The Fate of the Furious (EUA) |
Chegar no oitavo filme de uma franquia é bastante arriscado. Em muitos casos, a essência de uma obra já se perde após a terceira ou quarta produção, esgotando o público e causando quedas tanto em relação à bilheteria quanto em qualidade fílmica. Isto parece não ter ocorrido com "Velozes e Furiosos", franquia iniciada em 2001 e que chega em 2017 ao seu oitavo capítulo (renomeado para "The Fate of the Furious" ["O destino dos furiosos"] no original). Com F. Gary Gray ("Straight Outta Compton: A História do N.W.A", 2015) assumindo a cadeira de diretor pela primeira vez na série de filmes, temos em tela a mesma fórmula de escapismo já construída, e que promete garantir o dinheiro dos fãs com uma produção momentaneamente divertida, mas completamente esquecível após alguns minutos de sua conclusão.
Na trama da vez, Dominic Toretto (Vin Diesel) é coagido pela poderosa terrorista virtual Cipher (Charlize Theron) a trair seus colegas de equipe em uma missão que envolve códigos de armas nucleares. Luke Hobbs (Dwayne Johnson), Lerry Ortiz (Michelle Rodriguez), Roman Pearce (Tyrese Gibson), Tej Parker (Chris Bridges) e Ramsey (Nathalie Emmanuel) retornam a seu posto, unindo-se a Deckard Shaw (Jason Statham) para rastrear Dominic, entender as razões de sua traição e deter os planos de Cipher.
Apesar da trama, de fato, ser necessária para conduzir a narrativa, ela permanece praticamente em segundo plano, servindo quase que como uma desculpa para que as cenas de ação sejam realizadas em locações diferentes. A noção de probabilidade das sequências do roteiro permanece beirando ao absurdo; apesar desta ser uma liberdade do cinema, as situações da franquia cedem à megalomania, com mulheres hiper sexualizadas, homens tão fortes quanto super-heróis e centenas de carros caríssimos que chegam até a andar sozinhos (!) e explodem quase sempre que entram em cena (quanto terá sido o orçamento disto?). Ainda há uma subtrama relevante sobre a importância da família (o tema central da franquia), que apesar de ser tratada como chave, decai com o desenrolar artificial.
O elenco principal da produção é grande, e este episódio ainda traz a aparições de Helen Mirren ("Beleza Oculta", 2016), Luke Evans ("A Bela e a Fera", 2017) e Kristopher Hivju (do seriado "Game of Thrones") — o que, convenhamos, só serve para encarecer o orçamento e levar dois ou três de seus fãs ao cinema. A maior parte dos personagens não recebe tempo em tela suficiente para maior desenvolvimento e esforço dos atores, exceto por alguns protagonistas (e a antagonista principal). Charlize Theron, inclusive, é uma das melhores coisas de "Velozes e Furiosos 8", entregando bom desempenho até em algumas "frases de ação" que recebera pelo roteirista para sua vilã. De Vin Diesel não se espera muito, apenas certa apatia cênica e a gritaria usual que tenta proveito de sua voz grave. Ah, e Dwayne Johnson apresenta uma versão exagerada e inatingível dele mesmo, com direito à dancinha samoana que enaltece sua origem étnica e relembra seu trabalho de dublagem em "Moana" (2016),
Com início colorido (gravado em Cuba), muitos close-ups, explosões em excesso na tela, tecnologia avançada (a nível inexistente), carros extravagantes estilo Hot Wheels, frases de efeito e outros fatores que embalam uma mensagem de filme infantil, o novo "Velozes e Furiosos" não traz nada relevante, e talvez por isso seja um bom blockbuster despretensioso e cheio de ambição, Mas, teria muito bem condições de investir em um conteúdo não tão efêmero na mente de quem assiste. Será que, se isto ocorresse, a franquia enfim perderia sua essência?
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