Trilhando por caminhos despretensiosos, a comédia romântica alemã De Encontro Com a Vida (2018) chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 19, mais de um ano após seu lançamento original. Destaque na 41ª Mostra Cinema de São Paulo, o filme de Marc Rothemund, diretor de A Garota das Nove Perucas (2013) e Uma Mulher Contra Hitler (2005), esse segundo indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, chega com uma proposta otimista, mas “deixa passar” muitos elementos que poderiam torná-lo mais do que outro simples longa “água com açúcar”.
A trama tem como inspiração a autobiografia do autor Saliya Kahawatte (interpretado na adaptação por Kostja Ullmann, em uma performance carismática), que ainda jovem fora acometido por uma doença genética, perdendo 95% de sua visão. Apaixonado por hotelaria, sua condição o impede de conseguir empregos na área, até decidir omiti-la ao candidatar-se para a vaga de funcionário em um luxuoso hotel em Munique. Passando por diferentes módulos de treino, Saliya tenta diariamente “contornar” sua cegueira para esconder a verdade de todos, inclusive de Laura (Anna Maria Mühe), colega de trabalho por quem se apaixona.
A trama tem como inspiração a autobiografia do autor Saliya Kahawatte (interpretado na adaptação por Kostja Ullmann, em uma performance carismática), que ainda jovem fora acometido por uma doença genética, perdendo 95% de sua visão. Apaixonado por hotelaria, sua condição o impede de conseguir empregos na área, até decidir omiti-la ao candidatar-se para a vaga de funcionário em um luxuoso hotel em Munique. Passando por diferentes módulos de treino, Saliya tenta diariamente “contornar” sua cegueira para esconder a verdade de todos, inclusive de Laura (Anna Maria Mühe), colega de trabalho por quem se apaixona.
Crítica: De Encontro Com a Vida (2018)
Comédia alemã se sustenta no "água com açúcar"
Ainda que siga um storytelling tradicional em suas quase duas horas de duração, investindo na figura de Kahawatte como um herói que luta para superar suas limitações (quase um “super”, na verdade, visto que após a perda de sua visão é “agraciado” com uma memória afiada e habilidades exageradamente superiores na percepção dos outros sentidos), o filme opta por recursos que beiram ao didatismo narrativo, principalmente quando os recursos técnicos simulam diversas vezes a visão do protagonista. Outra característica pouco inventiva do longa está na tentativa explícita de se aproximar de uma produção hollywoodiana, com trilha musical e algumas expressões (principalmente xingamentos) sendo proferidas na língua inglesa.
Ao optar por seguir pela estrada segura, a comédia não explora todo o seu potencial; personagens coadjuvantes com um background social mais relevante, como o colega imigrante do Afeganistão e a mãe solteira (tanto na figura de Laura quanto na da mãe do protagonista) são escanteados para dar lugar à arquétipos como o melhor amigo piadista e galanteador (aqui o irresponsável Max, interpretado por Jacob Matschenz) e o pseudo-antagonista exigente, cujo comportamento muda da água para o vinho à poucos minutos da conclusão.
Tendo em vista tratar-se de um gênero que, após atingir seu ápice de sucesso comercial nas duas últimas décadas, hoje ocupa poucas salas de cinema, a comédia romântica carece de um sopro de relevância e inovação na sua estrutura ou temática que cause efeitos positivos e memoráveis ao espectador. De Encontro Com a Vida mira e acerta ao escolher abordar sobre as muitas dificuldades que pessoas com deficiência geralmente encontram, seja para ascender profissionalmente ou socialmente, mas começa a errar o alvo quando atira flechas de perspectiva simplista e carregadas com piadas nada sofisticadas sobre cegueira. Carece de um tratamento mais inteligente ou sensível, como o visto na obra brasileira Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), por exemplo.
Deixando muitas oportunidades de lado, a nova película de Rothemund quer muito ser um feel good movie universal e cheio de boas intenções; por isso pouco se assume como cinema alemão, assim como também em quase nada se arrisca. Faz sorrir, e é satisfatório no que veio fazer, mas não o consideraria necessário. Histórias como a Saliya são gostosas de se conhecer, mas como a dele existem outras que contam com maior afinco o que realmente importa de ser relatado.
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