Hacksaw Ridge (EUA) |
Até
o Último Homem não é muito diferente de outros filmes dos últimos
anos sobre guerras. Os clichês, diálogos e situações se repetem em Hollywood há
muito, principalmente na academia, a qual se especializou em indicar e premiar
obras com essa premissa óbvia de patriotismo norte-americano. A dessemelhança aqui
é o diretor. Mel Gibson, vencedor do
Oscar por Coração Valente em 1996,
retorna com a fluidez que o fez ser um artista mais competente por trás das
câmeras.
O filme abre espaço para algo
que, sem muitas surpresas, se tornou o foco original do longa-metragem: a fé. O
herói da vez, interpretado por Andrew
Garfield, é Desmond Doss, um homem que foi para Segunda Guerra Mundial sem
usar nenhuma arma, seja para o ataque ou defesa. O personagem, com um
desenvolvimento muito ágil no primeiro ato, mostra os seus motivos e o que o
inspirou em ser um homem de tamanha convicção e fé.
Os dois primeiros seguimentos, deste
modo, se concentram em apresentar a sua luta contra os preconceitos do grupo
que o reprovava e o taxava de covarde. Nessas sequências, o clichê vai ganhando
forças. A gangue, com vários homens mais fortes que ele, o persegue, tortura
psicologicamente e o agride como se fosse algo chocante o suficiente de
digerir. Gibson aposta no piegas de relacionar intimamente aqueles personagens
com humor, e de afastar Garfield, o que acaba por gerar a evidente identificação.
É explícito, mas funciona. A
determinação de Garfield em interpretar o protagonista é de impressionar e de
afastar qualquer traço enfadonho de O Espetacular
Homem-Aranha. Sua fisicalidade
demonstra a fraqueza necessária, e o seu carisma resulta em empatia, como em
muitos filmes de confrontos não o fazem. Já os diálogos, apesar de
redundantes, buscam a emoção nas suas saídas sarcásticas e em monólogos
cristãos.
Com isto, Gibson cria um sofrimento
ágil através das conversações que atingem Doss e o público,
independentemente de fé, religião ou crença. A falta de compreensão para o
diferente encontra a metalinguagem atual, e o cafona do texto se torna algo
verdadeiro e, impressionantemente, hodierno.
E, no meio de tudo, o diretor apresenta
pequenas sutilezas do que estar por vir; E quando chega, só nos resta ovacionar.
A violência encontra o torture porn e o gore, mas é exibida de modo tão
competente que o desgosto pelo que está em tela é mais desagradável que muitos
outros trabalhos do gênero, ao ponto de ser tornar em uma segunda metade de
filme de horror.
A criatividade em chacinar,
decapitar, explodir norte-americanos e japoneses, apresenta-se com a energia inquietante do diretor. A dinâmica entre os dois lados é
grandiloquente, já que aponta a sua finalidade de criar uma tensão que seja assustadoramente densa e natural. E isto o diretor consegue com bastante eficácia.
O som e a montagem, neste sentido,
trabalham unificadas através da tamanha exposição de pessoas estrondando e
sofrendo. O filme cresce e manifesta diversos seguimentos alarmantes de ação,
como foi visto no último Mad Max –
Estrada da Fúria, em que o diretor causa mais perigo que harmonia. Gibson, em
vista disto, traz cores sujas o suficiente para exibir os limites da guerra, o
que conduz consigo aquele vermelho de sangue que se destaca em seu enjoo de
terror.
Enquanto a sua violência usual
se destaca em minutos do último ato, Garfield exibe as suas distintas camadas. Ainda que as suas atitudes heroicas permaneçam fortemente, o personagem é trabalhado pelo roteiro de meio
brilhante para que a sua obviedade nunca fique desgastada. Assim como William
Wallace verbalizava constantemente sobre a sua imaginável liberdade, Doss é
apresentado como um novo audaz, e não necessariamente doce ou amigável, e sim
como alguém que tem mais coragem no desespero do que em qualquer outra
situação. E Garfield prepara esta tamanha proximidade, já que seu carisma e sequências
corporais são alegóricas o bastante para revelarem o seu talento.
Deste modo, Mel Gibson mais uma vez
mostra a sua direção arrojada em trabalhar bem com as trivialidades. Enquanto O Resgate do Soldado Ryan de Steven Spielberg dispõe de uma abertura
espetacular, Gibson separa o que há de melhor para o final. E, em seu terceiro ato,
o diretor se redime depois de tantos erros violentos e opressores que o fizeram
se afundar em um limbo vergonhoso. Assim como Doss, o
diretor fez arte com os vestígios da violência.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir