Diferentemente dos filmes de ação da última década, Kingsman:
Serviço Secreto (2015) chamou atenção do público com uma ação frenética e estilizada, humor
na medida e um elenco de peso. O sucesso de bilheteria não deixou a Fox tardar
em trabalhar na sua sequência. Agora, Kingsman: O Círculo Dourado se apropria
da mesma fórmula do primeiro e perde parte daquela ousadia que outrora nos extasiou.
Matthew Vaughn, que comandou o antecessor da obra, demonstra estar novamente muito à vontade, mesmo sendo seu primeiro
trabalho com sequência. O roteiro (também de autoria de Vaughn) casa perfeitamente
com sua filmagem, sobretudo nas cenas de ação, o que prende o público à
tela. Todos atributos técnicos cinematográficos são executados com classe e
propriedade: montagem ritmada, trilha sonora nas alturas, coreografias e estudo
de cena são características que o diretor já mostrou entender e ter a
perspicácia para trabalhar no filme.
O diretor também mostra respeitar as referências
audiovisuais do gênero, pois algumas das cenas de ação causam um sentimento leve
de nostalgia, lembrando, em certos momentos, os filmes clássicos de espionagem,
como a franquia clássica de 007. Mas nada muito óbvio, afinal, Vaugh trabalha planos
com uso de travellings rápidos que dão a impressão de um 360º, articulando com
todo mecanismo da cena em sua totalidade.
Porém, o Círculo Dourado, no desespero de ser diferente
como o antecessor, repete recursos narrativos e toma decisões erradas que são
impossíveis de ignorar, começando pela volta de Colin Firth. O personagem está sem
um fundamento plausível, deixando clara a justificativa de “se foi bom, repete”.
Além disso, banaliza totalmente o drama criado por sua morte no filme anterior.
E, apesar do ator ser brilhante em seu papel, o personagem não faria falta no
enredo – o que economizaria alguns minutos, pois o filme é excessivamente
longo.
As megalomanias dos antagonistas são semelhantes, mas dessa
vez, a problemática não parece ser levada a sério o suficiente (nem pelo filme e muito menos pelo público), servindo apenas
como apoio para os momentos de ação. No entanto, o filme se apropria disso para
fazer alusão ao presidente norte-americano Donald Trump de forma crítica, com bom humor e criatividade. A vilã Poppy
(linda Julianne Moore) segue o padrão de personalidade do vilão anterior (Samuel L.
Jackson), desperdiçando talento da atriz e deixando-a forçada na tela. O que também agrava as falhas do filme é a escolha de um plano extremamente problemático e sexista (você saberá quando ver). Pequenos "detalhes" que fazem toda a diferença.
Estruturalmente falando, o longa é muito semelhante ao
primeiro. Para que isso não vire uma réplica assumida, é preciso um roteiro que
se sustente. A ponte entre os Kingsman e os Statesman é convincente, original e
traz um contraste de culturas fazendo o uso do estereótipo do inglês certinho e
do americano caipirão. Mesmo não sendo original em sua história, o elenco
incrível – com nomes como Jeff Bridges, Halle Berry, Channing
Tatum, Pedro Pascoal, Julianne Moore, o próprio Colin Firth e o jovem Taron Egerton - têm o carisma e o talento necessários para te prender
do começo ao fim. E com certeza tem o humor que todos esperam, com tiradas no
timing certo e uma surpresa que faz toda a diferença.
Faltou um pouco de coragem no filme-sequência, partindo do
pressuposto que sempre esperamos mais do sucessor. Mas muitas vezes, o dinheiro
pesa mais que a coerência. Kingsman: O Círculo Dourado não é o filme
que vai ser lembrado por sua versatilidade – isso fica para o primeiro –, mas com
certeza é um dos que mais vai te divertir no cinema esse ano.
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