Pular para o conteúdo principal

Pedro Coelho (2018) | Absurdamente ousada, comédia familiar diverte

À primeira vista, Pedro Coelho (2018) parece um tanto quanto vergonhoso. Híbrido de CGI com live action, o filme “moderniza” a charmosa e consagrada obra infantil de Beatrix Potter, já adaptada múltiplas vezes em seriados de animação. Devido ao boom de filmes semelhantes que vêm surgindo desde a virada do século, o sentimento inicial sobre o filme é amargo e conservador, como um pressentimento bastante negativo de que uma preciosidade foi destruída. Mas, e se a surpresa for boa? Inacreditavelmente, apesar de não ser excelente, ela aconteceu: eis que a nova empreitada do coelho de jaqueta azul é divertida. E muito.

Crítica: Pedro Coelho (2018)

Absurdamente ousada, comédia familiar diverte

Sob a direção de Will Gluck, veterano da comédia por trás de A Mentira (2010), Amizade Colorida (2011) e Annie (2014) - este último seu primeiro filme familiar -, Pedro Coelho adquiriu um novo tom: absurdo, debochado e violento, ainda que com sua cota de fofura, o filme aproxima seus personagens do humor físico e irreverente que em muito lembra Pica-pau (a série de animação, não o live action horrendo de 2017) e as esquetes de Looney Tunes. Se parece arriscado para um gênero que busca cada vez mais higienizar-se (não é à toa que o filme vem coletando controvérsias que ele próprio acusa que viriam), por outro lado colhe risadas (culposas) não só dos pequenos, mas também dos já crescidos.

Na trama, o astuto e irreverente personagem-título (James Corden, no original) elabora arriscados esquemas para roubar alimentos da horta do velho e antipático Severino McGregor e levá-los para sua família e outros animais do campo, como um típico Robin Hood. Quando o velho morre (em uma cena hilariamente inadequada, por sinal), sua propriedade é herdada pelo sobrinho Thomas Severino (Domhnall Gleeson), um frustrado jovem da cidade que faz de tudo para manter os bichos longe.

Reinventando os personagens ao exagerar e modernizar suas personalidades, o filme distancia-se da moralidade e do maniqueísmo próprios dos contos de fadas, trazendo uma pegada bastante atraente às crianças que desvendam a sociedade atual, ainda que perca doses da inocência típica de sua origem no meio do processo. Ainda assim, existem esforços para pincelar o legado do conteúdo original; a personagem que cuida dos coelhos, Bea (Rose Byrne), faz alusão à Beatrix e, tal qual a autora, mantém o hábito de desenhá-los. Algumas belas sequências em 2D também evocam a fantasia dos livros, mas nada chega a ser tão puro, singelo e bem executado nesse sentido quanto em outros filmes familiares, como no exemplar Paddington 2 (2018).

Tratando-se do elenco, é inevitável pontuar o quão notável é a performance de Domhnall Gleeson. Encarando um personagem diferente de qualquer outro em sua carreira, o ator finalmente abraça sua comicidade em um papel bastante físico, entregando facetas que escondia até então. Rose Byrnes não foge da confortável superfície que é sua Bea, e o elenco de dubladores originais (que inclui as queridinhas Daisy Ridley, Margot Robbie, Elizabeth Debicki e a cantora Sia) parece tirar proveito dos exageros e até emprestar suas feições aos fofos animais.

Em termos de atmosfera, o longa-metragem faz a tarefa de casa e entrega um visual alegre e colorido, com animais em computação gráfica muito realistas e que interagem bem com as filmagens live action. A musicalidade, em parte a cargo de Ezra Koenig e sua banda Vampire Weekend (e no Brasil pela banda Rouge) é bastante responsável pela vibe edificante que contribui para o sentimento de diversão. A canção original é de botar na playlist.

