Brega: gênero musical popular
brasileiro com raízes e destaque na região nordeste, caracterizado por suas
músicas que misturam romance e sedução, e por suas cantoras excêntricas e de
visual espalhafatoso. É nos bastidores dessa atmosfera que se desenvolve o
drama “Amor, Plástico e Barulho” (2013), da diretora pernambucana Renata
Pinheiro, e premiado em festivais como o de Brasília (2013) e Aruanda (2013). O
longa-metragem foi exibido em Fortaleza pela primeira vez nessa sexta (13),
como parte da II Mostra Cultura de Cinema Brasileiro.
A trama do filme se desenrola em
torno de Jaqueline (Maeve Jinkings), vocalista da banda Amor com Veneno, cuja carreira encontra-se em um patamar de
incerteza, resultando em crises de alcoolismo e sintomas depressivos. Em
contraponto, a jovem dançarina Shelly (Nash Laila), também integrante da banda,
está determinada a atingir o sucesso e realizar o sonho de tornar-se cantora de
Brega, independente das dificuldades que surgem em seu caminho.
A temática de Decadência versus Ascensão não é inédita no cinema
– Hollywood a explorou nas três versões de “Nasce Uma Estrela” (1937, 1954,
1976), e até mesmo no recente e premiado “O Artista” (2011) – mas, no longa-metragem
de Renata Pinheiro, sua essência é adaptada para cenários brasileiros, e com
destino que diverge do esperado. É importante salientar a realidade precária em
que nasce o Brega: uma condição
social de baixas perspectivas, em total contraste com o glamour que é representado nos palcos. Contraste esse que ganha
espaço para ser devidamente explorado no filme.
As atuações de Maeve e Nash são
dignas dos prêmios que receberam nos festivais anteriormente citados; A
interpretação que a protagonista (também atriz de “O Som ao Redor”, 2012) dá ao
compor Jaqueline é autêntica, e presume perfeitamente as angústias e a
vulnerabilidade de alguém que adentrou o universo da fama e agora sofre com sua
inconsistência. Nash transmite com o olhar todo resquício de ambição e sonho
presentes em Shelly, estruturando uma coadjuvante que ganha holofotes por sua
força, poder e carisma. Ambas personagens opostas, complementares e sexy.
A edição e a direção de arte da
produção são os principais responsáveis em transportar o espectador para cenas
de ambiente quase onírico, com colorido que beira ao psicodélico. Um espetáculo
de neon e glitter, que caracteriza
toda a extravagância presente no Brega, principalmente na sua vertente Techno. “Caracteriza” no sentido da
palavra que se assemelha a “character” (do
inglês, “personagem”), pois contribui fortemente para a narrativa da trama,
assim como outro elemento essencial: a música. Mesmo que o gênero não agrade a
alguns, a música surge de forma envolvente, contribuindo para toda a atmosfera
que o filme emana. Novas interpretações de hits
populares ajudam ainda mais a entender o nível emocional dos personagens.
“Amor, Plástico e Barulho” surge como uma
análise do show business em toda a sua latência, para demonstrar aquilo que
Jaqueline cita em um dos seus monólogos: “Esse negócio de sucesso é
descartável”.
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