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Era pra ser só Pop: Thank you, Ari

Eu pensei que ficaria pra sempre com o Sean / Mas nós não combinamos / Escrevi algumas músicas sobre o Ricky / Agora eu as escuto e rio / Até quase me casei / E, ao Pete, sou muito grata / Gostaria de poder dizer obrigada ao Malcolm / Porque ele era um anjo. 

É com uma declaração de gratidão aos seus ex-namorados que a pequena Ariana Grande dá a partida do seu mais recente sucesso, “Thank You, Next”. A música debutou em #1 na Hot 100 da Billboard, a mais importante parada de música do mundo, e quebrou recordes nas plataformas digitais, reconduzindo o pop ao topo - esta é a primeira música solo pop e de uma mulher a debutar na primeira posição da parada desde 2015, com “Hello” de Adele.

Era pra ser só Pop: Thank you, Ari

De estrela teen à nova Mariah, da mulher perigosa ao sonoro obrigado


O feito faz com que Ariana ocupe um protagonismo dentro do cenário pop atual que já era ensaiado por ela há alguns anos. Diferente da chiclete “Problem” e do super featuring “Bang Bang”, “Thank You, Next” não bateu na trave e uniu qualidade e sucesso.

Ari é prova viva que uma estrela pop nem sempre nasce pronta, mas que pode perfeitamente se moldar, se formar e encontrar sua voz e espaço durante a carreira. E é sobre a Ariana que se tornou Grande sendo Ariana que a gente fala na Era Pra ser Só Pop desta semana. 

Eu admito, fui do ranço crônico ao fanzinho incorrigível

Algo na conta “Ariana is the new Mariah” parecia não fechar para mim lá nos idos de 2012, quando “The Way You Love Me”, primeiro single de Ari, foi lançado. Além de prematura, a comparação parecia desrespeitosa com a história de grandes feitos, voz e personalidade única de Mariah - que inclusive voltou aos bons tempos e lançou um excelente álbum essa semana. Ouçam Caution

Ariana e seu team pareciam embarcar e acreditar na comparação como estratégia, de modo que o seu primeiro disco, “Yours Truly” é basicamente mais do mesmo que Mariah fez durante os anos 90. Para completar, começaria já nessa primeira era de Ari, um problema que a acompanhara até hoje: os erros estratégicos e de lançamento por parte de sua equipe, gravadora e da própria. 

Não sei da cabeça de quem, mas ainda julgo, saiu a ideia de, lá em 2013, Ariana gravar um dueto com Chris Brown. Não precisa nem ser vidente pra saber que não ia dar bom e toda a divulgação envolvendo o segundo álbum da cantora teve de ser adiantada para abafar o cancelamento da parceria que tinha até clipe gravado. O motivo? O cantor havia sido preso. MAIS UMA VEZ. 

Dos males, o menor. “Problem” foi lançada na sequência e ali viamos uma Ariana que tentava quebrar a imagem angelical e teenager para incorporar uma ninfeta. Ficou na tentativa. Nessa era eu sou só o meme da Rihanna rindo na platéia do IHeart Radio Awards enquanto Ari performava. 

A sensualidade milimetricamente controlada para não escandalizar não convencia os fãs de um gênero acostumados a ver um casamento perfeito entre sexualidade e arte com propósito de derrubar tabus. SHAME. Especialista em consertar o carro durante o GP, Ari foi adaptando a linguagem da era “My Everything” durante os próximos lançamentos e o saldo é um OK! Ou se preferir na linguagem de memes um sonoro, “Parabéns, Ariana! Não fez mais que sua obrigação”. 

Surfando na onda de sucesso, Ariana não perdeu tempo e anunciou o lançamento de seu terceiro disco que se chamaria “Moonlignt”. Se chamaria, e só. Lembra do que eu falei sobre erros? “Focus”, a primeira faixa divulgada é mais do mesmo, quase uma “Problem” 2.0. Além de um clipe horrendo que parece mais um comercial de gloss de marca barata. 

Mas de insistir no erro, Ari não pode ser acusada. A produção e lançamento foram canceladas e deram lugar a um novo conceito e que, de forma muito inteligente, não tentava repetir, mas evoluir dentro da narrativa proposta pela era anterior. Hora da ninfeta de “My Everything” se tornar uma mulher perigosa.



Dangerous Woman” dizia a que vinha de cara, na capa. A foto de Ariana com uma máscara de coelhinha de vinil era a única imagem possível para a música e para o álbum. O vídeo de Ari cantando “DW”, o single, acapella faz qualquer incrédulo dizer amém. Pela primeira vez na sua carreira, a cantora era voz, era produções musicais riquissímas, letras inspiradas e imagem. Ariana era pop. 

Se o R&B, pop e soul sofisticado de Dangerous Woman aguçaram a curiosidade dos fãs de pop, o que estaria por vir era ainda mais excitante. Músicas como “Be Alright”, “Greedy” e “Side To Side” são boas, chicletes e deliciosas na medida certa, uma marca desse álbum indicado ao Grammy de melhor álbum pop e que traz uma das melhores músicas do gênero na década, “Into You”.



Um parêntese para falar de um episódio triste. No dia 22 de maio de 2017 um homem detonou explosivos em uma das saídas da Arena Manchester, no Reino Unido, que havia acabado de sediar um das apresentações finais da Dangerous Woman Tour, causando 23 mortes, incluindo a do próprio homem-bomba, e deixando 60 feridos. Após o incidente, o restante da turnê foi cancelada e Ariana em parceria com outros artistas organizou o show “One Love Manchester” para angariar fundos para as famílias das vítimas. A música “One Last Time” se tornou um hino para lembrar as vítimas entre os fãs e moradores de Manchester. 

Os desdobramentos do atentado e dos problemas psicológicos que acumulou em função do episódio de Manchester foram matéria prima para o quarto e mais confessional álbum de estúdio de Ariana. Talvez em função disso, “Sweetener”, lançado em junho deste ano, pareça excessivamente datado em algumas de suas faixas. Com excelentes singles, mas confuso como um todo, o álbum não chega a decepcionar, mas dá uma sensação de que poderia mais.

No âmbito visual, a evolução de Ariana é clara, tendo sido a era “Sweetener” responsável por alguns dos melhores clipes do ano. “No Tears Left to Cry” e “God Is A Woman” são um deleite, cheio de easter eggs e teorias, para os fãs de pop, que ainda veriam a pequena Grande se tornar uma performer como a muito não se via. 

Mas o meu xodó no álbum é mesmo “Breathin”. Música e clipe descrevem de forma poética as sensações durante uma crise de ansiedade, mal com que a cantora convive há anos. “Alguns dias, as coisas tomam muito da minha energia / Eu olho para cima e toda a sala está girando / Você leva embora minhas preocupações / Eu posso complicar demais, as pessoas me dizem para me medicar / Sinto meu sangue correndo, juro que o céu está caindo / Como eu sei se essa merda é inventada? / O tempo passa e eu não consigo controlar minha mente / Não sei mais o que tentar, mas você sempre me diz / Apenas continue respirando e respirando e respirando e respirando”.



O fim do noivado com o comediante Pete Davison, do SNL, e a morte de seu ex Mac Miller por uma overdose acidental de drogas, levaram Ari a virar a página “Sweetener” antes do esperado. A cantora já prepara o lançamento de um novo álbum e o primeiro gostinho dessa nova fase é “Thank you, next”, a música que, em uma era Rap/Hip-Hop, reconduziu o pop ao topo. 

Em nome dos fãs de música pop, Thank you, Ari! E que venha o próximo. Nós mal podemos esperar. 

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