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Romance à Francesa (2016) | Uma imersão na utopia romântica

Caprice (França)
Romance à Francesa conta a história do quarteto amoroso envolvendo o professor Clément Dussaut (Emmanuel Mouret), seu chefe e amigo Thomas (Laurent Stocker), a atriz Alicia Bardery (Virginie Efira) e a jovem Caprice (Anais Demoustier). Clément e Alicia têm um relacionamento perfeito. Contudo, a aspirante a atriz Caprice entra na história e se apaixona por Clément, que cede aos encantos – e insistências – da jovem. Em paralelo, Thomas começa a desenvolver um sentimento por Alicia. O filme narra as dúvidas, casualidades e impulsos do relacionamento dos personagens.

Apesar de contar com personagens carismáticos – com destaque para a interpretação de Emmanuel Mouret –, o filme apresenta graves problemas de roteiro. As situações ocorrem de maneira afobada, onde o imprevisível é substituído pela aleatoriedade. A construção da subjetividade dos personagens torna-se inexpressiva perante às atitudes impulsivas que distanciam o filme da verossimilhança. Além disso, o desfecho dos personagens ocorre subitamente; o filme conta com um último ato extremamente apressado. Todavia, os diálogos são bem trabalhados, e os momentos de alívio cômico da trama possuem um bom timing – resultado de uma ótima escolha de elenco.

Romance à Francesa é dirigido pelo ator Emmanuel Mouret, que além de apresentar a melhor atuação do filme, é preciso na forma de conduzir esteticamente a trama. Além da direção de Mouret, a direção de arte é outro êxito do filme; a cenografia e a paleta de cores acompanham o desenrolar da narrativa, com destaque para os figurinos de Alicia Bardery e Caprice. Os vestidos de Alicia contrastam com as jaquetas colegiais da jovem, evidenciando a diferença entre elas e, além disso, a indecisão de Clément.

A introdução do filme é um dos pontos altos da trama. A primeira cena conta com Clément e seu filho em um diálogo peculiar onde a criança recusa trocar seu livro pelo celular do pai, que fica impaciente com o entusiasmo quase compulsivo do filho com a leitura. As cenas dentro do teatro são outro exemplo dos acertos de Mouret. As lágrimas de Clément durante as apresentações de Alicia resultam nos momentos de maior catarse do filme. A sutileza e precisão das expressões do ator-diretor levam o espectador às mais variadas reações, intercalando momentos de humor com situações dramáticas.

Os 100 minutos do filme conduzem o espectador a um universo longe do mundano. O que é colocado na tela nem de longe se aproxima do dia-a-dia do espectador, que sempre procura a si mesmo nos filmes de comédia romântica, em busca de uma identificação. Apesar de propor algo verossímil, o filme conduz o espectador a uma fantasia idealizada onde as casualidades ocorrem desenfreadamente e tudo é instável, porém dentro de um romantismo utópico. Os defeitos, portanto, acabam levando o filme ao que ele almeja ser: um romance francês.

Avaliação


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