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A Freira (2018) | Divertido em sua essência, pouco assustador em seu resultado


Não é todo mundo que consegue criar um universo expandido nos cinemas. A Universal, por exemplo, falhou miseravelmente ao lançar A Múmia, o primeiro de uma série de outros longas que se conectariam em uma obra que uniria todos os personagens de monstros da marca, como o Drácula, Lobisomem etc. Depois do fracasso do filme protagonizado por Tom Cruise, todo o planejamento foi jogado fora. Por outro lado, James Wan, um dos mais competentes diretores dessa geração, teve visão de longo alcance. Ao criar uma série de monstros e histórias arrebatadores nas aventuras do casal Ed e Lorraine Warren, nos maravilhosos Invocação do Mal 1 e 2, o diretor, ao lado do seu time de roteiristas, planejou filmes derivados e que, apesar de não se concentrarem em tramas baseadas em fatos, conseguem ser intensos justamente pela construção narrativa que Wan tanto preza.

Depois de um medíocre Annabelle e de um bom Annabelle 2: A Criação do Mal, A Freira surge para expandir ainda mais esse universo. Dirigido pelo competente Corin Hardy, diretor de The Hallow, escrito por Gary Dauberman, um dos roteiristas de I.T: A Coisa, e com a supervisão de Wan na produção do filme, é inegável que The Nun é uma obra divertidíssima de horror.

A trama já começa voltando 20 anos antes da cronologia da franquia original, durante os anos 1950, e apresenta um entregador encontrando uma freira enforcada em um convento. Ele informa à igreja, que envia a noviça Irene e o padre Burke ao encontro do jovem entregador. A partir disso, eles pesquisam, estudam e, enfim, se deparam com um lugar mal assombrado.

A jornada, que já tem um espírito de histórias de detetive, ainda apresenta elementos riquíssimos na construção de um universo palpável. A catedral, por exemplo, é belíssima e, apesar de assustadora, consegue garantir algumas das melhores paisagens encontradas na franquia. É um trabalho de fotografia primoroso que também consegue assustar, do mesmo modo que a trilha sonora intensa, que surge aqui como um chamado do perigo. Reparem como ela sempre toca quando um personagem desafia o antagonista ou quando entra em algum lugar proibido.

A trama, por outro lado, vai perdendo forças durante o seu segundo ato que insiste em repetir todos os elementos já explorados na franquia original. Cruzes revirando, personagens sendo acordados por rádios, freiras sumindo entre os corredores, freiras surgindo atrás de espelhos, crianças cuspindo coisas inesperadas e por aí vai. A sensação de repetição e de clichê é tão gritante que beira o ridículo algumas vezes. Percebemos o susto 10 segundos antes dele surgir. E aí mora o perigo do sono em um filme como esse.

Sua conclusão, felizmente, é um pouco mais corajosa. Há sequências surpreendentemente tensas e, inclusive, há várias que lembram Castlevania e Silent Hill. Essas cenas, por sinal, possuem uma técnica primorosa de movimento de câmera. O diretor literalmente nos coloca dentro da ação, seja com ponto de vista subjetivo ou quando nos posiciona nos ombros dos heróis. São divertidas e originais o suficiente para envolver o espectador na tensão que o personagem se encontra. E os últimos segundos do filme são extremamente eficientes, o que torna a obra um pouco mais inteligente que os dois Annabelle e inferior somente aos filmes dirigidos por Wan. 

Crítica:  A Freira (2018)

Divertido em sua essência, pouco assustador em seu resultado 

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