Não é todo mundo que consegue criar um universo expandido
nos cinemas. A Universal, por exemplo, falhou miseravelmente ao lançar A Múmia,
o primeiro de uma série de outros longas que se conectariam em uma obra que
uniria todos os personagens de monstros da marca, como o Drácula, Lobisomem etc. Depois do fracasso do filme protagonizado por Tom
Cruise, todo o planejamento foi jogado fora. Por outro lado, James Wan, um dos
mais competentes diretores dessa geração, teve visão de longo alcance. Ao criar
uma série de monstros e histórias arrebatadores nas aventuras do casal Ed e Lorraine Warren, nos maravilhosos Invocação do Mal 1 e 2, o diretor, ao lado do
seu time de roteiristas, planejou filmes derivados e que, apesar de não se
concentrarem em tramas baseadas em fatos, conseguem ser intensos justamente
pela construção narrativa que Wan tanto preza.
Depois de um medíocre Annabelle e de um bom Annabelle 2: A Criação do Mal, A
Freira surge para expandir ainda mais esse universo. Dirigido pelo competente
Corin Hardy, diretor de The Hallow, escrito por Gary Dauberman, um dos
roteiristas de I.T: A Coisa, e com a supervisão de Wan na produção do filme, é inegável
que The Nun é uma obra divertidíssima de horror.
A trama já começa voltando 20 anos antes da cronologia da
franquia original, durante os anos 1950, e apresenta um entregador encontrando
uma freira enforcada em um convento. Ele informa à igreja, que envia a noviça
Irene e o padre Burke ao encontro do jovem entregador. A partir disso, eles
pesquisam, estudam e, enfim, se deparam com um lugar mal assombrado.
A jornada, que já tem um espírito de histórias de detetive, ainda
apresenta elementos riquíssimos na construção de um universo palpável. A catedral,
por exemplo, é belíssima e, apesar de assustadora, consegue garantir algumas das melhores paisagens encontradas na franquia. É um trabalho de fotografia
primoroso que também consegue assustar, do mesmo modo que a trilha sonora
intensa, que surge aqui como um chamado do perigo. Reparem como ela sempre toca
quando um personagem desafia o antagonista ou quando entra em algum lugar proibido.
A trama, por outro lado, vai perdendo forças durante o seu
segundo ato que insiste em repetir todos os elementos já explorados na franquia
original. Cruzes revirando, personagens sendo acordados por rádios, freiras
sumindo entre os corredores, freiras surgindo atrás de espelhos, crianças
cuspindo coisas inesperadas e por aí vai. A sensação de repetição e de clichê é
tão gritante que beira o ridículo algumas vezes. Percebemos o susto 10 segundos
antes dele surgir. E aí mora o perigo do sono em um filme como esse.
Sua conclusão, felizmente, é um pouco mais corajosa. Há
sequências surpreendentemente tensas e, inclusive, há várias que lembram Castlevania e Silent Hill. Essas cenas, por sinal, possuem uma técnica
primorosa de movimento de câmera. O diretor literalmente nos coloca dentro da
ação, seja com ponto de vista subjetivo ou quando nos posiciona nos ombros dos
heróis. São divertidas e originais o suficiente para envolver o espectador na
tensão que o personagem se encontra. E os últimos segundos do filme são
extremamente eficientes, o que torna a obra um pouco mais inteligente que os dois Annabelle e
inferior somente aos filmes dirigidos por Wan.
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