Vaias e aplausos: essas foram as primeiras reações ao novo
filme de Darren Aronofsky. Essa é uma das principais evidências de que Mãe!
não é passível de indiferença do público. Ele vai te fazer pensar e querer
formar uma opinião sobre. Mas nada de imediatismo. O que o diretor propõe em
seu longa é tão intenso, que são necessárias algumas horas – ou dias – para
digerir o que foi visto. Por isso, não espere que essa crítica seja definitiva.
Mãe! é, certamente, um filme para se extrair algo novo toda vez que for
assistido.
Aronofsky não é tímido em externar as suas referências e
inspirações. Mãe! possui elementos em sua narrativa que lembram
propositalmente o terror de Roman Polanski, O Bebê de Rosemary (1969).
A mulher que presta o seu papel social de esposa atenciosa, os vizinhos
intrusos, o confinamento e o mistério são alguns desses elementos em comum. Não
à toa, o pôster de divulgação homenageou o clássico. Porém, mais do que isso, o
diretor (e também roteirista) se baseou em uma história que todos conhecemos.
Talvez, a história mais conhecida de todos os tempos.
Ora terror, ora suspense, mas sempre horror psicológico. Mãe!
é desenvolvido e argumentado na experiência dentro e fora da sala de cinema. A
intensidade em cada sequência é concebida pela harmonia perfeita entre atuação,
técnica e direção. O roteiro, que possui um ritmo descontínuo, não deixa de
aproveitar, porém, cada momento para desenvolver seus personagens. A própria
trilha, muito discreta, dá atenção aos detalhes sonoros.
Aronofsky, que já conseguiu garantir um Oscar para Natalie
Portman por Cisne Negro (2010), não deixa a desejar na direção de
atores. Ele assina a obra com seu estilo de direção, de planos fechados, com
câmera instável, absorvendo todo o talento de Jennifer Lawrence e de Javier
Barden. Esta primeira está, sem dúvidas, empenhada em fazer o público
sentir o que sua personagem sente, e, mesmo com os poucos diálogos, expressa de
forma visceral o mais íntimo do seu papel. Provavelmente a melhor performance
da atriz.
O principal recurso narrativo está no simbolismo e na
linguagem intersemiótica. A literalidade minimizada pode fazer alguns
classificarem o filme como surrealista, sobretudo em sua sequência final. Mas,
a partir daquele momento, a tela se torna uma janela para o mundo real.
Feminicídio, fanatismo religioso, abuso de poder e muitos assuntos que
percorrem as notícias do mundo são trazidas à tona de forma inesperada e
latente. A sucessão de acontecimentos em um pequeno limite de espaço faz o Mãe!
parecer um exagero cinematográfico, quando, na verdade, consagra violenta e
perturbadoramente uma realidade da qual não estamos preparados para aceitar
enquanto sociedade. Dito isto, em uma sociedade estigmatizada com valores
sociais deturpados, é quase involuntário haver resistência. Por isso as vaias.
Mãe! é um dos filmes mais ousados
do século XXI, que beira a presunção e a vaidade. Se apropriar de questões
delicadas pode parecer, ao olhar de muitos, uma oportunidade para perpetuar o
filme e o nome do seu conceptor. No entanto, Aronofsky traz a sua visão de
caos, do apocalipse e do que somos. Se o seu objetivo era nos fazer questionar
sobre as circunstâncias humanas e sociais, ele consegue; e se utilizar do
cinema para isso é um mérito que poucos alcançam. E após tantas deliberações
sobre esse filme, só resta uma pergunta: a vida imita a arte ou a arte imita a
vida?
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