Submeter o cinema e toda a sua subjetividade a condições de competição é uma atitude de extrema arrogância, ignorância e desrespeito aos seus realizadores. Entretanto, em uma sociedade definida em termos de competição, os Oscars são um mal necessário.
A indústria americana de cinema está em decadência a um bom tempo e sua queda se agravou ainda mais, ultimamente, com a crise imobiliária americana. O resultado disso é que os estúdios passaram a investir quase exclusivamente no que é “mais rentável” (filmes de super-heróis, adaptações de best-sellers e prequels, sequels e reboots de filmes já conhecidos pelo publico). A verdade é que o mercado massacrou a originalidade em Hollywood, pois no cinema-comércio não há espaço para experimentação.
O Oscar ou premio da Academia surge durante a ascensão do cinema americano e se consolida como a palavra final do que, supostamente, é bom ou é ruim no grande circuito. A premiação é arrogante e define por “melhor” aquilo que está mais de acordo com os interesses da academia. Contudo, o evento se tornou muito popular e hoje serve como uma importante publicidade para os filmes. Como a premiação exige que certas obras se destaquem das outras, a existência dela é o que garante, atualmente, o resquício de originalidade que ainda vemos no grande cinema.
Além de sua importância para o cinema em geral, o Oscar também atrai o meu interesse, por que assisti-lo e estuda-lo é a forma mais simples de entender a situação de Hollywood e como a academia lida com as questões do mundo. Pois bem, analisemos então o Oscar 2015. Como eu já disse, está ocorrendo uma crise de originalidade nos grandes estúdios e a academia está obviamente aborrecida e decepcionada com o que eles têm produzido. O primeiro resultado desse desanimo com o grande cinema está em uma lista de indicados a melhor filme composta de produções independentes (Boyhood e Whiplash) e um filme de critica a indústria do cinema. Birdman caiu como uma luva. Um filme que ironiza os filmes de super-heróis e o cinema de mercado e ainda por cima é dirigido por um estrangeiro. Era o puxão de orelha que a academia sonhava em dar nos donos dos grandes estúdios.
A cerimônia foi muito séria. Neil Patrick Harris teve seus momentos (abertura musical, sátira a Birdman com participação de Milles Teller e a apresentação de suas previsões), mas não empolgou, provavelmente porque a platéia estava mergulhada na tensão do que seria um dos Oscar mais concorridos de todos. Seria.
A lista de indicações mostrou pela primeira vez uma preocupação da academia em reconhecer diretores autorais, experimentais e originais como Linklater e Wes Anderson. No entanto, a entrega efetiva dos prêmios não valorizou esses diretores como se imaginava. Richard linklater e seu filme boyhood foram esnobados e wes anderson com o seu peculiar "o grande hotel Budapeste" só foi reconhecido em categorias técnicas.
A Academia também costuma usar a premiação para expor suas tendencias politicas e demonstrar suas opiniões sobre diversos temas por meio das suas escolha. Nesse ano nada disso aconteceu. Na realidade, tive até a impressão de que houve um certo esforço, por parte da Academia, em se mostrar "em cima do muro". Para contrabalancear o republicano American Sniper, entrou na lista de indicados a melhor filme, o revolucionário Selma, trazendo Commom e John Legend para emocionar toda a plateia com o seu hino "glory" e um discurso acalorado sobre igualdade. Além de john legend e commom outros artistas aproveitaram para levantar a bandeira de suas causas. Patricia Arquette pediu por igualdade de direitos entre homens e mulheres e Graham Moore fez um apelo pelo fim do preconceito.
O Oscar 2015 fez indicações muito ousadas. Foi bom ver o cinema independente finalmente reconhecido pela Academia. Contudo, por maior a quantidade de candidatos, que se ganhando mostrariam transformações na premiação, foram escolhidos para receber a estatueta apenas aqueles que poderiam apenas representar o imutável conservadorismo do Oscar. Enquanto os atores e diretores tendem a situar os seus trabalhos no mundo em vivemos, mais uma vez, a Academia ignora o mundo ao redor e as mudanças que ele sofre.
Em 2015 tivemos um Oscar quadrado, sem surpresas e que só me fez lembrar que a premiação é um mal necessário, mas ainda é um mal.
Excelente texto! Parabéns, Rodrigo!
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