Solace (EUA) |
Em sua estréia em Hollywood, o brasileiro Afonso Poyart teve que encarar uma difícil tarefa: dirigir o já consagrado Anthony Hopkins em um thriller de suspense produzido pelo eterno Hannibal. Em "Solace" (Presságios de um Crime) Hopkins é John Clancy, um médico clarividente que vive isolado após a traumatizante morte de sua única filha, morta após anos de tratamento contra a leucemia. Tudo o que Clancy deseja é sossego para contemplar sua tristeza. E seu sossego é cortado com a chegada de seu amigo, o policial da FBI Joe Merriweather (Jeffrey Dean Morgan). Joe pede sua ajuda para solucionar uma série de assassinatos realizados por um serial killer.
Inicialmente John não aceita o caso, mas a entrada da agente e psiquiatra Katherine Cowles (Abbie Cornish), muda seus planos: John consegue prever algo que o intriga e decide aceitar o caso. O médico desenvolverá um carinho quase paternal por Katherine, que embora lembre sua filha, é uma psiquiatra e representa a razão em detrimento à emoção. Ela o respeita, embora seja cética com relação à capacidade do médico em prever o futuro. Uma ótima equipe, dirá Joe.
Inicialmente é preciso dizer que o filme não esconde nada. Não há alguém do elenco que se revelará o assassino (o culpado é sempre o mordomo) e desde as primeiras cenas sabemos com quem estamos lidando. O assassino está próximo e sabe de tudo, e possui as mesmas capacidades de clarividência que John possui. O médico tem consciência que Charles é um clarividente superior a ele próprio e que está a brincar com todos. "Estamos fazendo seu jogo", dirá em determinado momento. Sua sombra acompanha as visões de John, e nelas surgem o futuro e o passado, misturados em cenas justapostas e nauseantes.
As visões tornam-se mais claras quando finalmente entramos em contato com o assassino Charles Ambrose (Colin Farrell). Ele deixa pistas de que tem plena consciência do futuro, e que talvez não seja o psicopata que pensamos ser. Antes ele se enxerga como uma espécie de redentor, uma esperança de humanidade em forma de assassino. E se o roteiro não esconde o assassino, também não faz questão de delinear claramente heróis ou vilões. A mente diferenciada de Charles acredita matar para fazer o bem às vítimas. E o pior, chega a nos convencer disso.
A direção de Poyart é bastante eficaz na construção e sustentação do roteiro, e o efeito das cenas justapostas é contagiante, tanto que nos deixa com a impressão de que se piscarmos o olho perdemos algo. O filme prende a nossa atenção e traz algumas questões de cunho psicológico e filosófico que perduram algum tempo: será possível mudar o futuro com base do que sabemos dele no presente? E se podemos, queremos de fato mudá-lo? A linha tênue que separa a psicopatia e a razão de Charles parece também um tanto tênue e nos vemos seduzidos pela razão dentro da mente de um psicopata, tanto que de forma dolorosa, entendemos seus motivos. Palmas para o bom roteiro escrito por Sean Bailey.
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