Henri Papillon Carrière ficou preso durante 11 anos no lugar
batizado como Ilha do Diabo. Nesse período, não teve um dia em que ele não
pensou em escapar, já que havia sido condenado injustamente, segundo o registro
publicado em seu livro. Essa aventura rendeu uma versão cinematográfica em 1973
estrelada por Steve McQueen e Dustin Hoffman. Com Charlie Hunnam e Rami Malek
nos papeis principais da vez, o diretor Michael Noer e o roteirista Aaron Guzikowski
recontam a história se baseando mais no roteiro escrito por Dalton Trumbo do
que no próprio livro escrito por Henri.
Isso se deve a grande polêmica conspiratória que surgiu com o passar das
décadas, a qual Henri, protagonista de ambas as versões, foi acusado inúmeras vezes, logo
após a sua morte, de ter criado uma ficção e ter se apropriado da jornada de um
outro homem da prisão. Noer não toma partido desse caso e o torna mais palatável
para o século 21. Ele não questiona o protagonista e recria a versão anterior
com alguns toques mais sombrios.
O diretor mostra a imensa degradação dentro da terrível prisão
da Guiana Francesa e enfatiza um sofrimento emocional e corporal. Os personagens
sofrem durante os atos e, como pode ser visto em uma longa sequência do filme, o diretor nos
coloca naquela que é uma das mais difíceis cenas de se acompanhar. Esse momento,
por sinal, abre o filme e retorna posteriormente quando o herói está na
solitária de dois anos. É uma parte claustrofóbica muito bem fotografada, e
atuada por um Hunnam inspirado. O resultado: nos sentimos dentro da cela
durante os longos 20 minutos. É um desconforto que funciona e, felizmente,
desenvolve as motivações do personagem. Excelente mérito do roteiro de pontuar as condições brutais das vítimas.
Outro esmero do filme é o seu elenco. É inegável que o
diretor apresentou uma coragem em escalar astros de TV, que, apesar do talento inquestionável
da dupla, não ficam nem um pouco perto de McQueen e Hoffman. Por outro lado, eles
se esforçam e mostram uma amizade que transmite verdade e que garante a torcida
pela fuga. Malek oferece um Dega covarde e que vai ganhando força durante o
filme, enquanto que Hunnam mostra uma fisicalidade necessária e um olhar
intenso, provocativo e duvidoso. Depois de seu incrível trabalho com James Gray
em Z – A Cidade Perdida, Hunnam retorna e apresenta ser digno de todos
reconhecimentos nas premiações do ano que vem.
+ Z - A Cidade Perdida (2017) O Calcanhar de Aquiles encontrado na família
+ Z - A Cidade Perdida (2017) O Calcanhar de Aquiles encontrado na família
Papillon é um remake e uma nova adaptação do livro publicado
em 1969 e que, apesar de ter o seu final já divulgado por outras mídias, traz
toda a tensão necessária. Lado a lado de Buscando..., Papillon, com o apoio da
música melancólica, da fotografia obscura e dos astros esforçados, é uma das
obras mais competentes lançadas em 2018.
+ Buscando... (2018) Suspense eficaz mostra como ainda é possível criar tensão através da simplicidade
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