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Papillon (2018) | Suspense aposta nos astros para uma jornada brutal de sobrevivência


Henri Papillon Carrière ficou preso durante 11 anos no lugar batizado como Ilha do Diabo. Nesse período, não teve um dia em que ele não pensou em escapar, já que havia sido condenado injustamente, segundo o registro publicado em seu livro. Essa aventura rendeu uma versão cinematográfica em 1973 estrelada por Steve McQueen e Dustin Hoffman. Com Charlie Hunnam e Rami Malek nos papeis principais da vez, o diretor Michael Noer e o roteirista Aaron Guzikowski recontam a história se baseando mais no roteiro escrito por Dalton Trumbo do que no próprio livro escrito por Henri.

Isso se deve a grande polêmica conspiratória que surgiu com o passar das décadas, a qual Henri, protagonista de ambas as versões, foi acusado inúmeras vezes, logo após a sua morte, de ter criado uma ficção e ter se apropriado da jornada de um outro homem da prisão. Noer não toma partido desse caso e o torna mais palatável para o século 21. Ele não questiona o protagonista e recria a versão anterior com alguns toques mais sombrios.

O diretor mostra a imensa degradação dentro da terrível prisão da Guiana Francesa e enfatiza um sofrimento emocional e corporal. Os personagens sofrem durante os atos e, como pode ser visto em uma longa sequência do filme, o diretor nos coloca naquela que é uma das mais difíceis cenas de se acompanhar. Esse momento, por sinal, abre o filme e retorna posteriormente quando o herói está na solitária de dois anos. É uma parte claustrofóbica muito bem fotografada, e atuada por um Hunnam inspirado. O resultado: nos sentimos dentro da cela durante os longos 20 minutos. É um desconforto que funciona e, felizmente, desenvolve as motivações do personagem. Excelente mérito do roteiro de pontuar as condições brutais das vítimas.

Outro esmero do filme é o seu elenco. É inegável que o diretor apresentou uma coragem em escalar astros de TV, que, apesar do talento inquestionável da dupla, não ficam nem um pouco perto de McQueen e Hoffman. Por outro lado, eles se esforçam e mostram uma amizade que transmite verdade e que garante a torcida pela fuga. Malek oferece um Dega covarde e que vai ganhando força durante o filme, enquanto que Hunnam mostra uma fisicalidade necessária e um olhar intenso, provocativo e duvidoso. Depois de seu incrível trabalho com James Gray em Z – A Cidade Perdida, Hunnam retorna e apresenta ser digno de todos reconhecimentos nas premiações do ano que vem.

+ Z - A Cidade Perdida (2017) O Calcanhar de Aquiles encontrado na família

Papillon é um remake e uma nova adaptação do livro publicado em 1969 e que, apesar de ter o seu final já divulgado por outras mídias, traz toda a tensão necessária. Lado a lado de Buscando..., Papillon, com o apoio da música melancólica, da fotografia obscura e dos astros esforçados, é uma das obras mais competentes lançadas em 2018.

+ Buscando... (2018) Suspense eficaz mostra como ainda é possível criar tensão através da simplicidade

Crítica: Papillon (2018)

Suspense aposta nos astros para uma jornada brutal de sobrevivência

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