O primeiro longa de Ricardo Alves Junior propõe uma imersão gradativa na mente de Elon. Vivido com uma introspecção sedutora por Rômulo Braga, o personagem já surge amargurado, recatado e cabisbaixo. A pequena jornada que se insinua no início é feita sem a necessidade de adiar um conflito que já surge pronto e, por isso, a obra ganha traços admiráveis de um thriller psicológico. Mas não é como se fosse ‘Garota Exemplar’ de David Fincher que desfruta de um naturalismo no meio de todo suspense. Está mais para uma união climática dos brasileiros ‘Para Minha Amada Morta’ e ‘Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois’. Vendo por esse histórico, ‘Elon’ divaga muito sobre a mesma desordem e, mesmo que se torne cansativo, tem uma ideia que vale a pena ser seguida.
Descobrimos cedo que Madalena, esposa de Elon, sumiu. Sem mais informações, é um mérito inteligente do roteiro escrito a quatro mãos que somente Elon importe (logo mais isso fará todo sentido). A angústia que salta dos olhos de Rômulo é um conflito ainda mais envolvente do que, necessariamente, conhecer o paradeiro da mulher. A partir de um momento, e isso é uma de suas maiores qualidades, o clima se torna assustador. Não porque utilize qualquer aspecto macabro em sua concepção, mas porque não permite que o espectador compreenda o protagonista apesar de compactuar com sua missão. Os olhares desconfiados, passos lentos e respirações profundas causam esse desentendimento que gera, ao invés de comoção, espanto.
Todo esse sentimento, porém, não parece suficiente para preencher seus 74 minutos. Embora já seja uma duração curtíssima, o filme se arrasta no mesmo espaço. A longuíssima cena das portas, por exemplo, é uma síntese desse incômodo. Seu início é assombroso: Elon caminha de costas por um extenso corredor enquanto escutamos sons perturbadores de portas que se fecham. Fica claro que ele está atrás de algo, e a narração sonora manifesta essa raiva que cumula em uma possível revolta. É uma agressividade que diz muito sobre os destinos que o filme ainda viria a apresentar. Apesar disso, esse sentimento se enfraquece com uma duração que ultrapassa o sentido de resistência que o personagem possa ter.
Essas situações contribuem para que seu clima tropece. Parte disso, porém, parece lógico e ensurdecedor para com o conflito em questão. É uma linha tênue entre o desagradável construtivo e o exaustivo. O roteiro é esperto, vendo de modo geral, já que a resolução acontece em pouquíssimos segundos deixando últimos respiros por conta do espectador que se depara com os créditos enquanto ainda está digerindo a informação. É estranho e suficiente ao mesmo tempo que o filme precise se arrastar tanto para uma revelação que, felizmente, funciona.
Sempre que avança em novas dúvidas, o filme se mostra ainda mais preocupado com as pontas de um mistério que é positivamente reduzido próximo ao desfecho. Há um requinte técnico de som assombroso que, sozinho, consegue elevar o suspense a um nível emocionante – torna-se óbvio que essa história jamais funcionaria sem seus efeitos sonoros agudos e uma trilha que constrói quase sozinha a aflição geral.
A irregularidade de ‘Elon Não Acredita na Morte’ é encargo do cinema digital, já que filmar horas e horas não é mais um problema. Embora incomode constantemente, o filme faz um recorte charmoso de sombras da cidade e da consciência de um personagem que constrói o próprio labirinto. É fácil imaginar que essas ideias resultariam em um brilhante e assustador curta-metragem de 20 minutos. Com seus 74, a obra é uma comida agridoce que ameaça salgar a cada mordida e termina mais saborosa do que o esperado.
Comentários
Postar um comentário
Deixe sua opinião!