Na fria e acinzentada cidade Southcliffe, uma idosa trata de
seu jardim. Fortes barulhos são ouvidos, sem acreditar no que estava
vivenciando, a senhora contempla uma mancha rubra em sua camisa ficar cada vez
maior por conta tiros que acertaram o seu tronco, por fim, seu corpo pende e
cai sem vida ao chão. Na úmida névoa, a forma escura e desfocada de um homem se
aproxima e segue caminhando pelas ruas nebulosas e campos abertos, tirando a
vida de quem tenha o infortúnio de encontra-lo.
Ao fim do dia, quinze pessoas foram assassinadas por este
homem, a ausência de justificativa de tal ato adquire a atenção de jornais e tabloides
de vários lugares. David Whitehead, um jornalista e morador de Londres, é
designado para realizar a cobertura da tragédia e dar o seu relato pessoal.
David, indesejavelmente retorna a pequena cidade, relembrando os desagradáveis
acontecimentos que viveu naquele local quando era criança. Nas reportagens
Southcliffe é descrita como uma cidade com boas pessoas, que não cometem
injúrias. No entanto, instigado pela raiva daquela falsa imagem, David
manifesta a sua real opinião, sem ter ideia que aquilo seria a destruição de
tudo o que construiu.
Por questão de algumas horas, Anna Salter teria uma vida
normal, mas naquela específica manhã, Anna saiu mais cedo para correr e foi por
um acaso que encontrou Stephen Morton, o assassino, tornando-se mais uma
vítima. Seus pais, Andrew e Claire, suportaram o luto de formas distintas,
Andrew persiste em continuar sua vida, porém, Claire deseja apenas manter viva a
memória de sua filha, terminando o que Anna não foi capaz de fazer.
Paul Gould, embevecido pela prazerosa noite que tivera, dirige
de volta a sua casa, após novamente ter traído sua esposa, com uma jovem. O
caminho escolhido é interrompido por policiais, que interditaram parte uma
estrada, pois destroços de um carro estão espalhados. Ao reconhecer a placa do
carro, Paul recebe a notícia de que dentro do veículo se encontram sua esposa, Sarah
e seus dois filhos, mortos pelo o atirador. Sem a família e com a dor do
remorso, sua vida passa a ter um destino incerto.
Chris Cooper é um soldado que acabou de retornar do
Afeganistão, em um pub da cidade conhece Stephen que se apresenta como um
soldado que atuou no mesmo local que Chris. Tempos depois, Chris e seu pai,
também um militar, descobrem que Stephen mentiu sobre sua servidão ao exercito, por este motivo Chris e seu pai o espancam. No dia seguinte os quinze assassinatos foram cometidos.
Seja por vingança, distúrbios psicóticos ou qualquer outra
motivação, a razão da onda de homicídios não é definida, este não é o foco desse
telefilme, muito menos a busca pelo assassino. O núcleo de Southcliffe é tratar
o luto, a ética e principalmente a forma como os indivíduos lidam com os
outros, apesar de ser um exemplo extremo, há semelhança real com catástrofes que
encheram as páginas de notícias.
Escrita por Tony Grisoni, Southcliffe é uma minissérie dividida
em quatro partes. A minissérie possui uma narrativa peculiar, o espectador
assiste aos momentos durante a tragédia, cortando para flashbacks dos
personagens que perderam entes e acontecimentos de um ano após os homicídios. Com
Sean Durkin na direção, os cortes de cenas adquiriram um tom sentimental mais
profundo e a alternância entre flashbacks e flash forwards chamam a atenção do
espectador que ao longo dos episódios, constrói uma linha de desenvolvimento de
cada personagem.
Southcliffe, em quatro episódios demonstra uma história de sensibilidade, orquestrado por um ótimo grupo de atores e de uma excelente produção técnica. Apesar de não terminar da maneira que muitos imaginam e ter deixado histórias que poderiam ter continuação, a minissérie agrada bastante aqueles que buscam uma trama de cunho psicológico.
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