Um fato sabido por quem acompanha o Oscar: a Academia não costuma pôr filmes de terror entre os indicados, sobretudo na categoria principal da premiação. Apesar de algumas indicações em categorias técnicas ou de atuação nas primeiras décadas do evento, passaram-se mais de quarenta anos até que um longa do gênero alcançasse um lugar entre os pretendentes a Melhor Filme: a honra ficou com O Exorcista (1973), que acabou não levando a estatueta.
Isso significa dizer que filmes como A Noite dos Mortos Vivos (1968) ou O Bebê de Rosemary (1968), além de outros marcos na história do cinema, não concorreram ao prêmio, ainda que este último tenha garantindo uma nomeação para Melhor Roteiro e uma vitória de Ruth Gordon como Atriz Coadjuvante.
Mesmo grandes nomes, como Alfred Hitchcock, não viram suas obras chegarem lá (Rebecca, de 1940, concorreu e venceu, mas não se encaixava no gênero), e o próprio diretor perdeu nas cinco vezes em que concorreu na categoria de Melhor Direção. Nem o seu clássico atemporal Psicose (1960) teve força suficiente para figurar entre os considerados melhores daquele ano.
Desde a indicação de O Exorcista, ainda demoraram quase duas décadas para que finalmente tivéssemos um terror vencendo o grande prêmio, até hoje o único: O Silêncio dos Inocentes (1991) acabou se tornando a terceira película da história a levar para casa o "Big Five" da Academia: filme, atuação masculina e feminina, direção e roteiro (neste caso, adaptado).
É natural, portanto, que a presença de Corra! (2017) no Oscar deste ano tenha chamado atenção, ainda mais pelo fato de o longa, dirigido por Jordan Peele, concorrer não apenas como Melhor Filme, mas também nas categorias de direção, roteiro e melhor atuação em papel principal com Daniel Kaluuya. Mas a obra é mesmo um terror acima de qualquer coisa?
Assim como O Silêncio dos Inocentes (que, particularmente, considero muito mais um thriller), o filme de Peele difere muito do que geralmente classificamos como terror puro ou horror. Ainda que carregue muitas das convenções e formas do gênero, Corra! depende muito mais da densidade e curiosidade de sua história do que de sustos ou de uma ambientação em favor do medo.
Sim, há alguns poucos jumpscares, jogos de câmera já emblemáticos dessa classe de filmes e até o convencional alívio cômico. Mas o terror, nesse caso, acaba sendo muito mais uma realidade social e política do que uma ficção criada para assustar ou mesmo criar envolvimento psicológico. E isso faz toda diferença para o Oscar neste momento.
Isso significa dizer que filmes como A Noite dos Mortos Vivos (1968) ou O Bebê de Rosemary (1968), além de outros marcos na história do cinema, não concorreram ao prêmio, ainda que este último tenha garantindo uma nomeação para Melhor Roteiro e uma vitória de Ruth Gordon como Atriz Coadjuvante.
Mesmo grandes nomes, como Alfred Hitchcock, não viram suas obras chegarem lá (Rebecca, de 1940, concorreu e venceu, mas não se encaixava no gênero), e o próprio diretor perdeu nas cinco vezes em que concorreu na categoria de Melhor Direção. Nem o seu clássico atemporal Psicose (1960) teve força suficiente para figurar entre os considerados melhores daquele ano.
Oscar 2018: Corra! e o terror que interessa à Academia
A obra do estreante Jordan Peele está indicada a quatro categorias
É natural, portanto, que a presença de Corra! (2017) no Oscar deste ano tenha chamado atenção, ainda mais pelo fato de o longa, dirigido por Jordan Peele, concorrer não apenas como Melhor Filme, mas também nas categorias de direção, roteiro e melhor atuação em papel principal com Daniel Kaluuya. Mas a obra é mesmo um terror acima de qualquer coisa?
Assim como O Silêncio dos Inocentes (que, particularmente, considero muito mais um thriller), o filme de Peele difere muito do que geralmente classificamos como terror puro ou horror. Ainda que carregue muitas das convenções e formas do gênero, Corra! depende muito mais da densidade e curiosidade de sua história do que de sustos ou de uma ambientação em favor do medo.
Sim, há alguns poucos jumpscares, jogos de câmera já emblemáticos dessa classe de filmes e até o convencional alívio cômico. Mas o terror, nesse caso, acaba sendo muito mais uma realidade social e política do que uma ficção criada para assustar ou mesmo criar envolvimento psicológico. E isso faz toda diferença para o Oscar neste momento.
Diante da pertinência de discursos em favor da representatividade na arte e do racismo institucionalizado em que vivemos, a temática e a genialidade com que o diretor põe em tela essas questões garantem ao filme uma força que se sobrepõe a qualquer descrição de gênero. E isso tudo aliado a uma perfeição cinematográfica que não poderia jamais ser ignorada pela Academia.
Em uma indústria tão saturada quanto Hollywood, dependente de releituras e continuações, esse é um roteiro original que se destaca não apenas pela sua singularidade, mas também pelo momento em que surge. Sua expressividade vai desde os comentários racistas (disfarçados de “elogios”) ouvidos pelo protagonista de Kaluuya, até sutilezas como a importância concedida ao algodão na história. A política vem antes do medo.
É provável que o longa não mude a perspectiva da Academia em relação a seus semelhantes (e há bons longas de terror sendo feitos), mas, muito mais do que um filme de gênero, Corra! é uma daquelas obras que certamente fariam falta caso não estivessem presentes em todas as principais premiações do cinema. E isso tanto pela sua relevância política quanto pelo esmero por parte de seus realizadores.
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