Um ótimo elenco, uma história baseada em um livro de sucesso do gênero de suspense policial, Martin Scorsese como produtor executivo e um diretor com experiência são excelentes indicativos para um bom filme, certo? Errado! Boneco de Neve prova que nem mesmo sob essas condições é possível salvar uma adaptação de ser genérica, sem graça e esquecível.
A direção de Tomas Alfredson permanece na zona de conforto e não entrega nada de novo. Ser original é o básico, sobretudo em um gênero cinematográfico com frequentes produções, como suspense policial. A maioria parte da mesma premissa: busca pelo autor de um crime brutal. E o desafio está em entregar algo diferente do que é visto todos os anos nas telonas.
Para isso, a escalação de um elenco talentoso e notável pode contribuir para a qualidade de um filme. Colocar Michael Fassbender como protagonista, de fato, já chama atenção (inclusive, mais um filme que mostra como 2017 não foi um bom ano para o ator). Além de nomes como J.K. Simmons, Charlotte Gainsbourg, Rebecca Ferguson e Val Kilmer, que por si só já despertam interesse. Contudo, a má condução dos atores apenas ressalta as falhas de roteiro, de Peter Straúghan, Hossein Amini e Søren Sveistrup, e da narrativa cansada e arrastada, que é sustentada sobretudo pela curiosidade do espectador em descobrir o assassino. Algo de novo? Não mesmo.
Além disso, apostar as fichas em um elenco subtilizado afeta a própria atuação em si. Em particular Val Kilmer, que está desprovido de expressões faciais e ainda tem sua voz dublada de forma grosseira e perceptível.
É notável o interesse do público que consome produções de cinema e literatura por tramas de suspense. Isso desde os romances e contos escritos por Agatha Christie, concebida como Rainha do Crime. Boneco de Neve faz uso dos mesmos pilares da autora em falsas pistas, na intenção de trazer uma experiência imersiva (porém falha) ao colocar o público no mesmo patamar do detetive que vive um clichê dramático de ser solitário, bêbado e sem casos complicados para solucionar.
Os planos gerais das paisagens da nevasca de Oslo e trilha sonora atenuante conseguem construir um cenário de tensão, mas sempre com quebras e desfechos repetidos. E nem mesmo o ato final com revelação do assassino consegue ser digno de lembrança. A motivação mais chula possível é feita, com direto à diálogos tolos com o assassino enquanto este perde a chance de matar o mocinho, execução preguiçosa o suficiente para fazer rir.
Todo filme é construído para ser lembrado, seja por seu todo ou algum elemento específico. Quando uma obra se torna tão genérica que beira o insignificante, evidencia como as decisões foram erradas e que nem mesmo o investimento em toda uma produção consegue salvar um filme de uma má narrativa e uma má direção. Ser esquecido é uma das piores coisas que podem acontecer para um filme (a ponto de até lembrar para escrever se torna um processo difícil). Boneco de Neve consegue isso sem esforço. Uma pena.
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