Concussion (EUA) |
O americano médio cresce com a certeza de que vive na melhor pátria e que todo o mundo deseja ser igual a ele. Uma das coisas mais irritantes para nós que não vivemos na terra do Tio Sam é identificar o extremo egocentrismo dos filmes americanos. E na ânsia de mostrar o quanto são bons, por vezes não se apercebem da falta de respeito com outras nações do mundo, diminuindo-as e aos seus. Nesse momento percebemos o quanto o "sonho americano" tão alardeado nas políticas e nos filmes é arrogante em sua essência. Para o norte-americano, os nascidos em sua nação são evoluídos e bondosos, mas na realidade boa parte é apenas neurótica e egocêntrica.
É sob esse preâmbulo que começo a falar sobre Um Homem Entre Gigantes (Concussion), novo filme dirigido por Peter Landesman (JFK, a História Não Contada). E é necessário dizer que este não é apenas um drama sobre esportes; na verdade ele aborda questões muito mais complexas: Concussion versa sobre um homem que luta tanto para provar que seus estudos sobre uma doença estão certos quanto para mostrar que mesmo não tendo nascido na América, pode ser um deles.
Will Smith surge como o Dr. Bennet Omalu, um médico forense que, espantado com a quantidade de ex-jogadores enlouquecendo sem um motivo aparente, acaba por verificar que todas a vítimas sofrem de um distúrbio ocasionado pelas repetidas batidas em suas cabeças durante os jogos. Com dados sobre a ETC (Encefalopatia traumática crônica), Omalu irá alertar à classe médica e esportiva sobre os malefícios do esporte e tentar com isso salvar vidas. O que ele não espera é a reação massivamente negativa sobre suas descobertas, com ameaças e perseguições.
Smith, um ator conhecido por sua versatilidade, traz um desempenho sólido e discreto como o médico nigeriano. O que causa estranheza (e talvez não, tendo em vista o racismo explícito da Academia) é o fato do ator ter sido ignorado nas indicações. Nada de novo, David Oyelowo também foi sumariamente ignorado em sua atuação no ótimo Selma (2014).
Concussion é um filme bem intencionado no geral e toca em diversos aspectos da vida pessoal de Omalu, seu casamento e sua intensa fé. A frenética religiosidade do médico contrasta com sua intensa luta em provar com fatos racionais a eficiência de sua tese. O fato é que, apesar de abordar questões pertinentes sobre a xenofobia, máfia das organizações esportivas e o racismo, o filme de Landesman descamba em vários momentos para a religiosidade panfletária de seu personagem principal e em sua ânsia de ser aceito como um norte americano.
Omalu parece tragado por um sonho infantil de ser um deles, de provar ser merecedor. Em determinado momento ele confessa ser um sonho de infância, desde que morava em sua terra natal, na Nigéria, e que seu filho nascerá na terra que ele concebe ser a mais perfeita para se viver. A vida do médico parece ser a confirmação das velhas ladainhas sobre o país estar aberto a quem esteja disposto a trabalhar por ele. Tudo o que um americano médio ama ouvir em filmes de seu país.
O filme foi baseado na vida real do médico Bennet Omalu, e traz ainda no elenco Alec Baldwin, Albert Brooks e Gugu Mbatha-Raw. Com 122 minutos de projeção, percebemos ainda que o corte de pelo menos 20 minutos de material tornaria o filme mais objetivo.
Avaliação:
Comentários
Postar um comentário
Deixe sua opinião!