Karim Aïnouz, diretor de Madame Satã, O Céu de Suely, Viajo porque preciso, volto porque te amo, O Abismo Prateado e Praia do Futuro, lançou ontem, 20, no Festival de Cannes, o seu novo trabalho: A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, filme que explora a história de duas irmãs que se perdem de vista e se encontram anos mais tarde. A estreia foi recebida com muitos aplausos para o cineasta cearense, que, assim como Kleber Mendonça Filho, propõe um retrato de um Brasil conservador.
Cannes 2019: Obra de Karim Aïnouz emociona público do Festival
Considerado uma pérola escondida em Cannes, filme ganha chances de ser premiado futuramente
Conhecido por seus dramas extremamente brasileiros, Aïnouz já explorou temas como o nordeste, abandono, igualdade de gênero, amores não correspondidos. Com sua filmografia é possível apontar uma sinceridade que, através das poucas palavras, fere o espectador habituado com outros tipo de dramas. Karim se dedica em exorcizar os seus demônios com o pouco texto e com imagens que chocam o público sem que ele se canse.
“O roteiro é a planta baixa de qualquer obra. Um filme nasce ali. Escreva seus filmes com o coração”, me disse Karim em uma entrevista feita em 2017. Arquiteto de formação, o diretor escreve, dirige e produz seus próprios filmes, garantindo uma liberdade mais profunda que os demais dramas brasileiros.
O longa tem estreia marcada para novembro. Confira os comentários sobre:
"Por fim, em cada elipse sutil da montagem se esconde um novo potencial desperdiçado por Guida e Eurídice devido às normas sociais. A cada salto no tempo, percebemos as oportunidades que Eurídice perdeu com a música, os amores que Guida descarta por sua posição de mãe solteira, a opinião que dona Ana é impedida de expressar devido à condição de mulher, mãe, filha, esposa. Aïnouz não precisa gritar a indignação contra o patriarcado: basta acompanhar a trajetória de décadas entre estas irmãs invisíveis, tão próximas e tão distantes, imaginando uma para a outra um destino melhor do que ambas realmente tiveram. As vidas invisíveis são várias, sofridas e melancólicas, e observadas com uma ternura comovente. Com A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, o cineasta brasileiro apresenta seu melhor filme dos últimos dez anos."
"Filme de maior vigor da mostra Un Certain Regard de Cannes, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão foi descrito em revistas europeias como “uma das joias secretas de Cannes”. Há uma pergunta em coro correndo pela Croisette em torno do trabalho de Karim: por que não está em competição. Há quem já aposte em prêmios para Fernanda, 21 anos depois do sucesso mundial de Central do Brasil (1998)."
"Karim Aïnouz sabiamente recorreu a memórias de infância de sua mãe solteira para um exame árduo de duas mulheres que lutavam contra a repressão e o preconceito no Brasil dos anos 50."
"Ao longo de mais de duas horas, o diretor martela as várias facetas do machismo, personificado em pais, maridos, médicos, colegas de trabalho e até outras mulheres."
"Esteticamente impecável na utilização de cores quentes e saturadas que equilibram o horror daquelas vidas com uma beleza exterior que sugere a possibilidade de deleites que jamais se concretizam (créditos à diretora de fotografia Hélène Louvart), este novo filme de Karim Aïnouz representa uma experiência tocante e envolvente em seus dois primeiros atos. Já no terceiro se torna sublime, pois é aí que surge a magia chamada Fernanda Montenegro."
"Potente em sentimentos, o filme reforça visualmente seu caráter melodramático com uma grande densidade de cores e uma atuação mais característica do teatro."
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