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A Fuga (2013) | A Regra escassa de Identidade


Stefan Ruzowitzky foi reconhecido quando levou seu Oscar pra casa, com o estrangeiro “Os Falsários”. Seu primeiro bom projeto hollywoodiano pretendia ser este, “A Fuga”. No entanto, o longa não passa de um amontoados de clichês e momentos rasos. Sem nenhuma pretensão de ser ótimo, existem falhas e absurdas quebras de ritmos. 
Eric Bana parecia promissor em seu personagem – nos trailers e nos pôsteres. Mas, mesmo com poucos pontos positivos, não deixa de ser um personagem fraco e muito raso em suas ideias. O erro aqui pode nem ser do Eric, mas lhe faltou identidade. Olivia Wilde interpreta Liza, a criminosa inocente que vive nesse mundo por falta de oportunidade e por causa de seu irmão, Addison, interpretado por Eric Bana. Em outro núcleo, Charlie Hunnam é Jay, um filho problemático do casal June e Chet, interpretados por Sissy Spacek e Kris Kristofferson. Liza e Addison estão em fuga por causa de um dinheiro roubado e Jay por uma possível morte acidental. Os enredos afastados vão se afunilando em um turbilhão de acontecimentos e findam de maneira um tanto previsível. Aliás, fraqueza é o que existe na construção da maioria dos personagens que, enforcados pela trama, não possuem tempo o suficiente para se certificarem ou conquistarem o público.
O clímax do filme deixa muito a desejar por criar um ambiente em contrassenso. É uma verdadeira mistura absurda dos clímaces de “Killer Joe” e de “Django Livre”. Por mais que não tenha sido intencional, diferente dos títulos citados, o filme não trabalha bem com sua ideia – o vilão é simplesmente surtado, e essa se torna a sua característica principal, utilizada de maneira clichê; diferente de Killer Joe e Calvin Candie.
O enredo se passa perto de uma fronteira do Canadá. O cenário, portanto, é sempre muito semelhante – os quilômetros recheados de neve, ruas imersas na mesma e tempestades. A fotografia, nesse sentido, traduz elementos muito simples e não foge do comum; por mais que fosse uma tarefa complicada sair desse patamar. A ação de Stefan pode parecer confusa, mas, ainda assim, cumpre seu dever diante de diferentes situações. No entanto, a dor parece ser algo que não existe para Stefan. Os personagens agem tranquilamente depois de um dedo decepado, uma mão partida ao meio ou um perfurante tiro na perna. Ainda existem certas demonstrações, mas é tudo muito superficial. O realismo ficou de fora, não só nesse quesito, como também nos momentos vertiginosos e nas decisões dos próprios personagens. O roteiro de Zach Dean não convence. Por mais que ele tenha criado uma trama adversa, a qualidade cai nas péssimas falas e situações absurdas. Ainda existe, no roteiro, uma tentativa de conexão entre as personagens, mas, de longe, não foi uma ideia bem sucedida.
Mesmo em meio a jogos de sedução gratuitos, clichês dissimulados, personagens mal desenvolvidos e uma história que se resvala em um clímax absurdo, o filme ainda consegue entreter superficialmente com seu suspense em torno do destino da própria história – por mais que várias coisas possamos prever. “A Fuga” não deixa de ser uma regular diversão; um filme para se assistir uma única vez. Talvez se assista outra vez, um ano depois, já que este não é nada memorável e seja fácil se esquecer até de tê-lo assistido um dia.

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