O primeiro filme brasileiro original da Netflix tenta emular as lutas e
dificuldades da vida no sertão. A obra, em vista disto, procura mostrar um
pouco dessa realidade para o mundo. A temática, clichê em alguns outros produtos
da arte, como literatura e música, serviu de fonte para o diretor e roteirista,
Marcelo Galvão, que se inspira em
vários elementos para contar a história.
A trama fala de Cabeleira (Diogo Morgado), um bebê
abandonado no meio do sertão e resgatado pelo “Matador dos Matadores”,
conhecido como Sete Orelhas (Deto Montenegro), que criou e ensinou tudo que sabia para a
criança. Cabeleira cresceu isolado de outros contatos sociais. Depois do sumiço
repentino de seu tutor, o jovem sai para a cidade à procura de respostas.
Quando chega a uma vila, Cabeleira conhece Monsieur Blanchard (Etienne Chicot),
antigo patrão de seu pai de criação, que o contrata para assumir seu lugar como
“Matador dos Matadores”.
Crítica: O Matador (2017)
O desafio de falar sobre o sertão
Neste ponto, a história já se contradiz, pois aparecem vários “Matadores
dos Matadores”, o que tira o peso e a importância do personagem principal.
Porém, o roteiro se perde mais em tentar contar várias histórias, que mesmo se
entrelaçando em algum momento, tiram o foco da trama central, algo que acaba
prejudicando o desenvolvimento de todas. Esse recurso utilizado no roteiro
remete ao livro de Guimarães Rosa: Grande
Sertão - Veredas, que também tem o foco nos jagunços e nessas disputas
de terras do sertão, onde várias histórias desconexas são contadas.
Os personagens se tornam estereotipados e às vezes bem caricatos, sendo
isso positivo em apenas alguns momentos da história. O filme traz um grande
elenco como Maria de Medeiros (Pulp Fiction), Etienne
Chicot (O Código da Vinci) e
Paulo Gorgulho (Os
Dez Mandamentos), sendo vários subaproveitados, como se o filme não
tivesse dado o tempo de desenvolvê-los. Mesmo assim, o ator Diogo Morgado merece
destaque, já que passa a inocência e a brutalidade que o personagem precisa. No
entanto, isso também traz a problemática de escalar um ator branco e europeu,
quando não faltam bons atores brasileiros.
O filme também se inspira em referências dos faroestes clássicos
americanos, usando planos como close no rosto e em seguida na mão segurando a arma,
bem característicos desse gênero. Não é só isso que contribui diluição de
características nordestinas, mas também o pouco aproveitamento de tantos
elementos regionais, como o cordel, os contos populares, o repente, os retirantes; o que torna o sertão mais “hollywoodiano” do que o necessário.
Apesar disso, é interessante uma visão mais crua e cruel da vida na
seca, deixando de lado o humor, muito presente em outras obras que retratam
esse contexto.
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