X-Men: The Last Stand (EUA) |
Ainda que compreenda o imenso alvoroço
em relação ao X-Men: O Confronto Final,
dirigido por Brett Ratner, com
argumentos interessantes sobre o excesso de personagens e muito drama para
pouca ação, não compro o apocalipse plantado no filme. Discussões
cinematográficas, como a narrativa e o roteiro são essenciais em qualquer filme,
independente de gênero, ainda que em quesito adaptações, o cinema sempre vai
ficar atrás do material de origem. Nos basta apreciar as duas mídias.
Dito isto, quando Ratner foi
anunciado como o clone de Bryan Singer,
a série dos mutantes se distanciou da segurança e unanimidade em quesito
qualidade. A comparação é injusta, apesar do trabalho subestimado de Ratner
diante da franquia.
Desse modo, a terceira parte segue
a linha deixada por Singer em 2003 com perfeição, ao utilizar de bons materiais
da nona arte, ao trabalhar com uma ligação invejável de ação e drama e, por
fim, ao ser elegante com temas tão atuais e assustadores que vivemos neste mundo
de intolerância.
O filme já começa com o maior
nível dramático da trilogia. Logo após os eventos fúnebres do segundo, o
cineasta traça duas tramas que se encontram de forma habilidosa no clímax, com
direito a bastante ação, é claro. O conflito da cura, uma apologia criminosa
que nos persegue com tanta opressão nessa sociedade, e o retorno de Jean Grey,
como a Fênix Negra, uma entidade que, apesar de pouco fiel, rima
perfeitamente com o universo já estabelecido nos anteriores.
Os personagens retornam e, com
isto, Simon Kinberg oferece em seu
roteiro as situações mais trágicas e dramáticas da franquia, o que acaba por
resultar em atuações mais esforçadas e desesperadas em sair do padrão
hollywoodiano que prende os astros de ação fora do compartilhamento de emoções. Hugh Jackman, por exemplo, com toda a
sua amálgama de sentimentos, surge com menos humor e mais sinais de dor em
perder aqueles que ama. O mesmo pode ser dito para Halle Berry que se esforça em ser uma líder com compaixão e o
resultado daquilo que sofreu.
Além disto, todo o elenco se
compromete em reforçar o drama vivido por eles. Anna Paquin é outro elemento curioso que, mesmo com poucos
diálogos, surpreende com um drama sincero que exibe bastante vida em um simples
ato de assistir as notícias da televisão, o que traz relações intimas para o
espectador que entende a metáfora e a angustia daqueles personagens.
Contudo, Retner ainda brinca
com relações atuais que nos assombram, seja com as discussões sobre a “cura” ou
com filosofias que levam o público a refletir sobre determinadas atitudes dos
heróis, como aqueles que buscam no medicamento a aceitação por parte dos
demais. A receptividade retorna como algo retirado das páginas de Jack Kirby e, com bastante elegância, o
roteiro aposta em apologias gritantes sobre até onde vamos para nos adaptar, o
que fazemos para sermos aceitos e qual a necessidade de lutar pelos que não se
importam. Um mergulho inteligente que os quadrinhos geraram e que, independente
de fidelidade, o cinema abraçou.
O material de design de
produção é outro elemento que merece grande destaque. Como ponto de partida: a
maquiagem, que evolui a cada filme e que constrói camadas importantes aos
personagens, como ao novato Fera, interpretado por Kelsey Grammer, que possui um drama curto, mas ao mesmo tempo
sincero, como na sequência em que o personagem por poucos segundos encontra a
chance de se tornar “normal”, o que resulta em um olhar que traz emoção e
honestidade com o drama.
Além disto, a trilha poderosa
de John Powell aumenta todos os
pontos tocantes dos personagens. A capacidade de envolver os heróis através de
seus diálogos e da música concebe energia concentrada em ocasionar impressões
inerentes.
Dito isto, a franquia,
diferente de outras trilogias, se finda com um capítulo que, assim como o Poderoso Chefão 3, se tornou
injustiçado. Os arcos plantados no primeiro se encerram, as atuações se tornam exemplares, os efeitos visuais e sonoros se transformam em parte da narrativa e,
por fim, as discussões retornam com uma importância que precisa ser levada em
consideração. Precisa mais que isto?
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