Pular para o conteúdo principal

Las Chicas del Cable (2017) | Mulheres unidas jamais serão vencidas


Las Chicas del Cable (2017) é a primeira série espanhola original da Netflix. Com um toque feminista, a trama aborda o dia a dia de quatro telefonistas em uma empresa que se prepara para mudar o modo como se faz a comunicação na Europa. Entre 1920 e 1930, para além dos muros da empresa, começam a surgir os movimentos sufragistas e os projetos para alterar a lei e garantir o direito às mulheres de pedir o divórcio. Em meio à estas transformações sociais, os personagens aos poucos tomam consciência da própria vida e começam a entender e sentir a situação em que vivem (e como devem sair dela). 

Aviso: O texto a seguir possui spoilers!


Enquanto tentava ir para o exterior com sua amiga, os planos de Alba (Blanca Suárez) são interrompidos e agora ela sofre ameaças de um delegado. Para ser livre novamente, ela precisa roubar o cofre de uma empresa de telecomunicações. Alba se candidata para o cargo de telefonista, com o nome de Lídia, roubando a identidade de outra candidata. Mas no meio disso, ela reencontra seu grande amor da adolescência. 


O casal apaixonado acabou se separando por acaso e devido a um mal entendido não puderam se reencontrar por dez anos. Após a separação, Alba é acolhida por uma dona de prostíbulo que passa seus ensinamentos à garota. O que Alba não sabia, no entanto, era que Francisco a procurou em todos os lugares, até tomar a decisão de seguir com sua vida, casando-se com uma jovem rica. Agora, ele é o diretor da empresa de telecomunicações e, ao se reencontrarem, toda a paixão entre os dois volta à tona. 


Também conhecemos, na série, a história de Marga (Nadia de Santiago), uma mulher que morava no interior e foi para a cidade grande para conseguir o emprego como telefonista. Depois que sair de uma festa da empresa, ela tem sua bolsa roubada e por sorte um cavalheiro a recupera, mas acaba fugindo com vergonha. No dia seguinte, a personagem descobre que ele trabalha na empresa e os dois começam a conversar por telefonemas. Por ser a mais inocente do quarteto, Marga acaba sendo o alívio cômico de Las Chicas Del Cable; as cenas onde ela se adapta aos costumes da capital são um tanto engraçadas de assistir. 


Por sua vez, Ángeles (Maggie Civantos) é a funcionária exemplo da empresa, mas está prestes a ceder aos desejos do marido e pedir demissão para ser somente uma dona de casa e cuidar da filha. No entanto, descobre que é traída e seu casamento “perfeito” começa a desmoronar. Pela primeira vez, ela desobedece ao marido e continua trabalhando. Muita coisa acontece com Ángeles, e sem dúvida esta é a personagem que mais sofre na série: tendo um marido autoritário, machista, infiel e violento, ela passa por inúmeras situações e permanece nelas para não perder sua filha. 


Por fim, temos Carlota (Ana Fernández Garcia), que com uma personalidade forte, busca acima de tudo sua liberdade. Para isto, saiu de casa e conseguiu o emprego de telefonista, no intuito de tornar-se independente e sair das asas de seu pai. Carlota se aproxima de Sara (Ana Polvorosa), a supervisora das telefonistas, e juntas participam das reuniões das sufragistas, lutando pelos seus direitos. Um contraponto surge quando a personagem, que possui uma espécie de relacionamento com Miguel (Borja Luna), começa a sentir uma atração por Sara, questionando sua sexualidade.

A luta pela liberdade e por oportunidade é, com certeza, a coisa mais marcante que você verá através das protagonistas de Las Chicas del Cable. De tom feminista, a série retrata os anos de 1930 com uma edição moderna, cores fortes e músicas contemporâneas, fazendo jus aos seus ideais mais progressistas. Outro ponto positivo, que vale ser mencionado, é a riqueza de detalhes que a produção colocou para nos transportar diretamente de nossos quartos e computadores para a Madrid do início do século XX. 

Nenhum personagem alcança a felicidade ao longo da temporada, mas isso não significa que nada aconteça. No decorrer dos episódios, há uma tomada de consciência generalizada. A mensagem que fica ao final da primeira temporada de Las Chicas del Cable é a da importância da amizade entre mulheres e como é essencial lutar pela igualdade de gênero. A série ainda tem muito para mostrar e, como foi renovada para mais duas temporadas, com oito episódios cada, poderemos nos aprofundar nesta belíssima história de muita representabilidade feminina.

Las Chicas del Cable acerta ao nos lembrar de que é importante lutar, ainda que a batalha seja longa e cansativa. Como ouvimos Alba narrar bem no início do primeiro episódio: “em 1928, havia 2 bilhões de pessoas no mundo com suas próprias esperanças, seus sonhos e seus problemas. A vida não era fácil para ninguém, mas menos ainda para uma mulher. Não éramos livres, mas sonhávamos com liberdade.”


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Morte do Demônio (2013) | Reimaginação do "Conto Demoníaco"

The Evil Dead (EUA) Em 1981, Sam Raimi conseguiu realizar algo extraordinário. Com um orçamento baixíssimo (em volta de 1,5 mil), o diretor reinventou os filmes idealizados dentro de uma cabana com jovens e demônios. Além disso, ainda conseguiu fãs por todo o planeta que apreciavam a maneira simples e assustadora que o longa fora realizado. Em 2009, Raimi entrou em contato com Fede Alvarez por seu recente curta-metragem viral que rolava pela internet. A conversa acabou resultando na id eia de uma reinvenção do “conto” original de 1981. Liberdade foi dada à Alvarez para que tomasse conta da história. Percebe-se, a início, a garra deste para uma boa adaptação, no entanto, ainda peca por alguns problemas graves percebíveis tanto para quem é ou não é fã do original. Ao que tudo indicava, seria um Reboot. Mas se trata, na realidade, de uma (aparentemente) continuação audaciosa. A audácia já começa no pôster de divulgação: “O Filme Mais Aterrorizante que Você Verá Nesta Vida”...

Anúncio Oficial [Duas Faces do Cinema: Quarto Ato]

Desde que nós dois, Arthur Gadelha e Gabriel Amora, sentamos para decidir o nome do blog de cinema que escreveríamos a partir dali, e entramos no acordo que “Duas Faces do Cinema” intitularia o projeto, já sabíamos, mesmo sem dizer um para o outro, que ele não perduraria para sempre; não como principal. No entanto, assim que lançado, ainda com um fundo preto e branco, separando o casal principal do grande vencedor do Oscar, “O Artista”, a marca “Duas Faces do Cinema” ganhava espaço entre amigos e familiares.

O Retrato de Dorian Gray | Os segredos de Dorian

Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 1854 em Dublin, estudou na Trinity College de Dublin e, posteriormente, no Magdalen College em Oxford. Seu único romance foi O retrato de Dorian Gray e seu sucesso como dramaturgo foi efêmero. Morreu em 1900 em Paris, três anos após ter sido libertado da prisão por ter sido pego em flagrante indecência.  O retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em 1891 em formato de livro em uma versão bastante modificada do romance original de Oscar Wilde, pois foi considerado muito ousado para sua época. Já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincott’s em 1890 e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Estamos falando de uma Inglaterra do século XIX bastante tradicionalista e preconceituosa, assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de I...