Como uma das primeiras séries originais Netflix, BoJack Horseman sempre se mostrou ir muito além do humor, já que trouxe discussões importantes sobre a atualidade. Após o hiato de um ano, a animação retorna mostrando que, apesar de todas as dificuldades da vida, devemos buscar ser melhores.
Depois do enterro de Sara Lynn no final da terceira temporada, BoJack quase comete suicídio, mas é interrompido por algo completamente diferente de sua realidade em “Hollywood”. E, mais uma vez, após uma série de erros e decepções, Bojack decide se afastar de tudo e de todos para tentar encontrar uma forma melhor de viver consigo, o que é um artifício já utilizado na trama.
Durante o afastamento do protagonista, o seriado acerta ao abordar de formas mais profundas os seus coadjuvantes. Sr. Peanutbutter está concorrendo como governador da Califórnia, o que acaba fazendo um paralelo ao cenário político americano e que traz situações bastante incomuns e engraçadas – apesar da referência clara a Donald Trump, o presidente não é citado de forma direta durante a trama. Em contraste com seu marido, que defende ideais bastantes conservadores, Diane trás um discurso feminista que condiz bastante com a realidade, levantando questões, como a segurança da mulher no dia-a-dia. Apesar de trazer momentos engraçados em torno desse desenvolvimento, a série não se esquece de deixar claro que muitas daquelas situações, infelizmente, acontecem no cotidiano.
Enquanto tudo isso acontece, BoJack continua afastado. O personagem agora se encontra na antiga casa da família de sua mãe, e esse momento é utilizado para nos contar um pouco sobre a infância também conturbada de Beatrice, mãe de BoJack. Se utilizando de uma montagem inteligente que ressalta o presente e o passado do mesmo local, a série demonstra uma enorme evolução de roteiro em relação a temporadas anteriores.
A apresentação da possível filha de BoJack, algo já introduzido no final da temporada anterior, se mostra eficiente ao trazer novos questionamentos ao personagem. Vale destacar aqui o episódio “Seu Estúpido de M***a”, que apresenta ao telespectador o que se passa na mente de BoJack, e porque ele toma decisões tão absurdas e questionáveis, algo que nos mostra o quão perturbado e inseguro esse personagem pode ser. Talvez por isso muitas pessoas acabem se identificando tanto com BoJack, que, assim como nós, tem que enfrentar seus dramas diários sem demonstrar medo ou insegurança por não querer ser julgado. E, apesar de todos esses problemas, o episódio serve para evidenciar que, no fundo, BoJack não é essencialmente ruim, e sim que não consegue lidar com seus medos de forma saudável.
Mas o grande destaque dessa temporada vai para o episódio “Viagem no Tempo”, que retrata a história da infância de Beatrice até o momento exato em que ela conheceu o pai de BoJack, Butterscotch Horseman. O episódio na verdade é uma alucinação da mãe de BoJack, que se encontra com problemas graves de memória, e, por isso, mistura momentos presentes com lembranças do passado, mostrando novamente o quanto a série evoluiu artistica e tecnicamente. Se utilizando da abstração e com uma montagem muito bem construída para ilustrar as memórias de Beatrice, o seriado acerta ao utilizar um tom mais sombrio para retratar o passado da família disfuncional de BoJack.
Crítica: Bojack Horseman - 4ª Temporada (2017)
Melancolia agridoce
A despeito de a temporada mais uma vez trazer todos os dilemas vividos pelo protagonista de uma forma ainda mais intensa, ela se encerra mostrando que ainda existe esperança ao personagem. A familiarização dos atores com seus intérpretes em um trabalho de dublagem muito bem feito traz cada vez mais alma aos personagens, dando destaque principalmente ao ator Will Arnett, que demonstra cada vez mais afeto ao Bojack, trazendo, assim, muito mais intensidade para o protagonista.
A quarta temporada de BoJack é surpreendente, melancólica e divertida de uma forma poucas vezes vista na TV, e nos mostra que a vida, apesar de não ser perfeita e cheia de dificuldades, pode sim, nos trazer algo que nos faça querer se tornar melhor.
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