Pular para o conteúdo principal

Presságios de crime (2015) | Não esconde seu mistério

Solace (EUA)
Em sua estréia em Hollywood, o brasileiro Afonso Poyart teve que encarar uma difícil tarefa: dirigir o já consagrado Anthony Hopkins em um thriller de suspense produzido pelo eterno Hannibal. Em "Solace" (Presságios de um Crime) Hopkins é John Clancy, um médico clarividente que vive isolado após a traumatizante morte de sua única filha, morta após anos de tratamento contra a leucemia. Tudo o que Clancy deseja é sossego para contemplar sua tristeza. E seu sossego é cortado com a chegada de seu amigo, o policial da FBI Joe Merriweather (Jeffrey Dean Morgan). Joe pede sua ajuda para solucionar uma série de assassinatos realizados por um serial killer.

Inicialmente John não aceita o caso, mas a entrada da agente e psiquiatra Katherine Cowles (Abbie Cornish), muda seus planos: John consegue prever algo que o intriga e decide aceitar o caso. O médico desenvolverá um carinho quase paternal por Katherine, que embora lembre sua filha, é uma psiquiatra e representa a razão em detrimento à emoção. Ela o respeita, embora seja cética com relação à capacidade do médico em prever o futuro. Uma ótima equipe, dirá Joe.

Inicialmente é preciso dizer que o filme não esconde nada. Não há alguém do elenco que se revelará o assassino (o culpado é sempre o mordomo) e desde as primeiras cenas sabemos com quem estamos lidando. O assassino está próximo e sabe de tudo, e possui as mesmas capacidades de clarividência que John possui. O médico tem consciência que Charles é um clarividente superior a ele próprio e que está a brincar com todos. "Estamos fazendo seu jogo", dirá em determinado momento.  Sua sombra acompanha as visões de John, e nelas surgem o futuro e o passado, misturados em cenas justapostas e nauseantes.

As visões tornam-se mais claras quando finalmente entramos em contato com o assassino Charles Ambrose (Colin Farrell). Ele deixa pistas de que tem plena consciência do futuro, e que talvez não seja o psicopata que pensamos ser. Antes ele se enxerga como uma espécie de redentor, uma esperança de humanidade em forma de assassino. E se o roteiro não esconde o assassino, também não faz questão de delinear claramente heróis ou vilões. A mente diferenciada de Charles acredita matar para fazer o bem às vítimas. E o pior, chega a nos convencer disso.

A direção de Poyart é bastante eficaz na construção e sustentação do roteiro, e o efeito das cenas justapostas é contagiante, tanto que nos deixa com a impressão de que se piscarmos o olho perdemos algo. O filme prende a nossa atenção e traz algumas questões de cunho psicológico e filosófico que perduram algum tempo: será possível mudar o futuro com base do que sabemos dele no presente? E se podemos, queremos de fato mudá-lo? A linha tênue que separa a psicopatia e a razão de Charles parece também um tanto tênue e nos vemos seduzidos pela razão dentro da mente de um psicopata, tanto que de forma dolorosa, entendemos seus motivos. Palmas para o bom roteiro escrito por Sean Bailey.

Avaliação:


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leonard Nimoy, eterno Spock, morre aos 83 anos

A magia que um personagem nos passa, quando sincera, é algo admirável. Principalmente quando o ator fica anos trabalhando com a mesma figura, cuidando com carinho e respeitando os fãs que tanto o amam também. E, assim foi Leonard Nimoy . O senhor Spock de Jornada nas Estrelas , que faleceu ontem (27/02) por causa de uma doença pulmonar, aos 83 anos. O ator, diretor, escritor, fotógrafo e músico deixou um legado imenso para nós. E isso é algo que ele sempre tratou com muita paixão: a arte. A arte de poder fazer mais arte. E com um primor de ser uma boa pessoa e querida por milhares. E por fim, a vida atrapalhou tal arte. Não o eternizou como o seu personagem. Mas apenas na vida, pois no coração e na memória de todos, o querido Nimoy vai permanecer perpétuo nessa jornada. Um adeus e um obrigado, senhor Leonard Nimoy, de Vulcano. Comece agora, sua nova vida longa e próspera, onde quer que esteja.

Mad Max (1979) | O cinema australiano servindo de influência

Para uma década em que blockbusters precisavam ter muitos efeitos visuais e grandes atros do momento, como em Alien - O Oitavo Passagéiro , Star Wars , Star Trek  etc, George Miller teve sorte e um roteiro preciso ao provar que pode se fazer filme com pouco dinheiro e com um elenco de loucos.   Mad Max , de 1979, filme australiano com uma pegada  exploitation,  western e de filmes B, mas que conseguiu ser a estrada para muitos filmes de ação de Hollywood atualmente.   Miller, dirigiu, escreveu e conseguiu com um orçamento de 400 mil filmar um dos mais rentáveis do planeta. O custo do filme foi curto e assim, tudo foi pensado no roteiro e nos diálogos que o filme ia exibir. Como os textos sobre o futuro, humanidade e seu fim, e o Max do título. O filme é rodado com o Mel Gibson sendo o centro. Seus diálogos curtos demonstram o homem da época, e com uma apologia ao homem do futuro. Uma pessoa deformada pelas perdas e com a vontade de ter aquilo que não pode ter, e que resulta no

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) | Peter Jackson cumpre o que prometeu

    Não vamos negar que a trilogia O Hobbit possui grandes problemas. O que é uma pena, já que a trilogia anterior ( O Senhor dos Anéis ) não tem falha alguma. Contudo, o que tinha de errado em Uma Jornada Inesperada e Desolação de Smaug , o diretor Peter Jackson desfaz nessa última parte. O que é ótimo para os espectadores e crível para os adoradores da saga da terra-média de longa data.     O filme apresenta problemas diversos, por exemplo, um clímax logo na primeira cena (se é que você me entende) e um personagem que não consegue momento algum ser engraçado. Falhas como essas prejudicam o filme como todo. O roteiro, por ser o mais curto dos três, precisava de mais tempo em tela, e dessa forma, cenas e personagens sem carisma são usados repetidas vezes e com uma insistência sem ter porquês. Mas, em contra partida, O Hobbit e a Batalha dos Cinco Exércitos consegue ser mais direto, objetivo e simples que seus antecessores, que são longos e cheios de casos como citei. E o real mo