Oscar
Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 1854 em Dublin, estudou na
Trinity College de Dublin e, posteriormente, no Magdalen College em
Oxford. Seu único romance foi O retrato de Dorian Gray e seu sucesso
como dramaturgo foi efêmero. Morreu em 1900 em Paris, três anos
após ter sido libertado da prisão por ter sido pego em flagrante
indecência. O
retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em 1891 em
formato de livro em uma versão bastante modificada do romance
original de Oscar Wilde, pois foi considerado muito ousado para sua
época. Já tinha sido editado quando publicado em série na revista
literária Lippincott’s em 1890 e depois ainda foi alterado pelo
próprio Wilde, que em resposta às duras críticas, fez sua própria
edição para a publicação em livro.
Estamos
falando de uma Inglaterra do século XIX bastante tradicionalista e
preconceituosa, assim, a versão original, tirada do manuscrito de
Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de
Inglês na Universidade de Virginia, teve acesso ao original
datilografado de Wilde, revisitando e restaurando o romance como foi
pensado originalmente. The Picture of Dorian Gray: An Annotated,
Uncensored Edition foi finalmente publicado pela Harvard University
Press e agora temos acesso no Brasil pela Biblioteca Azul Sinopse.
O
Retrato de Dorian Gray
é um dos livros
que possui diversas adaptações, por isso sua história é bastante
conhecida e famosa. Porém, a mais conhecida adaptação
cinematográfica é a de 2009, dirigido por Oliver Parker com roteiro
de Toby Finlay e estrelado por Ben Barnes e Colin Firth nos papeis
principais. O filme recebeu inúmeras críticas, referente
principalmente pelo roteiro e à atuação. O Rotten Tomatoes deu 42%
de aprovação ao filme, baseado nas opiniões das críticas.
Dorian
Gray é um rapaz que
possui uma beleza excepcional que encanta a todos de tal modo que
vira uma inspiração para o pintor Basil Hallward. Esse pintor passa
a idolatrar a imagem de Dorian e assim cria sua obra-prima, um quadro
que retrata toda beleza do seu muso.
É
através de Basil que Dorian conhece Lorde
Henry Wottom, um amigo
que influenciará por toda a vida. Lorde Henry Wotton, um aristocrata
da sociedade britânica, decide mostrar ao rapaz o quanto a
juventude, beleza e carisma devem ser aproveitados, já que o que
importa a seu ver é a busca incessante pelo prazer sem se importar
com as causas ou a forma como se faz essa busca. Henry é um
personagem extremamente sarcástico, a ponto de ser inconseqüente. E
é nesse primeiro encontro com Henry que Dorian vê seu quadro pela
primeira vez, percebendo assim toda sua juventude e beleza, e toda
essa beleza que inspira o desejo de continuar possuindo essa
juventude retratada no quadro.
"Como
é triste! - murmurou Dorian Gray com os olhos ainda fixados no
retrato - Como é triste! Vou ficar velho, feio, desprezível. Mas
este retrato ficará jovem para sempre. Nunca mais será velho do que
neste dia de junho… Se simplesmente fosse o contrário! Se eu
permanecesse jovem para sempre, e o quadro envelhecesse! Por tal
coisa - por isso - eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu
não desse!"
A
narrativa do livro tem um que de conto fantástico com influências
góticas e o comentador explicita sua relação com O Médico e o
Monstro, outra grande história vitoriana a respeito de duplicidade.
Oscar Wilde
coloriu ou cobriu de terror uma história que na realidade é ácida
e irônica. A ironia maior está no retrato que ele faz da sociedade
de sua época, onde homens e mulheres são extremamente corretos, mas
dispostos e fascinados por um belo jovem que nunca envelhece. O autor
aponta o dedo sem perdão e constrói um maravilhoso jogo em que
personagens da vida real são expostos sob a fachada da ficção.
Oscar
Wilde ousou em apontar a
hipocrisia de uma época que mentia como respirava. Indubitavelmente
a sociedade vitoriana existia sob disfarces, mentiras e esse romance
vieram abrir a caixa de pandora desses artifícios. Muito mais do que
falar sobre homossexualidade essa obra fala da hipocrisia de uma
sociedade. Nas edições atuais revelam a relação entre personagens
do livro e pessoas da vida real, assim como os locais citados pelo
autor, como clubes e teatros.
É
interessante a discussão que Wilde propõe neste livro, onde a
superficialidade dos conceitos muda em relação aos outros, onde a
aparência é o mais importante. O julgamento e controle social, a
discussão constante entre o bem e o mal, o moral e o imoral e até
que ponto uma pessoa é capaz de influenciar outra e lhe modificar o
caráter. É
uma história universal sobre a natureza humana, escrita sem
parâmetros de moralidade, onde o maior mérito do escritor é manter
um estilo leve, com fluidez, facilitando uma leitura ou quem sabe uma
releitura.
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