Talvez mirando em 127 Horas, os italianos Fabio Guaglione e Fabio Resinaro colocam Armie Hammer na pele de um soldado ilhado no deserto; sozinho, preso, e perdido nas memórias (em comparação direta). A solução para tornar esta numa história díspar, no entanto, é até surpreendente diante as impassibilidades que propõe o subgênero inserido de “guerras norte-americanas”. Na melhor das visões, Mine pode até ser sobre um homem que não consegue ir adiante, mas é principalmente sobre um homem que sequer sabe porque está preso. O resultado do discurso, no entanto, não é tão forte quanto a sugestão porque Mine quer ser “subgenérico”.
Crítica: Mine (2016)
"Por que você veio a esta guerra?"
Após falhar numa missão, Mike se perde pelas dunas até alcançar um campo minado; pisa sobre uma das minas e, de repente, não pode mais se mover. A narrativa entende que esse momento é uma quebra ao ritmo frenético que abre o filme e prepara bem o terreno até a ruptura. Quando essa urgência invade a tela, solucionar o caso se torna uma ação imediata de comunicação com o espectador, mas há um limite.
Enquanto Mine é vendido como um filme de ação que estaciona, é difícil que o alicerce da verossimilhança seja interrompido para dar sustância. A aparição do personagem-chave como uma consequência lúcida-cômica põe em escanteio a veracidade do drama. A aventura se transforma numa parábola sobre os limites e razões dos conflitos internacionais, a busca do sentido inexistente. Quando pergunta a Mike a razão dele estar preso e o mesmo olha o vazio em volta, vem à mente a ideologia de servidão que o prendeu a estar nessa posição (literalmente) de inimigo na guerra.
"Por que você está na guerra?" O meio que os Fabios encontram para perguntar isso é até simpático, mas o modo como despista a obviedade do subtexto romântico é inviável – claro que os problemas familiares de Mike se tornam imediatamente importantes. Afasta-se de uma história potente por uma insistência dramática que logo dissolve Mike no mesmo personagem de guerra.
O mais relevante permanece na tangente: um homem imóvel, impotente, sem escolhas, submisso à vontade do Estado; uma humanização perfeita à cultura americana que lembra imediatamente os homens piedosos de Terrence Malick em Além da Linha Vermelha. A diferença de Mike é sua semelhança com o Sniper de Clint Eastwood, o sentimento comprado a imagens fáceis – não a toa, a trilha de Luca Balboni e Andrea Bonini toma espaço imediato das dores, não deixando o protagonista pensar sem seu auxílio.
Mas Hammer, num desafio que é visivelmente difícil, entrega o único elemento de potência – sua performance não ultrapassa qualquer expectativa, mas permite o acesso indispensável às emoções estilizadas. A angústia da perda de consciência no rosto de Hammer é o que sustenta os impasses, como o uso incompatível do humor na medida de justificar nossa permanência.
Se os personagens de Dunkirk, Sniper Americano, Até o Último Homem, Coração de Ferro, Guerra ao Terror (insira outros aqui), pisassem numa mina terrestre e precisassem aguardar resgate, teríamos filmes muito semelhantes. Mas Mine, felizmente, é um dos únicos que se preocupa em proteger seu personagem se ausentando de danificar questões políticas; a razão dele estar lá, esse brilhante significado enfraquecido, ainda assim permanece como resposta. "Por que você luta essa guerra?", basta esquecer que esta guerra é, na realidade, uma questão exclusivamente pessoal.
Se os personagens de Dunkirk, Sniper Americano, Até o Último Homem, Coração de Ferro, Guerra ao Terror (insira outros aqui), pisassem numa mina terrestre e precisassem aguardar resgate, teríamos filmes muito semelhantes. Mas Mine, felizmente, é um dos únicos que se preocupa em proteger seu personagem se ausentando de danificar questões políticas; a razão dele estar lá, esse brilhante significado enfraquecido, ainda assim permanece como resposta. "Por que você luta essa guerra?", basta esquecer que esta guerra é, na realidade, uma questão exclusivamente pessoal.
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