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Divertida Mente (2015) | O retorno cheio de emoção da Pixar

Escrito e dirigido por Pete Docter ("Monstros S.A.", "Up! Altas Aventuras"), "Divertida Mente" (Inside Out) é um dos filmes mais diferentes e inteligentes da Pixar Animation Studios até agora. Lançado dia 18 de Junho em terras brasileiras, o longa pretende inovar em seu design criativo, e cativar adultos e crianças com seu roteiro divertido e cheio de metáforas. 

A trama desenrola-se em volta de Riley, uma garota de 11 anos nascida em Minessota (EUA) que acaba de mudar-se com seus pais para São Francisco, enfrentando as  dificuldades típicas da mudança de cidade, como a saudade dos amigos e do antigo time de hóquei que integrava. Entretanto, antes desse evento-chave, somos introduzidos à Riley desde seu nascimento, e consequentemente às emoções que começam a surgir na sua cabeça durante o passar dos anos: Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo. A proposta do filme é explicar de forma lúdica o processo de formação das memórias e sua importância para a definição de personalidade, em conjunto com os sentimentos que relacionam-se à elas. 

O roteiro de Divertida Mente apresenta situações que explicam de maneira descontraída perguntas como "o que acontece em nossa mente durante um pesadelo?" ou "por que uma música 'gruda' na nossa cabeça?", destacando-se logo de início por sua originalidade. Pergunto-me: por que nunca fizeram um filme assim antes? E fico grato por finalmente o terem realizado. E, com o avançar dos atos, a película só tende a melhorar, pois deparamo-nos com representações metafóricas de questões como depressão e identidade de gênero (todas as emoções na cabeça do pai de Riley são "masculinas", e todas na de sua mãe são "femininas". Por que Riley possui um conjunto "misto"?). São nesses pequenos detalhes que a genialidade do filme de Docter se encontra.

O terceiro ato do longa-metragem certamente merece destaque. Enquanto os adultos da sala de cinema em que eu me encontrava tentavam disfarçar suas lágrimas, uma criança perguntou "mãe, porque a Alegria está triste?", e a responsável pelo garoto logo respondeu "porque existem alguns momentos na vida em que é impossível não ficar, filho". Nesse momento, percebi que os propósitos do filme haviam sido atingidos.

Quanto aos quesitos técnicos, é importante destacar como um cenário tão "limitado" quanto a cabeça de uma criança conseguiu ser explorado de forma tão ampla, revelando um trabalho interessantíssimo que resulta de muitas artes conceituais. Percebi um pouco de influência das imensas cataratas, abismos e selvas de "Up!" na composição dos cenários de maior magnitude, e considero isso um defeito quanto à ambientações, mas que não compromete a qualidade do filme. Quanto às emoções, há um trabalho maravilhoso de construção visual e escolha de cores, dialogando bastante com cromaterapia e até com as nossas próprias percepções inconscientes. Destaque também para o fato dos personagens serem constituídos de "partículas", outra sacada bastante inteligente.

A trilha de Michael Giacchino não consegue marcar o espectador de forma instantânea, mas pode ganhar o carinho do público com a futura popularização do filme, algo que ocorreu com muitos outros filmes da Pixar. Na dublagem brasileira, um trabalho satisfatório, que esconde o grupo de comediantes e apresentadores por trás das vozes (Miá Mello, Katiuscia Canoro, Dani Calabresa, Otaviano Costa, Léo Jaime e até Sidney Magal), mas que ainda não mostra-se tão bem executado quanto a dublagem original.

Em suma, "Divertida Mente" é um filme belo e singular, que com certeza cairá nas graças dos espectadores e irá se consolidar como um dos clássicos do estúdio, junto aos dois citados anteriormente, a trilogia "Toy Story", "Wall-e", "Ratatouille","Os Incríveis" e outros.

Alegria e Tristeza, as emoções de maior destaque no filme



Gênero: Animação, Comédia Dramática
Direção: Pete Docter
Roteiro: Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley
Produção: Jonas Rivera
Montador: Kevin Nolting
Trilha Sonora: Michael Giacchino 
Duração: 94min

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