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Cinquenta Tons Mais Escuros (2017) | Sequência não traz evoluções à saga

Fifty Shades Darker (EUA)
Christian Grey e Anastasia Steele já deram bastante o que falar. Protagonistas da série de livros "Cinquenta Tons de Cinza", composta por três peculiares obras principais e dois spin-offs, todos da autora (e produtora) E.L. James, os personagens rapidamente tornaram-se ícones da cultura mainstream, aterrissando nas telonas pela primeira vez em 2015, em um longa-metragem duvidoso de Sam Taylor-Johnson ("Nowhere Boy", 2009). Dois anos depois, novamente aproveitando o período do Valentine's Day, feriado romântico celebrado em diversos países, a saga continua com "Cinquenta Tons Mais Escuros" ("Fifty Shades Darker", 2017), desta vez sob encargo de James Foley ("A Estranha Perfeita", 2007).  

Esta sequência toma lugar poucos passos depois do primeiro "Cinquenta Tons", encerrado previamente em grande cliffhanger narrativo. Tendo isto em vista, Jamie Dornan (dos seriados "The Fall" e "Once Upon a Time") e Dakota Johnson ("Como ser Solteira", 2016) retornam como a dupla principal, seguindo uma trama que pretende explorar mais a relação entre os dois, agora com maior foco no passado de Grey e na dominância feminina de Anastasia, e apresentando melhor alguns personagens já citados previamente.

No entanto, tal como seu predecessor, "Tons Mais Escuros" não consegue decolar em 118 minutos de filme. Seus personagens problemáticos, os diálogos superficiais e a ausência de um clímax competente o tornam um entretenimento vazio, focado quase sempre nas cenas eróticas pseudo-violentas que glamourizam sadomasoquismo ao som de música pop internacional. É basicamente um grande vídeo de música sensual "ao extremo", com um romance mal elaborado atrapalhando.

A praticamente única diferença relevante do longa-metragem está num foco maior em cenas românticas, como a que embala "I Don't Wanna Live Forever", música-tema do filme, interpretada pelos astros Zayn e Taylor Swift, que surpreendentemente não envolve uma sequência de sexo. Mas, ainda assim, nada funciona por muito tempo: os diálogos realmente são vazios para a trama — chegando ao cômico — e as falhas são diversas, como na péssima sequência inicial, que aposta em flashes de um arco não revisitado durante todo o resto do filme e até na execução da música "The Scientist", neste caso a cargo de Corinne Bailey Rae, na tentativa de construir melodrama.

É impossível, também, ignorar a ausência de força nos antagonistas interpretados por Kim Basinger ("Dois Caras Legais", 2016; "Los Angeles - Cidade Proibida", 1997) e Eric Johnson ("Valentine Ever After", 2016), cujo tempo em tela de ambos é insuficiente para construir antipatia. Há também uma tentativa de clímax-conflito, cuja resolução ocorre quase tão rápido quanto um estalar de dedos. E Christian Grey, novamente, apresenta-se como um personagem tão problemático quanto confuso e retrógrado, cujo comportamento abusivo tenta ser ofuscado com cenas de Jamie Dornan malhando ou até mesmo numa péssima tentativa de fingir pesadelos.

É inegável, apesar de tudo, que "Cinquenta Tons Mais Escuros" e sua saga não tentam voar muito longe, e nem precisam disto para vender ingressos. Talvez seja divertido acompanhar a playlist que o filme é, ou ver as cenas "quentes" forçadamente sexy com o(a) seu(sua) companheiro(a) amoroso(a). Mas aceitar isto como algo ótimo é vender-se muito fácil à indústria e assumir um nível de artificialidade tão tosco que beira ao irreal romance à palmadas de Grey e Steele.  Já fomos mais complexos, e alguns roteiros cinematográficos também.


Crítica - Cinquenta Tons Mais Escuros (2017)

Sequência não traz evoluções à saga

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