Power Rangers (EUA) |
Se você nasceu nas décadas de 80 ou 90, provavelmente reconhece "Power Rangers" como um elemento relevante da cultura pop. Garantindo alguns minutos em programação matutina da TV aberta, a série se tornou um ícone infanto-juvenil, declinado ao longo dos anos por ausência de fôlego em suas várias temporadas. Eis que, sob a direção de Dean Israelite (cujo longa de estreia é "Projeto Almanaque", de 2015) e a distribuição do estúdio Lionsgate, os heróis coloridos ganharam nova roupagem para as telonas, destinada à geração que ressoa influências de games e filmes de super-heróis. Seria esta uma decisão errônea, feita sob puro pretexto comercial? Com a nova produção, repleta de tom nostálgico, os realizadores mostram que há, sim, algo de relevante a se (re)apresentar.
Com trama "de origem", visto que é um filme para reboot, "Power Rangers" conta como os desajustados jovens Jason (Dacre Montgomery), Kimberly (Naomi Scott), Billy (RJ Cyler), Trini (Becky G) e Zack (Ludi Lin), cada um com o peso de problemas em particular (sendo os da maior parte relacionados à família), tornaram-se, respectivamente, nos poderosos Rangers Vermelho, Rosa, Azul, Amarelo e Preto, protetores da vida no Universo. Desta forma, há um background da origem alienígena de seus poderes, assim como de seu mentor Zordon (Bryan Craston) e da vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks), ambos ex-Rangers.
O roteiro de John Gatins ("O Voo", 2012; "Kong: A Ilha da Caveira", 2017), no entanto, deixa muitas pontas soltas (e posteriormente esquecidas) durante toda a produção, o que é inadmissível para um filme de natureza introdutória. Por outro lado, o autor faz um ótimo trabalho em captar referências das versões anteriores de Power Rangers, assim como de outras franquias do gênero ação/herói, como "Transformers" e "Homem-Aranha", dispondo-as de forma humorada, inteligente e nostálgica. E, se há muito reaproveitado do passado, há também uma modernização essencial dos dramas sociais de um típico teen movie, trazendo os primeiros heróis LGBT e com TEA (Transtorno do Espectro Autista), e discutindo sobre amadurecimento, família e até exposição virtual (assunto muito presente em instituições contemporâneas).
É este tipo de energia jovem que "Power Rangers" emana em muitas sequências — destaque para as do primeiro ato, que exploram aspectos iniciais da rotina dos protagonistas. A fotografia de Matthew J. Lloyd ("Projeto Almanaque", 2015; série "Demolidor", 2015) e a montagem de Dody Dorn ("Ben-Hur", 2016) e Martin Bernfeld ("Projeto Almanaque", 2015) trabalham muito bem em transmitir essa jovialidade, com planos de movimento cheios de dinamicidade técnica e empolgação. A música, explorando o caráter inverso do filme, constituído por referências temporais, se utiliza de hits não tão recentes para atingir o público não tão jovem; a computação gráfica, por sua vez, encontra momentos bons, mas não chega a ser um ponto positivo de destaque, decepcionando em cenas de batalha.
O elenco é muitíssimo carismático. O quinteto-título é constituído por atores creditados em poucas produções (sendo Becky G, talvez, a mais conhecida, por seu trabalho na música), e que entregam performances por vezes superficiais e exageradas, mas com alguns aspectos positivos, explorando efetivamente aquilo que torna seus personagens diferentes, queridos e relacionáveis com o público. Quanto aos coadjuvantes, Bryan Craston e Bill Hader (como o robô Alpha 5) não entregam nenhum brilho, mas Elizabeth Banks acerta muito em sua Rita Repulsa, não sendo tão caricatural quanto inicialmente parece.
O novo "Power Rangers" está cheio de falhas em sua narrativa, que não é das mais fortes. Porém, consegue mostrar o porquê de ser uma adaptação relevante e necessária, apresentando um discurso moderno ao público, trazendo inclusão (dentre os cinco Rangers, temos quatro etnias diferentes e três representantes de minorias sociais) e persistindo em uma importante mensagem de empatia e sensibilidade ao próximo. Isto sob um viés de entretenimento que mistura bem ação, humor e nostalgia. Em suma, atenção do espectador a este reboot é válida, assim como um futuro investimento em suas sequências.
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