

Estamos
falando de uma Inglaterra do século XIX bastante tradicionalista e
preconceituosa, assim, a versão original, tirada do manuscrito de
Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de
Inglês na Universidade de Virginia, teve acesso ao original
datilografado de Wilde, revisitando e restaurando o romance como foi
pensado originalmente. The Picture of Dorian Gray: An Annotated,
Uncensored Edition foi finalmente publicado pela Harvard University
Press e agora temos acesso no Brasil pela Biblioteca Azul Sinopse.
O
Retrato de Dorian Gray
é um dos livros
que possui diversas adaptações, por isso sua história é bastante
conhecida e famosa. Porém, a mais conhecida adaptação
cinematográfica é a de 2009, dirigido por Oliver Parker com roteiro
de Toby Finlay e estrelado por Ben Barnes e Colin Firth nos papeis
principais. O filme recebeu inúmeras críticas, referente
principalmente pelo roteiro e à atuação. O Rotten Tomatoes deu 42%
de aprovação ao filme, baseado nas opiniões das críticas.
Dorian
Gray é um rapaz que
possui uma beleza excepcional que encanta a todos de tal modo que
vira uma inspiração para o pintor Basil Hallward. Esse pintor passa
a idolatrar a imagem de Dorian e assim cria sua obra-prima, um quadro
que retrata toda beleza do seu muso.
É
através de Basil que Dorian conhece Lorde
Henry Wottom, um amigo
que influenciará por toda a vida. Lorde Henry Wotton, um aristocrata
da sociedade britânica, decide mostrar ao rapaz o quanto a
juventude, beleza e carisma devem ser aproveitados, já que o que
importa a seu ver é a busca incessante pelo prazer sem se importar
com as causas ou a forma como se faz essa busca. Henry é um
personagem extremamente sarcástico, a ponto de ser inconseqüente. E
é nesse primeiro encontro com Henry que Dorian vê seu quadro pela
primeira vez, percebendo assim toda sua juventude e beleza, e toda
essa beleza que inspira o desejo de continuar possuindo essa
juventude retratada no quadro.
"Como
é triste! - murmurou Dorian Gray com os olhos ainda fixados no
retrato - Como é triste! Vou ficar velho, feio, desprezível. Mas
este retrato ficará jovem para sempre. Nunca mais será velho do que
neste dia de junho… Se simplesmente fosse o contrário! Se eu
permanecesse jovem para sempre, e o quadro envelhecesse! Por tal
coisa - por isso - eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo que eu
não desse!"
A
narrativa do livro tem um que de conto fantástico com influências
góticas e o comentador explicita sua relação com O Médico e o
Monstro, outra grande história vitoriana a respeito de duplicidade.
Oscar Wilde
coloriu ou cobriu de terror uma história que na realidade é ácida
e irônica. A ironia maior está no retrato que ele faz da sociedade
de sua época, onde homens e mulheres são extremamente corretos, mas
dispostos e fascinados por um belo jovem que nunca envelhece. O autor
aponta o dedo sem perdão e constrói um maravilhoso jogo em que
personagens da vida real são expostos sob a fachada da ficção.
Oscar
Wilde ousou em apontar a
hipocrisia de uma época que mentia como respirava. Indubitavelmente
a sociedade vitoriana existia sob disfarces, mentiras e esse romance
vieram abrir a caixa de pandora desses artifícios. Muito mais do que
falar sobre homossexualidade essa obra fala da hipocrisia de uma
sociedade. Nas edições atuais revelam a relação entre personagens
do livro e pessoas da vida real, assim como os locais citados pelo
autor, como clubes e teatros.
É
interessante a discussão que Wilde propõe neste livro, onde a
superficialidade dos conceitos muda em relação aos outros, onde a
aparência é o mais importante. O julgamento e controle social, a
discussão constante entre o bem e o mal, o moral e o imoral e até
que ponto uma pessoa é capaz de influenciar outra e lhe modificar o
caráter. É
uma história universal sobre a natureza humana, escrita sem
parâmetros de moralidade, onde o maior mérito do escritor é manter
um estilo leve, com fluidez, facilitando uma leitura ou quem sabe uma
releitura.
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