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Power Rangers (2017) | Adaptação encontra relevância e diverte

Power Rangers (EUA)
Se você nasceu nas décadas de 80 ou 90, provavelmente reconhece "Power Rangers" como um elemento relevante da cultura pop. Garantindo alguns minutos em programação matutina da TV aberta, a série se tornou um ícone infanto-juvenil, declinado ao longo dos anos por ausência de fôlego em suas várias temporadas. Eis que, sob a direção de Dean Israelite (cujo longa de estreia é "Projeto Almanaque", de 2015) e a distribuição do estúdio Lionsgate, os heróis coloridos ganharam nova roupagem para as telonas, destinada à geração que ressoa influências de games e filmes de super-heróis. Seria esta uma decisão errônea, feita sob puro pretexto comercial? Com a nova produção, repleta de tom nostálgico, os realizadores mostram que há, sim, algo de relevante a se (re)apresentar. 

Com trama "de origem", visto que é um filme para reboot, "Power Rangers" conta como os desajustados jovens Jason (Dacre Montgomery), Kimberly (Naomi Scott), Billy (RJ Cyler), Trini (Becky G) e Zack (Ludi Lin), cada um com o peso de problemas em particular (sendo os da maior parte relacionados à família), tornaram-se, respectivamente, nos poderosos Rangers Vermelho, Rosa, Azul, Amarelo e Preto, protetores da vida no Universo. Desta forma, há um background da origem alienígena de seus poderes, assim como de seu mentor Zordon (Bryan Craston) e da vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks), ambos ex-Rangers. 

O roteiro de John Gatins ("O Voo", 2012; "Kong: A Ilha da Caveira", 2017), no entanto, deixa muitas pontas soltas (e posteriormente esquecidas) durante toda a produção, o que é inadmissível para um filme de natureza introdutória. Por outro lado, o autor faz um ótimo trabalho em captar referências das versões anteriores de Power Rangers, assim como de outras franquias do gênero ação/herói, como "Transformers" e "Homem-Aranha", dispondo-as de forma humorada, inteligente e nostálgica. E, se há muito reaproveitado do passado, há também uma modernização essencial dos dramas sociais de um típico teen movie, trazendo os primeiros heróis LGBT e com TEA (Transtorno do Espectro Autista), e discutindo sobre amadurecimento, família e até exposição virtual (assunto muito presente em instituições contemporâneas).

É este tipo de energia jovem que "Power Rangers" emana em muitas sequências — destaque para as do primeiro ato, que exploram aspectos iniciais da rotina dos protagonistas. A fotografia de Matthew J. Lloyd ("Projeto Almanaque", 2015; série "Demolidor", 2015) e a montagem de Dody Dorn ("Ben-Hur", 2016) e Martin Bernfeld ("Projeto Almanaque", 2015) trabalham muito bem em transmitir essa jovialidade, com planos de movimento cheios de dinamicidade técnica e empolgação. A música, explorando o caráter inverso do filme, constituído por referências temporais, se utiliza de hits não tão recentes para atingir o público não tão jovem; a computação gráfica, por sua vez, encontra momentos bons, mas não chega a ser um ponto positivo de destaque, decepcionando em cenas de batalha.

O elenco é muitíssimo carismático. O quinteto-título é constituído por atores creditados em poucas produções (sendo Becky G, talvez, a mais conhecida, por seu trabalho na música), e que entregam performances por vezes superficiais e exageradas, mas com alguns aspectos positivos, explorando efetivamente aquilo que torna seus personagens diferentes, queridos e relacionáveis com o público. Quanto aos coadjuvantes, Bryan Craston e Bill Hader (como o robô Alpha 5) não entregam nenhum brilho, mas Elizabeth Banks acerta muito em sua Rita Repulsa, não sendo tão caricatural quanto inicialmente parece.

O novo "Power Rangers" está cheio de falhas em sua narrativa, que não é das mais fortes. Porém, consegue mostrar o porquê de ser uma adaptação relevante e necessária, apresentando um discurso moderno ao público, trazendo inclusão (dentre os cinco Rangers, temos quatro etnias diferentes e três representantes de minorias sociais) e persistindo em uma importante mensagem de empatia e sensibilidade ao próximo. Isto sob um viés de entretenimento que mistura bem ação, humor e nostalgia. Em suma, atenção do espectador a este reboot é válida, assim como um futuro investimento em suas sequências.


Crítica: Power Rangers (2017)

Adaptação encontra relevância e diverte

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