The Evil Dead (EUA) |
Em 1981, Sam Raimi conseguiu realizar algo extraordinário. Com um orçamento baixíssimo (em volta de 1,5 mil), o diretor reinventou os filmes idealizados dentro de uma cabana com jovens e demônios. Além disso, ainda conseguiu fãs por todo o planeta que apreciavam a maneira simples e assustadora que o longa fora realizado. Em 2009, Raimi entrou em contato com Fede Alvarez por seu recente curta-metragem viral que rolava pela internet. A conversa acabou resultando na ideia de uma reinvenção do “conto” original de 1981. Liberdade foi dada à Alvarez para que tomasse conta da história. Percebe-se, a início, a garra deste para uma boa adaptação, no entanto, ainda peca por alguns problemas graves percebíveis tanto para quem é ou não é fã do original.
Ao que tudo indicava, seria um Reboot. Mas se trata, na realidade, de uma (aparentemente) continuação audaciosa. A audácia já começa no pôster de divulgação: “O Filme Mais Aterrorizante que Você Verá Nesta Vida”. Talvez a frase cause muito mais impacto do que o próprio filme em si. A exploração realizada no contexto “demoníaco” não é das mais apavorantes; não há uma tensão em torno do tema; Alvarez deseja impactar seu público com a exploração de um terror sujo. O que acaba causando pavor são suas sequências nojentas: braços e pernas decepados, cabeças partidas ao meio... É interessante enxergar a necessidade que Alvarez teve de trazer um realismo a um filme que não desfrutava dessa característica. A maquiagem mais real, por exemplo, funciona para que, a início, os personagens vinculassem a possessão demoníaca à abstinência de drogas de Mia, a primeira a ser “invadida”. Ou seja, é uma ideia que, ainda que sutilmente forçada, funciona brevemente.
As referências aqui apresentadas chegam próximo à causar uma nostalgia (para quem assistiu o original na época). A trama, no entanto, se confunde muito ao misturar referências ao antigo, inserção de novos personagens e furos de roteiro alarmantes. Toda essa sensação confusa, entretanto, ainda pode ser respondia no capítulo posterior, que Alvarez diz já estar preparando. A ideia aqui é renovada: O Livro do Demônio, encontrado por Eric, traz todas as instruções, tanto para libertar os demônios, quanto para retirá-lo dos futuros possuídos. “Depois de cinco almas levadas, algo demoníaco ressurgirá da Terra”. Às vezes parece que Alvarez sabe que está trabalhando com clichês, já outras, sobra uma impressão de inocência. Como se trata de uma nova roupagem para um filme que se originou quando esses clichês ainda não eram entediantes, talvez se poupe esse escorrego. Quem se lembrou disso em John Carter, clichê, mas vindo de uma história onde a ideia ainda não era comum?
O ritmo pode causar estranheza pela rapidez com que tantas coisas acontecem. Fica parecendo a início, que, tendo como base o anterior, as mortes foram recriadas e só depois se passou a conectá-las com o enredo em si. A trama, além de errática, parece esticada ao tratar a ideia “assustadora” de maneira supérflua. Sam Raimi disse que este teria “O Final Mais Sangrento da História”. Tanta preparação e pretensão foram criadas, para uma cena criativa em algumas ideias, mas lenta em seu desenvolvimento; além do desfecho vazio e extremamente simples em uma ideia que já tinha sido explorada anteriormente.
Alguns personagens, por mais que muito mais desenvolvidos do que no original, ainda carecem de reações mais plausíveis. Lou Taylor Pucci, como Eric e Jane Levy como Mia são os únicos que se salvam de uma lavada de medianas para irregulares atuações. David, interpretado por Shiloh Fernandez é muito morno em sua caracterização e decepciona em seu final sem nexo algum – desta vez, deslize do roteiro.
As irregularidades de “A Morte do Demônio” são inegáveis, entretanto, o filme não deixa de ser divertido em sua excelência estética. Não me refiro nem à fotografia, que impressiona em algumas cenas, mas evidencio as nojeiras criadas com maestria. Segundo Raimi, não houve CGI em nenhuma cena; nada é digital, tudo o que se vê é real. Até a famosa cena do estupro das árvores foi realizada exatamente da mesma maneira como foi feita a cena de 1981; agora, com mais cuidado e um orçamento mais responsável, o resultado saiu realmente assustador. Fede Alvarez é outro que conclui um trabalho admirável de direção (fora alguns atores deslocados). Sua câmera regrada e calculada, ainda dá espaço para grandes homenagens à câmera subjetiva de Sam Raimi, quando o próprio demônio corre por entre as árvores. Sempre no ângulo correto e sugestivo em sua movimentação, cria cenas realmente memoráveis. O que não falta aqui, obviamente, é o sangue; essencial, tratado com respeito e com um alto grau de realismo.
“A Morte do Demônio”, mesmo não podendo fugir tanto da ideia original (que hoje já se tornou clichê), ainda explora essa ideia demais e fica preso a um ritmo comum. O filme, no entanto, não deixa de ser assustador e impecável em sua estética. A trama, como já foi evidenciado, não é uma das melhores, mas causa diversão por, de uma maneira ou de outra, já estarmos preparados para a maioria das cenas seguintes. É inteligente em algumas ideias, fraco em outras, e, em meio a um vai e vem de pontos positivos e negativos. Muita coisa pode ser dita desta nova produção de Terror, mas não que é uma produção “como todas as outras”. O que não quer dizer que haja algo genial por aqui.
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