Sejamos honestos. John Carpenter, diretor de Halloween, O
Enigma de Outro Mundo, Fuga de Nova York, Eles Vivem e tantos outros, é um
gênio da sétima arte. Sua capacidade para criar horror, medo e desespero entre
os seus personagens (e público) serve de inspiração até hoje para muitos
diretores que, mesmo distante do terror, compreendem que a tensão deve fazer
parte de uma história. Um desses nomes é David Gordon Green, diretor da comédia
Segurando as Pontas e do novo Halloween, que conta com o retorno da screem
queen (ou rainha do grito) Jaime Lee Curtis.
Na continuação, que se passa 40 anos após o original de
1978, o diretor opta por ignorar todas as sequências e assume que Michael Myers ficou preso
durante todas essas décadas. Depois de conseguir escapar, o psicopata vai atrás
daquela que conseguiu sobreviver ao massacre do primeiro filme. É uma
continuação como Pânico 4, que pode ser visto tranquilamente sem ter conferido
todos os outros que intercalam o primeiro e o último. Funciona por respeitar o
filme dirigido por Carpenter e por esquecer as bobagens lançadas
posteriormente.
E, apesar de ter a direção de um homem da comédia, o filme
funciona perfeitamente bem. É uma obra de horror que não perde tempo e mostra como
o vilão é uma das criaturas mais enigmáticas do cinema moderno. Ele é cruel,
sombrio, silencioso e completamente imprevisível. Suas ações são distintas de
outros assassinos do cinema, sendo mais calmo e paciente quando a sua missão é
matar. Isso incomoda o espectador e rende cenas filmadas com talento.
O plano sequência em que ele passeia pela rua, trocando de
armas e passando de uma vítima para outra, por exemplo, é de uma competência quase extinta
no cinema de horror. A câmera acompanha o seu andar calmo, faz um 360º,
mostra ele entrando em uma casa através de um espelho, depois pela sombra e,
finalmente, matando as suas vítimas como se estivesse em um abate. Essa cena,
por sinal, além da trilha musical arrepiante, presenteia o espectador com uma
bela dose de violência. É a essência máxima do gênero.
Escrito por Danny McBride, comediante parceiro de Green, o longa ainda consegue ser divertido, engraçado e, incrivelmente, encontra
espaço para desenvolver um subtexto sobre a força da mulher e a superação de
traumas antigos. Melhor que isso, o roteiro sabe a hora de assustar, entende
quando o gore é necessário e desenvolve os seus personagens de forma paciente. Não
que isso transforme o filme em uma obra chata. Pelo contrário, o público é
recompensado com cinema de qualidade, se tornando, então, um dos grandes filmes de
horror de 2018. Nem imagino o quão satisfeito está Carpenter, que, finalmente,
enterrou a franquia em paz.
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