Personal Shopper (França) |
‘Personal Shopper’ tem um plot que arrasta para o cinema. O quão improvável é uma história que se atenha a alguém que ganha a vida fazendo compras caríssimas e que, enquanto não o faz, busca se comunicar com o mundo dos mortos. Essa é a segunda união da atriz Kristen Stewart e o diretor francês Olivier Assayas e sua conexão sóbria ergue uma trama de caráter “absurdo” com uma curiosidade eminente. Um filme que tenta de modo muito lento se tornar atrativo para além dos esclarecimentos. Se não alcança esse objetivo, ao menos tenta com um ânimo charmoso.
A principal dúvida que permeia a expectativa é quanto ao clima que se ampara. É interessante descobrir ao início que há o interesse explícito de adotar à trama uma aparência sombria; evocando sequências vindas de suspenses que, obviamente, envolvem uma casa abandonada no meio da floresta. Se não bastasse se espelhar a essa ambição, é também surpreso (positiva e negativamente) que se renda a uma abordagem não só climática, como também visual.
Porém, a impressão que infelizmente perdura é de que suas naturezas não combinam, tornando esse laço em um processo tendencioso de imersão “sobrenatural”. Isso fica cada vez mais óbvio por não se preocupar com a fragilidade que preenche as lacunas. Sequências como a conversa por mensagens e o encontro periódico no hotel, e até mesmo o anticlímax, tornam-se desinteressantes pelo excesso de seu tempo. Uma “jornada” que, por algum motivo, precisa ser longa.
O modo como Oliver modula essas “fases” também incomoda. Usando constantemente fad-in/out como um respiro incongruente, as circunstâncias são prejudicadas. Principalmente próximo ao fim, as resoluções dos principais enigmas são entregues com um caráter frígido. Ainda assim, quanto as próprias dúvidas que faz questão de provocar, algumas se sobressaem a isso. O diálogo entre Maureen (Kristen) e Erwin (Anders Danielsen Lie) traz um clima de suspense que não se utiliza de elementos corriqueiros para envolver. À luz do dia, uma conversa que envolve afetividade e até mesmo temas morais arrepia de modo tímido.
Concluindo-se de modo indigesto, o roteiro do próprio Oliver ao menos justifica suas tramas; explicação que se dá pela exposição da ideia, não se preocupando inteiramente ao seu uso objetivo. A aflição de Maureen sobre o “retorno” do irmão e sua vontade de se libertar dessa “prisão” tendo como possibilidade se tornar outra: ideias que só ganham importância no último segundo da obra com uma revelação curiosa e pertinente. Se por um lado não é uma grande obra, expondo uma sensação de mal aproveitamento, por outro, sua inquietação final permanece. Mas, apoiando-se nisso, não percebe que é tarde demais para conquistar sua profundidade psicológica.
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