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Sinfonia da Necrópole (2016) | Sincero e comovente

Sinfonia da Necrópole : Poster
Sinfonia da Necrópole (Brasil)
Parceira de Marco Dutra, que esse ano também se destacou com ‘O Silêncio do Céu’, Juliana Rojas concebe em ‘Sinfonia da Necrópole’ um filme de alma sincera. Exatamente por este ponto, uma produção que sabe ser “original” muito além do próprio formato.

+ O Silêncio do Céu (2016) | A dor como um norte

“Fabulando” a história de Deodato, um coveiro que teme a morte, Juliana não deixa que sua pauta caia nas reflexões muito lógicas sobre o cenário que registra. O primeiro momento musical, inclusive, além de funcionar como uma apresentação ao ritmo levemente cômico e agradável que permeia toda a obra, também o dignifica com conformismo. As vozes “não profissionais” em cena criam um cenário de proximidade admirável e a quebra entre a “realidade” e “fantasia” perde cortes bruscos. 

O coveiro profissional, o senhor que sonha em morrer, o padre sistemático, o empresário da funerária, a mulher que se acostumou com a morte. Essa gama de personagens se torna interessante com muito pouca apresentação; isso porque o contraste com Deodato é sempre distante. E Juliana não maquia seu roteiro de atenções divergentes; deixa claro desde a expressiva cena inicial que somos Deodato. O que se torna um ponto de estratégia narrativa, já que os temas que o filme suscita só a ele são pertinentes – aos outros é besteira. 

Ainda assim, um dos grandes momentos musicais não se compreende exclusivamente como cinema. A teatralização da cena perde um pouco de seu impacto real e, pela primeira vez, há uma dificuldade de tornar o envolvimento de Deodato real. Mas o objetivo artístico permanece intacto. Sua estrutura, inclusive, tenta oscilar muito tendo como principal justificativa a aproximação entre Deodato e Jaqueline – ora superficial e somente funcional, ora muito engenhoso (como a belíssima canção dos caixões). Mas em toda essa montanha russa há aspectos sólidos sobre o que debate, mesmo que nas atuações principais (Eduardo Gomes e Luciana Paes) ainda falte ambição.

De todo modo, ‘Sinfonia da Necrópole’ é formidável. Confortável de se assistir e principalmente muito envolvente (algumas canções não saem da minha cabeça), um filme para além da diversão.


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