a construir sua nova invenção sob pena de ser morto, Stark cria uma poderosa armadura para se libertar da cav

Paratodos (2016) | documentário necessário e inspirador

Paratodos (Brasil) À primeira vista, o documentário "Paratodos" (2016), dirigido por Marcelo Mesquita , pode parecer um daqueles especiais televisivos onde indivíduos com deficiências físicas contam suas histórias de superação. No entanto, ainda em seus primeiros minutos, percebemos a grande ambição do filme que, dividido em atos, um para cada modalidade esportiva, apresenta bem mais do que atletas paralímpicos vencendo dificuldades.  Rodado desde 2013, o documentário que, além do Brasil, traz cenas gravadas em outros países, esforça-se para sair do comum e apresenta seus personagens de forma a valorizar não só suas conquistas, mas revelar os estressantes bastidores de treinos e a rotina dos competidores paralímpicos, que muitas vezes é ainda mais complicada do que a de atletas regulares. A proposta é bastante importante para elevar a visibilidade destes atletas em nosso País, principalmente às vésperas de Olimpíadas, visto que seus feitos costumam ser bastante