No fim das contas, esta versão amalucada de Pedro Coelho merece a atenção que quer e, sem depender de sorte, uma franquia; mantendo o nível de risos (necessários hoje em dia) e ousadia, ela será muito bem-vinda. Mas, por enquanto, a sugestão é que as famílias tirem proveito da comicidade absurda do filme e percebam a mensagem bacana nas entrelinhas, sendo estimuladas a buscar sobre a obra de Beatrix. Por último, só deixo um pedido à Gleeson: passeie outras vezes pela comédia (por favor).


Comentários

  1. Mal posso esperar pela continuação!!! Esta história é incrível. Eu não gostava de filmes infantis, mas desde que dei uma oportunidade a Pedro Coelho realmente fiquei surpreendida pelas maravilhosas mensagens que têm este tipo de filmes. Tem todas as emoções nesta produção de animação infantil nos diverte muito e nos faz se identificar com os personagens. Para quem não é deste tipo de produção, esta é uma boa opção para mudar de idéia. Eu simplesmente me encantei e super indico. E agora virei fã de desenhos.

    ResponderExcluir
  2. Sempre fui fã do desenho animado, gosto de porque em cada produção eles buscam incluir uma mensagem e não apenas para os pequenos, pois podemos aprender muito com essas produções e nos divertir ao mesmo tempo. Eu considero pedro coelho o filme um dos melhores filmes de fantasia. Eu juro que vale a pena ver, porque mesmo que seja uma história feita inteiramente para crianças, parece que é muito adequado para qualquer membro da família ver e se deliciar com a história. Eu definitivamente iria vê-la novamente e recomendá-la a amigos e familiares.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe sua opinião!

Postagens mais visitadas deste blog

A Morte do Demônio (2013) | Reimaginação do "Conto Demoníaco"

The Evil Dead (EUA) Em 1981, Sam Raimi conseguiu realizar algo extraordinário. Com um orçamento baixíssimo (em volta de 1,5 mil), o diretor reinventou os filmes idealizados dentro de uma cabana com jovens e demônios. Além disso, ainda conseguiu fãs por todo o planeta que apreciavam a maneira simples e assustadora que o longa fora realizado. Em 2009, Raimi entrou em contato com Fede Alvarez por seu recente curta-metragem viral que rolava pela internet. A conversa acabou resultando na id eia de uma reinvenção do “conto” original de 1981. Liberdade foi dada à Alvarez para que tomasse conta da história. Percebe-se, a início, a garra deste para uma boa adaptação, no entanto, ainda peca por alguns problemas graves percebíveis tanto para quem é ou não é fã do original. Ao que tudo indicava, seria um Reboot. Mas se trata, na realidade, de uma (aparentemente) continuação audaciosa. A audácia já começa no pôster de divulgação: “O Filme Mais Aterrorizante que Você Verá Nesta Vida”...

Anúncio Oficial [Duas Faces do Cinema: Quarto Ato]

Desde que nós dois, Arthur Gadelha e Gabriel Amora, sentamos para decidir o nome do blog de cinema que escreveríamos a partir dali, e entramos no acordo que “Duas Faces do Cinema” intitularia o projeto, já sabíamos, mesmo sem dizer um para o outro, que ele não perduraria para sempre; não como principal. No entanto, assim que lançado, ainda com um fundo preto e branco, separando o casal principal do grande vencedor do Oscar, “O Artista”, a marca “Duas Faces do Cinema” ganhava espaço entre amigos e familiares.

O Retrato de Dorian Gray | Os segredos de Dorian

Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 1854 em Dublin, estudou na Trinity College de Dublin e, posteriormente, no Magdalen College em Oxford. Seu único romance foi O retrato de Dorian Gray e seu sucesso como dramaturgo foi efêmero. Morreu em 1900 em Paris, três anos após ter sido libertado da prisão por ter sido pego em flagrante indecência.  O retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em 1891 em formato de livro em uma versão bastante modificada do romance original de Oscar Wilde, pois foi considerado muito ousado para sua época. Já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincott’s em 1890 e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Estamos falando de uma Inglaterra do século XIX bastante tradicionalista e preconceituosa, assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de I...