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Logan (2017) | Os Brutos também amam


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Logan (EUA)
Logo em seus primeiros minutos, James Mangold desenvolve uma atmosfera sombria e, ao mesmo tempo, necessária para o personagem do título. Enquanto os filmes anteriores da franquia X-Men apresentavam uma tonalidade mais forte e heróis fantásticos que brincavam com a grandiosidade, Logan se mostra muito mais tímido e inteligente, já que abraça um drama esperado para o último trabalho de Hugh Jackman com as garras. 




Logo em seu primeiro ato, Mangold cria uma nostalgia inspirada na dor. Com referências constantes ao primeiro e segundo filme, de 2000 e 2003, respectivamente, os personagens elevam uma sensação de dores corporais, emocionais e psicológicas, já que o roteiro nos recorda de algumas das aventuras mortais que os heróis passaram. Com isto, Logan e Professor Xavier surgem beirando o desconhecido, com uma maquiagem assustadoramente real, com marcas de guerras e dores que não deixam esquecer o tanto que sofreram.

Jackman, além de suas marcas ao redor do corpo e no rosto, que acabam por demonstrar cansaço e derrota, surge com problemas em seu modo de andar, como notamos durante todos os atos do filme, e com dificuldades até mesmo em usar as suas garras, que apresentam danos durante as intensas sequências de lutas que o personagem se viu obrigado ao usar a mutação. Como de costume, o ator se esforça em criar reações de martírios, e, felizmente, se sai muito bem ao atingir emoções extremamente íntimas no espectador.

Patrick Stweart, por outro lado, desenvolve uma fisicalidade frágil e diálogos emocionais em que o personagem não consegue completar as suas frases, seja por culpa da dor ou por motivos de alegria. A maquiagem aplicada em seu rosto cresce as camadas de envelhecimento e de tormento que o mentor, involuntariamente, teve que passar.

Logo após toda a introdução melancólica e nostálgica, a personagem Laura Kinney, mais conhecida como X-23, surge e traz todo o sentimento de altruísmo em Logan, já que o mesmo se sacrificou em muitas ocasiões em busca da salvação coletiva. Assim, o filme aposta em transformações abundantes que tornam os atos em cinema puro.

No discorrer dos seguimentos, Xavier e Laura se encontram assistindo o clássico de faroeste, Shane, o qual apresenta o que estar por vir com muita elegância e sem detalhes óbvios de hiper explicações. De acordo com a trama do clássico de 1953, o personagem principal, logo após vários anos na luta por sobrevivência, se dedica em manter uma vida calma até o fim dos dias sem nenhum sinal de violência, ainda que não aconteça como ele esperava.

Logan, neste sentido, busca no western uma forma de criar perseguições inusitadas e lutas pungentes em que os personagens sofrem, sangram e se arrastam em busca do fim, com a finalidade de apresentar o investimento do diretor em criar suspense em cima do capítulo final.

Como pontos de narrativa, a fotografia empoeirada e alaranjada, que traz coerência nas cores de desgaste, se concentra na perspectiva de prisão, algo que funciona muito bem, já que os personagens estão constantemente sofrendo com a luz. Em outros momentos de escuridão e aconchego, o grupo apresenta segurança e harmonia, como no tanque do professor Xavier ou no lar da família que eles encontram no meio da estrada. Já a trilha sonora, dos talentosos Cliff Martinez e Marco Beltrami, foi pensada como o tom que o filme carrega, com muita quietude, pânico e silêncio, o que concebe mais valores ao trabalho de mixagem de som. O drama tocado se distancia dos grandes embates dos longas-metragens anteriores e se esforça em criar melancolia, o que consegue sem muita dificuldade.

Com pequenas influencias em o Lobo Solitário de Kazuo Koike e Goseki Kojima, Laura de Dafne Keen surpreende com uma atuação quase muda, mas que ao mesmo tempo é extremamente sincera e agressiva quando tem que ser. O seu olhar penetrante afasta o doce e tamanho que a atriz carrega, por consequência de sua curta idade, e que, satisfatoriamente, cria sensações de intimidade e de imponência à medida que o filme vai passando.

O roteiro, neste ponto, cria estruturas familiares para com os filmes anteriores e ainda garante desenvolvimentos que funcionam por conta do texto primoroso, como aquele em que o Xavier diz pra Wolverine: “Você foi uma decepção” e como o silêncio dos últimos minutos de projeção entre os protagonistas, algo que traz a emoção correta e a aproximação de imediato com aqueles personagens.

Com liberdades sanguinolentas, Logan ainda encontra espaço em ser real e verossímil com as sequências de lutas, o qual o gore, que se encontra bastante presente e realista, faz um serviço a história, como um recurso visual e, acima de tudo, narrativo, como aquele na floresta que traz um cansaço realista e que se distancia dos demais filmes do gênero.

No fim de tudo, Logan diz pra Laura com uma sinceridade angustiante “Não seja aquilo que te fizeram”. Um legado extremamente tocante que o personagem e ator deixam para a menina e público que aprendeu com os filmes da franquia em transformar a intolerância em aprendizagem. Um depoimento belíssimo que emociona, assim como o último plano do filme que já nasceu como um dos mais tocantes da sétima arte.


Crítica: Logan (2017) 

Os Brutos também amam 

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