Entre as histórias da rainha do crime, não há obra mais conhecida ou celebrada de Agatha Christie que o "Assassinato no Expresso Oriente" (1933) - com exceção, talvez, para “O caso dos 10 negrinhos” (1939). O livro em pauta traz trama que, apesar de competente e inusitada, se torna confusa e conveniente pelo excesso de personagens, de características e de adjetivos. Entretanto, esta desordem não é suficiente para encobrir a complexidade e a genialidade de Christie em construir mais um caso de excelência para seu personagem já conhecido - e, diga-se de passagem, já amado por seus fãs.
Ao pegar o Expresso Oriente, lotado demais para a época do ano, Hercule Poirot, com seu sotaque belga, bigode voluptuoso e um metro e sessenta e dois de altura, já sabia que algo naquele trem não estava em harmonia. Quando, seguindo uma tempestade de neve, um assassinato acontece, a teoria é de que o autor da tragédia permanece à bordo. Cabe então ao personagem memorável e sempre carismático - comparável somente ao detetive Sherlock Holmes - de descobrir, junto a outros personagens desnecessários ao caso, o que afinal ocorrera naquela noite.
Da mesma forma certeira de investigação conhecida da autora (gradual e lenta, mas sem despertar desinteresse), Poirot realiza entrevistas e conversas que desafiam até o mais lógico dos leitores a descobrir antes mesmo da resolução do caso o que realmente acontecera naquele expresso oriente, tarefa quase impossível. Em um dos seus casos mais complexos e complicados, Christie trabalha em um crime quase perfeito pecando algumas poucas vezes pelo caminho, mas sem perder o elemento surpresa.
Os nomes complicados de personagens em conjunto com a quantidade exagerada em curto espaço de tempo podem fazer parte da trama, mas não ajuda a torná-los memoráveis ou até relevantes, fato contrário aos livros em que Arthur Hastings aparece, personagem famoso por atuar como ajudante de Poirot em alguns casos.
Com final diferente da lógica da maioria de seus livros, o que traz boa surpresa para os leitores, Christie traz complexa história de mistério com a qualidade já registrada e confirmada por diversos outros livros, como “Os Crimes ABC” (1936) e “Assassinato no Beco” (1937). “Assassinato no Expresso Oriente” não é o melhor livro para iniciar a jornada de leitura da autora por abusar dos artifícios já conhecidos de Christie com excesso, o que acaba por tornar o livro mais complicado. No entanto, a obra é boa continuação para fãs de carteirinha e também ótima atração para aqueles que desejam entrar para o clube, pois demonstra não só a boa habilidade da autora, mas também justifica seu título de soberania literária.
Crítica: Assassinato no Expresso Oriente
História confusa, mas competente
Claramente eu, encontrando a Rainha Agatha:
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